Ainda resta uma esperança


O comissário da MLB, Bud Selig [foto acima], não enxergou outra alternativa a não ser tomar controle de uma das mais importantes franquias da sua liga. O Los Angeles Dodgers, desde o último dia 20, está nas mãos da MLB e ontem Selig anunciou que J. Thomas Schieffer, político e ex-presidente do Texas Rangers, vai assumir as operações diárias do clube.

Este movimento é mais um capítulo da novela Dodgers, prestes a ter o final de uma fase e o início de outra. Selig precisou intervir após o dono do time, Frank McCourt, pegar um empréstimo pessoal no valor de US$ 30 milhões com a TV FOX de Los Angeles, detentora dos direitos de transmissão dos Dodgers. O dinheiro em questão seria para pagar a folha salarial deste mês. Porém há suspeita que a grana iria ser destinada a fins pessoais de Frank e como complemento para comprar definitivamente a parte da franquia que pertence a sua ex-esposa Jamie. A ação drástica de Selig veio para impedir mais Cambalacho (1).

Um episódio marcante e que mostrou os podres da organização sob o comando de Frank foi o divórcio do casal. Jamie, após ser demitida do cargo de CEO, entrou com o pedido de separação e exigiu uma montanha enorme de dinheiro (pensão), a metade dos Dodgers e outros agrados. Em Dezembro de 2010 o juiz do caso, Scott Gordon, invalidou um acordo pós-nupcial que dividia o clube entre ambos e declarou Frank como único dono. Porém o lado de Jamie não desistiu e luta pela sua parte judicialmente até quando não couber mais recurso.

Ao ficar sabendo da intervenção da MLB, Jamie num sutil e Suave Veneno (2) declarou: “Como dona de 50% do Los Angeles Dodgers, eu recebo e apoio as ações do comissário para trazer a necessária transparência e direção para a franquia e para os fãs dos Dodgers”.


Já a reação de Frank [foto acima] foi Rebelde (3). Ele, talvez acostumado a viver em tribunais, disse que vai processar a MLB. O ponto central da revolta é insustentável e não vai resultar em algo favorável. Os advogados de Frank irão construir os principais argumentos do processo questionando a ação movida contra os Dodgers, rotulando como perseguição. Será usado o exemplo do New York Mets que passa por um momento delicado e cheio de problemas financeiros, porém é justamente aí que o caso cai por terra.

Fred Wilpon, dono dos Mets, gasta todo dinheiro que o clube arrecada para pagar as dívidas e quitar credores. Ele está terminando uma venda de parte da franquia para arrecadar mais dinheiro e sanar débitos. Frank, por outro lado, não pretende ceder qualquer fração da franquia (nem pra sua ex-esposa), não busca tirar do vermelho o caixa do clube e usa os Dodgers como um banco particular, gastando em despesas pessoais o dinheiro que a franquia produz.

Frank tem direito em buscar sua razão, afinal Os Ricos Também Choram (4), mas a saída dele é inevitável. Os fãs não o querem mais e é visto como O Homem Proibido (5). A franquia que uma vez foi sinônimo de bons públicos no estádio – a primeira a chegar a marca de 3 milhões, alcançada em 1978 – não tem mais apelo e os torcedores, por maior que seja a paixão, não estão se dedicando ao clube como deveriam. Claro, o time em campo não é dos melhores, cada ano que passa o investimento no elenco diminui, o estádio não recebe atualizações e os preços em lanchonetes e estacionamento são caríssimos. Assim, pela primeira vez em 51 anos que o Los Angeles Angels poderá ter um público total maior em seu estádio que os Dodgers.

Nunca é Tarde Demais (6) pra Começar de Novo (7) e Selig tenta achar um novo dono, alguém que possa comprar a franquia e administrá-la com o cuidado que merece. O comissário (ainda) não admitiu, porém pode ter sido um erro de sua parte em permitir que Frank comprasse os Dodgers em 2004 da News Corp. (conglomerado de órgãos da mídia) por US$ 399 milhões. Talvez não tenha sido feito um bom trabalho de casa e pesquisado se realmente Frank era abastado o suficiente para comandar um clube de beisebol na MLB. Como são águas que passaram, o objetivo é resolver a enorme dívida que os Dodgers têm – US$ 430 milhões.

Embora tenha ocorrido toda esta Fatalidade (8) a revista Forbes, especializada em economia, estimou os Dodgers, em um estudo publicado em Março deste ano, como a terceira franquia mais valiosa da liga: US$ 800 milhões; atrás do Boston Red Sox e New York Yankees. De 2004 pra cá o preço estipulado do clube só cresceu e em 7 anos dobrou de valor.

Contudo a administração foi de mal a pior. No caso do divórcio, se tornou público alguns gastos supérfluos do casal McCourt, assim como a contratação de dois dos seus quatro filhos em cargos de diretores (recebendo sem trabalhar) e uma evasão de US$ 108 milhões não declarados no imposto de renda. E o diplomata J. Thomas Schieffer [foto abaixo] então é visto como O Salvador da Pátria (9). Ele traz experiência para os Dodgers, pois exerceu o cargo de presidente dos Rangers por 8 temporadas (de 1991 à 1998). Sua função é pôr ordem nas contas e tudo o que for gasto acima de 5 mil dólares tem que ser reportado para a MLB.


Os torcedores sabem que pior não fica, então acreditam e apóiam incondicionalmente a entrada da liga na administração diária dos Dodgers. É triste ver um time de Los Angeles nesta situação, precisar que a autoridade maior da MLB se intrometa nos negócios da equipe para que ela não chegue num lugar indesejado.

Após a turbulência, o que eles esperam é um Final Feliz (10).



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Lisa Blumenfeld / Getty Images
© 2 Kevork Djansezian / Getty Images


*As novelas citadas neste texto:
(Título) Ainda Resta Uma Esperança, de Júlio Atlas para a TV Excelsior – 1965
(1) Cambalacho, de Silvio de Abreu para a Rede Globo – 1986
(2) Suave Veneno, de Aguinaldo Silva para a Rede Globo – 1999
(3) Rebelde, produzida pela Televisa (México) e exibida no Brasil pelo SBT – 2004
(4) Os Ricos Também Choram, original de Inés Rodena, adaptada no Brasil pelo SBT – 2005
(5) O Homem Proibido, de Teixeira Filho para a Rede Globo - 1982
(6) Nunca é Tarde Demais, de André José Adler para a TV Bandeirantes – 1968
(7) Começar de Novo, de Antônio Calmon e Elizabeth Jhin para a Rede Globo – 2004
(8) Fatalidade, de Oduvaldo Vianna para a TV Tupi – 1965
(9) Salvador da Pátria, de Lauro César Muniz para a Rede Globo – 1989
(10) Final Feliz, de Ivan Ribeiro para a Rede Globo - 1982

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