DeMaurice Smith e sua delirante aspiração política

A NFL voltou!

Impasses, discórdias, egos... tudo ficou para trás e um novo acordo trabalhista foi assinado com duração de 10 anos. Nestas negociações uma personagem apareceu mais que os outros players, isto porque sua função única e exclusiva era facilitar as conversas e criar um clima amistoso nas argumentações pró-jogadores. DeMaurice Smith, diretor executivo do sindicato dos atletas da NFL, ganhou a eleição para o cargo em 2009 somente para lidar com este imbróglio. Aproveitou o certame para se promover e aumentar seu coeficiente lobista, porém tropeçou nas próprias palavras e a prepotência está pronta para lhe servir de embaraço.

O dia 21 de Julho de 2011 foi marcado pelos especialistas que acompanharam de perto os detalhes do novo acordo como a data do fim das divergências, ponto inicial para o começo da temporada 2011 da NFL. Por um detalhe enorme, o sindicato decidiu adiar as conversas mesmo com a apresentação assinada pelos donos de franquia da liga; o novo contrato que discutiram por tanto tempo. Muitos jogadores se manifestaram contra esta decisão do seu órgão representativo e o falastrão Chad Ochocinco postou isto no seu Twitter, um resumo do sentimento da sua classe naquele momento:

@ochocinco os donos agiram com esperteza para ganhar uma percepção positiva do público e pressionar os jogadores para um acordo ruim mudando a negatividade pra cima de nós”

Smith é o responsável por isto.

Ao longo de 4 meses e meio o sindicato, em muitas situações, era visto como vítima já que a paralisação partiu dos donos que trancaram a liga (lockout). Em um mísero instante tudo mudou. A pressão de acertar logo o acordo transferiu-se para os jogadores e a sensação passada foi a de que o sindicato foi pego de surpresa com essa ação por parte dos donos. Mas, afinal, o que eles conversaram durante todo este tempo? Smith, advogado formado na Universidade Vírginia, não esperava tal movimento? Quem estava, de fato, no controle das negociações por trás das portas fechadas?

Além de receber um olé bonito, Smith não queria sair deste episódio por baixo. Sua restrita função era finalizar o acordo. Então pediu um tempo para analisar as entrelinhas do contrato, como se fosse um cara que pegou a história na metade do caminho e não soubesse de nada do que estava escrito no documento, para na segunda dia 25 fechar o acordo. Não é de se espantar que sua declaração após o encerramento das conversas saiu neste tom superior com objetivo de impor uma empáfia ridícula:

Sei que este processo foi muito longo desde daquele dia em Março [início do lockout]. Mas nossos caras permaneceram juntos quando ninguém pensava que isto fosse possível. E o football está de volta graças a isto”.

Dizer “... graças a mim...” pegaria muito mal.


O plano de usar o sindicato como plataforma política não deu certo, porém dá para enganar alguns e sua entrada como representante das “massas” pode concretizar-se. Ele é natural de Washington e atuou toda sua carreira na capital americana sempre em volta de políticos, criando laços em múltiplas instituições, o que fez dele um dos principais lobistas do distrito federal. Trabalhou nove anos no escritório do Procurador Geral dos Estados Unidos e passou um tempo também no Departamento de Justiça. Integrou a equipe de uma grande firma da cidade (Latham & Watkins) e fez parte da Patton Boggs, especializada em... lobby.

Smith, antes de chagar no sindicato, nunca mexeu com processos trabalhistas. Sua área sempre foi criminal, de influência ou mediar negociações entre grandes empresas. Por isso que no decorrer das negociações entre jogadores versus liga ele não se deu bem em vários pontos, principalmente naqueles que ganharam mais notoriedade.

O foco era jogar os torcedores contra os clubes e no episódio que 17 atletas (sem o envolvimento de Smith) conseguiram suspender o lockout em primeira instância, DeMaurice bradou contra o direito da NFL em revogar a decisão obtida. Com o funcionamento normal da liga e as negociações em andamento, haveria um favorecimento aos jogadores. A liga paralisada favorecia os donos.

Isto aconteceu em Maio e Smith afirmou “Primeira vez na história dos esportes que uma liga processa para que não haja jogo”. A verdade é que a NFL apenas procurou se defender do processo que sofreu. Smith tentou inverter os papéis buscando incitar um ódio dos fãs em cima das equipes.

Esta luta de “classes” inventada por Smith pegou mal até no órgão governamental mais pró-trabalhador que existe nos EUA. O NLBR (espécie de Ministério do Trabalho) ficou a favor da liga no caso da desintegração do sindicato como representante dos jogadores da NFL – que permitiu a ação dos 17 atletas. Esta foi uma grande derrota política para Smith já que cerca de 80% das decisões do NLBR são favoráveis aos empregados. Isto sem contar que a chefe da agência, Wilma Liebman, é democrata, mesmo partido e afiliação política de Smith.

Os democratas representam a esquerda liberal, os republicanos a direita conservadora. Quando o NLBR tinha como comandante um republicano, as decisões pendiam para o lado das corporações e empresas. Mas Liebman não teve escolha, posicionou-se com a razão e Smith registrou uma derrota histórica. As influências dele não funcionaram e foi pego de sobressalto, engoliu as palavras de ataque proferidas com um respaldo frouxo.

DeMaurice tem uma boa movimentação dentro do Partido Democrata e contribuiu financeiramente na campanha-2008 do atual presidente americano Barack Obama e foi um dos membros do comitê de transição. A ajuda não se restringiu ao cargo maior da república e financiou, naquele pleito, 3 senadores do PD e comitês democratas de Washington e Virgínia.


Só que Smith não é o único financiador desta história. Desde que Roger Goodell assumiu o cargo de comissário da NFL o lobby que a liga aplica no congresso federal aumentou consideravelmente. Pegando as eleições de três anos atrás como exemplo, agrupando o biênio 2006-2008, a NFL gastou cerca de US$ 1.45 milhões para aumentar sua influência em Washington.

Nas eleições de 2010 (câmara federal dos deputados, 37 vagas no senado federal, 38 governos estaduais e outras disputas locais) a NFL, em sua maioria, esteve do lado dos republicanos. Pegando aqueles que doaram mais que US$ 3 mil, chegam-se ao número de 46 – entre jogadores, donos e executivos da liga ou clubes. O PR recebeu US$ 457 mil enquanto o PD ganhou US$ 338 mil.

A estratégia de Smith fracassou em diversos pontos. Sim, o novo acordo foi aprovado e agrada jogadores e donos com pontos que beneficiam ambos. Contudo Smith queria mais, ser o grande salvador da NFL. Tentou criar um clima de animosidade entre os atletas e seus patrões. Numa reportagem feita pela revista do jornal “The New York Times”, ele é citado por dizer a um grupo de jogadores, em Janeiro deste ano, que eles estavam numa guerra.

Convidado para fazer um discurso na Universidade de Maryland para os graduados 2010-11 em Maio deste ano, Smith confundiu o púlpito que estava. Falou poucas palavras de encorajamento para os jovens diplomados e deixou levar pelo palanque e proferiu termos indiretos contra a liga e não deixou passar a oportunidade de mostrar seu lado político – levando os alunos a um constrangimento digno de vergonha alheia.

Seu ciclo chega ao fim, pois não há nada mais para fazer no sindicato dos atletas da NFL. Nesta maratona a linha de chegada não é a mesma da largada e Smith está num diferente ponto em sua trajetória rumo ao mundo político dos EUA. Pelo menos tentou vingar sua personalidade e abraçar a chance que teve de estar na vitrine da mídia por um extenso período.

2012 vêm aí, ano de eleição, e pode ser que ele arrisque se candidatar ou esperar um convite para ingressar num departamento qualquer. Um teste para ver se o seu lobby ainda funciona após esse desgaste.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Getty Images
© 2 Doug Benc / Getty Images
© 3 Rob Carr / Getty Images

Nenhum comentário:

Postar um comentário