Uma criança brasileira tem o sonho de ser jogador de futebol profissional para não somente atuar em grandes times e conquistar importantes
títulos, mas justamente ter uma profissão. Milhões de reais almejados para
ajudar a família sair da vida precária e difícil, transformação
para vida de luxo e glamour.
Um garoto da República Dominicana tem sonho parecido, as
diferenças são o esporte (beisebol) e o nome do dinheiro (dólar).
No próximo dia 13 será lançado nos Estados Unidos – e também
online – o documentário “Ballplayer: Peloteros”, que tem como produtor
executivo o atual treinador do Boston Red Sox, Bobby Valentine, e narração do
ator John Leguizamo. O filme conta a história de dois adolescentes dominicanos
que buscam espaço na MLB.
Note: adolescentes. Assim como no futebol brasileiro, onde
os talentos são sugados cada vez mais jovens e sendo explorados por
empresários, na República Dominicana os olheiros da MLB observam meninos de 16
anos, e esta tem de ser a idade, pois mais jovem não dá devido regras da liga e
mais velho é considerado isto, muito velho para ser alvo de aposta e contrato.
Surge, assim, um problema grave que acontece no país
caribenho e que o documentário aborda: a falsificação de idade. Jovens que
dizem ter 16 anos, mas na verdade tem 2, até 3 anos a mais. Alguns, para provar
que realmente tem 16 anos, mostram fotos de recentes aniversários, sempre ao
lado do bolo com as velas em cima dele representando uma espécie de contagem
progressiva de idade.
“Ballplayer: Peloteros” explora este lado obscuro do
beisebol na República Dominicana, mostrando os comportamentos escusos dos
nativos e de representantes dos clubes da MLB. Corrupção, tudo para conseguir
levar aos EUA o próximo talento do esporte, vulgo máquina de fazer dinheiro.
Não há “santinho” nesta história. Os empresários dominicanos,
que recebem 30% caso seu jogador assine com um clube da MLB, forjam datas de
nascimento e cometem outro ilícito: induz garotos a tomar esteroides para “bombar”
o corpo. Eis então mais um problema que o documentário discute.
Por outro lado, “Ballplayer: Peloteros” mostra um lado
humano fácil de identificar. Os dois garotos protagonistas, Miguel Sano e Jean
Carlos Batista, são de bairros paupérrimos. Lutam para conseguir uma refeição
diária, passam por dificuldades básicas. A saída da miséria é ir para os EUA e
jogar beisebol. É a saída. Não atingir esta meta trará um futuro obscuro, pois
deixar a escola de lado torna “fundamental” para se dedicar ao jogo e ter seu
nome chamado por uma franquia.
Quantos garotos brasileiros fizeram isto? Ou fazem neste
exato momento? Largam a escola, fogem de casa e tentam vaga num time grande
de seu estado para poder ter uma profissão. Talvez não tenham talento para integrar
um grande time e conquistar aqueles importantes títulos. Logo um contrato com
uma equipe búlgara, belga, ou qualquer que seja, é a meta para juntar dinheiro e sustentar sua família, levar alivio ao bairro pobre da
cidade pequena.
O documentário foi filmado em 2009 e um dos garotos está na
MLB: Miguel Sano (foto acima). Ele é uma das 20 melhores promessas da liga, após
receber bônus de 3,1 milhões de dólares ao assinar com o Minnesota Twins. Hoje
Sano tem 18 anos.
Como no Brasil, são poucos os que conseguem se
profissionalizar. Como no Brasil, são muitos os que fazem sucesso no grande
palco. Isto creditado a qualidade dos jogadores e empenho necessário para ter o
privilégio de receber uma grana por ser um atleta. Não é qualquer um que é
chamado nas peneiras em ambos os países. Fora a habilidade, é preciso dedicação,
compromisso.
A República Dominicana recebe uma atenção especial da MLB
por ser um celeiro de craques. Na temporada 2012, 11% dos jogadores inscritos na
liga são dominicanos. Por coincidência, 11% (8 de 70) é o número de jogadores
do país que estarão atuando no Jogo das Estrelas da MLB que acontecerá no
próximo dia 10 (terça) em Kansas City:
- Robinson Canó (New York Yankees)
- Adrian Beltre (Texas Rangers)
- Jose Bautista (Toronto Blue jays) – saiba mais sobre o
jogador no artigo “Jose Bautista escolheu esperar”
- David Ortiz (Boston Red Sox)
- Fernando Rodney (Tampa Bay Rays)
- Rafael Furcal (Saint Louis Cardinals)
- Melky Cabrera (San Francisco Giants)
- Starlin Castro (Chicago Cubs)
Destes, seis são titulares ou na Liga Americana ou na Liga
Nacional, uma porcentagem de 33% (6 de 18). Número expressivo, levando também em
consideração que estes seis foram escolhidos pelos torcedores em votação.
Todos têm histórias cativantes, vamos conhecer a jornada até
a MLB de três deles.
DAVID ORTIZ
Ortiz enfrentou dois problemas citados aqui: acusado de usar
esteroides e de mentir sobre sua idade. Nada comprovado.
Assinou com o Seattle Mariners no limite do considerado
padrão, 10 dias antes de completar 17 anos. Tem um currículo rico na MLB e faz
questão de ajudar jovens garotos do seu país a chegar na liga sem esquecer os
estudos, tendo assim uma segunda opção se porventura o primeiro plano falhar.
Esta vontade em ajudar começou logo cedo em sua carreira e
Ortiz, em 1991, conheceu uma futura estrela do seu país: Robinson Canó. Na
época Ortiz estava nos Twins, com 20 e poucos anos; Canó um adolescente. Agora
estão em lados opostos de uma das rivalidades mais intensas da MLB – Ortiz nos
Red Sox e Cano nos Yankees – mas a amizade é forte e o Big Papi (Ortiz) mantém
sua atitude e honra o apelido.
ROBINSON CANÓ
Canó desfrutou de vantagens em sua vida: pai arremessador
profissional (com curta carreira na MLB) e viver/estudar por três anos nos EUA,
da sétima até a nona série do ensino médio. Isso facilitou o caminho de Canó
até a liga, contando com seu pai fazendo a vez de treinador, arremessando as
bolas para o filho rebater.
O jogador é presença constante na periferia da sua cidade:
San Pedro de Macoris. Lugar muito carente, que até pouco tempo não tinha
ambulância para atender a população, por exemplo. Não tinha porque Canó
recentemente doou 6 veículos para a prefeitura. San Pedro de Macoris é famosa por revelar talentos para a MLB: total de 76 jogadores nascidos na
cidade jogaram/jogam na liga – a população (2012) é de 263 mil habitantes.
Sammy Sosa e Alfonso Soriano são de lá.
ADRIAN BELTRE
Começou “tarde” no beisebol, com 12 anos. Logo se destacou e
assinou com os Dodgers em 1994, ganhando bônus de 23 mil dólares. Mas este
acordo criou um grande problema, pois o dominicano tinha 15 anos.
Beltre não forjou sua idade, apenas não sabia que existia
esta regra de assinar com apenas 16 anos. Os Dodgers pensaram que Beltre estava
no limite permitido. A franquia foi punida por um ano e os olheiros do clube na
República Dominicana foram suspensos. Beltre nada sofreu e no ano seguinte
entrou na MLB defendo o próprio Dodgers.
(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Casey Becker / de “Ballplayer: Peloteros”
© 2 Tony Farlow / MiLB Media
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