Invalidez é um termo forte, mas qual é o atual significado de Richard Hamilton no Detroit Pistons? Nos últimos seis jogos, por decisão do treinador John Kuester, ele sequer entrou um minuto em quadra. Está isolado, um líder inativo. Depois de anos gloriosos sua cota com o time acabou. Chegou a hora de partir e renovar as energias.
Até a data limite para trocas (24/02) Hamilton estará em outra cidade, vestindo outro uniforme. Sua relação com a nova comissão técnica não tem sido das melhores e fica claro que ele não faz parte do plano de reconstrução do elenco. Rumores registravam que poderia ser envolvido numa troca com dois times (Denver Nuggets e New Jersey Nets), porém o dono dos Nets, Mikhail Prokhorov, disse que não tem mais interesses em Carmelo Anthony (Nuggets). Com o principal negociante fora, o futuro de Hamilton é incerto.
Triste é vê-lo num semblante tão melancólico. Sua carreira é recheada de vitórias, com resultados e números que não imaginava alcançar. Veio do nada, chegou ao topo e agora o declínio o chama. Este é o final de carreira de um ícone da NBA do século XXI, na última estrada que o levará ao salão onde os grandes se encontram.
A Perspectiva do Tempo
A iniciação de Hamilton no basquete foi tarde. Aos 14 anos começou a jogar pelo time da sua escola e imediatamente chamou a atenção pelo controle de bola acima da média. Alguns campeonatos depois percebia outras características próprias do seu jogo: agilidade e rápido movimento no arremesso. Tudo isso moldado na sua cidade natal de Coatesville, Filadélfia.
Sua fama se espalhou e universidades acompanhavam os passos dele. O adolescente foi ganhando confiança e dizia aos colegas: “Um dia vou jogar na NBA”. Claro que eles riram; "Como um magricela do interior do estado da Pensilvânia vai jogar na maior liga do mundo?". Sua resposta: “Irei surpreender todos vocês”. Seu pai acreditava e fazia Hamilton participar de todas as clínicas de basquete possíveis para aprimorar seu jogo.
Quando o momento de escolher a universidade se apresentou, pensamentos negativos surgiram. Junto vieram as energias positivas e a confusão tomou conta da sua cabeça. A Connecticut era a que mais tinha lhe agradado, apesar de não ter gostado do ambiente do campus. Porém ao ver um jogo in loco, sua posição se firmou e pensou: “Se eu não chegar na NBA, isto será o máximo que eu posso conseguir”.
Num primeiro instante aqueles comentários negativos o atormentavam (“Se eu não chegar na NBA...”). Ao entrar no time da UConn a responsabilidade aumentou, já que ele iria substituir Ray Allen, muito popular com os Huskies. Inesperado ou não, Hamilton administrou bem a situação e foi o cestinha do time no ano de novato. A adaptação foi boa e as conquistas despontavam: duas vezes seguida MVP da Conferência Big East, campeão e MVP do Final Four – 1999.
O Equilíbrio do Tempo
No mesmo ano que ganhou o título da NCAA, Hamilton entra no draft. Com a sétima escolha, o Washington Wizards fica com o jogador e o duvidoso se concretiza. A satisfação bateu forte; primeira reação. Mas algo passava por sua mente, algo lhe dizia: “você pode mais, basta se esforçar”.
Estar na NBA é um sonho e ele queria transformá-lo em possibilidades de novos horizontes. Relembrando sua caminhada o fez perceber que o acaso não traria nada, era necessário empenho e trabalho para ser um nome de destaque entre os melhores.
Washington foi um aprendizado. Muitas mudanças no elenco, treinadores... até o dono resolveu jogar! Hamilton teve o prazer de ser companheiro de Michael Jordan e dividir a quadra com o melhor jogador de basquete de todos os tempos. Jordan tinha em Hamilton um companheiro fiel no desenvolvimento da equipe e ele era o principal rival no duelo de arremessos após os treinos. Em uma oportunidade os dois duelavam valendo US$ 100 doláres a cesta convertida. Hamilton ganhava por US$ 1000 doláres e o ônibus dos jogadores estava partindo. Jordan deu uma ordem para esperar um pouco. Uma hora depois o ônibus foi autorizado a ir; Jordan reverteu o placar e venceu o duelo.
Aquilo era didático para Hamilton; tudo observado nos minuciosos detalhes. Em algum momento da sua carreira ele iria aplicar todo o conhecimento absorvido. Isto aconteceu quando ele foi transferido para o Detroit Pistons em 2002.
O Deleite no Tempo
Quando a responsabilidade aumentou, com ela veio a diversão e a alegria. Junto com outras estrelas, Hamilton fez história em Detroit. Foram incríveis seis finas seguidas da Conferência Leste (de 2003 a 2008) e um título da NBA (2004).
O camisa 32 tornou-se um dos favoritos dos fãs, assim como sua máscara, usada com o propósito de proteger o nariz de três fraturas ocorridas na temporada 2003-04. Mesmo não precisando usá-la após o reparo ficar completo, Hamilton continuou com a máscara que virou marca registrada, símbolo de dedicação. Muitos torcedores queriam comprar, mas o produto não estava à venda.
Por oito temporadas consecutivas ele foi o cestinha dos Pistons. Em 2008 ultrapassou o lendário Isiah Thomas e assumiu o posto de maior pontuador da história do clube. Participou de três Jogo das Estrelas (2006, 2007 e 2008). Foi destaque, uma das faces da NBA e desfrutou todas as coisas que o sucesso lhe proporcionou.
Mas não fez isso sozinho. Sempre esteve rodeado de pessoas, aquelas que acreditaram nele e se opuseram as críticas que ouvia na adolescência - diziam que ele não conseguiria, lembra? Lá estava Hamilton aproveitando o máximo que podia: “Estar na associação permite que eu conheça todo tipo de gente e visite lugares incríveis. Quero que meus amigos desfrutem disto também”.
O Melhor do Tempo Ruim
Hoje o que existe são memórias, lembranças da época de glórias e sucesso. O ostracismo vivido no presente não deve machucar o que está por vir. Próximo de completar 33 anos (14 de Fevereiro) Hamilton pode ajudar muito time na NBA, aplicando sua experiência e exercendo o que aprendeu.
Impossível imaginar o que passa no seu íntimo, aceitar que o competitivo jogador de ontem não é utilizado com frequência que deseja. Entretanto os dias passam para todos, isto é fundamental que se entenda. Um breve olhar para trás não o transformará em estátua de sal, mas lhe fará lembrar a gloriosa e incrível corrida que percorreu num trajeto não em círculos e sim direcionado para o norte.
A idade bate à porta, o cansaço entra sem ser convidado e a fadiga faz morada. Lutar contra estas coisas é inútil. Sábio é lidar com elas, usar a seu favor. Importante é avançar, ser positivo e progressista, porque os ponteiros não param de contar os segundos que passam. Já foi dito por aí:
“O tempo é um ponto de vista dos relógios”
Mário Quintana
Até a data limite para trocas (24/02) Hamilton estará em outra cidade, vestindo outro uniforme. Sua relação com a nova comissão técnica não tem sido das melhores e fica claro que ele não faz parte do plano de reconstrução do elenco. Rumores registravam que poderia ser envolvido numa troca com dois times (Denver Nuggets e New Jersey Nets), porém o dono dos Nets, Mikhail Prokhorov, disse que não tem mais interesses em Carmelo Anthony (Nuggets). Com o principal negociante fora, o futuro de Hamilton é incerto.
Triste é vê-lo num semblante tão melancólico. Sua carreira é recheada de vitórias, com resultados e números que não imaginava alcançar. Veio do nada, chegou ao topo e agora o declínio o chama. Este é o final de carreira de um ícone da NBA do século XXI, na última estrada que o levará ao salão onde os grandes se encontram.
A Perspectiva do Tempo
A iniciação de Hamilton no basquete foi tarde. Aos 14 anos começou a jogar pelo time da sua escola e imediatamente chamou a atenção pelo controle de bola acima da média. Alguns campeonatos depois percebia outras características próprias do seu jogo: agilidade e rápido movimento no arremesso. Tudo isso moldado na sua cidade natal de Coatesville, Filadélfia.
Sua fama se espalhou e universidades acompanhavam os passos dele. O adolescente foi ganhando confiança e dizia aos colegas: “Um dia vou jogar na NBA”. Claro que eles riram; "Como um magricela do interior do estado da Pensilvânia vai jogar na maior liga do mundo?". Sua resposta: “Irei surpreender todos vocês”. Seu pai acreditava e fazia Hamilton participar de todas as clínicas de basquete possíveis para aprimorar seu jogo.
Quando o momento de escolher a universidade se apresentou, pensamentos negativos surgiram. Junto vieram as energias positivas e a confusão tomou conta da sua cabeça. A Connecticut era a que mais tinha lhe agradado, apesar de não ter gostado do ambiente do campus. Porém ao ver um jogo in loco, sua posição se firmou e pensou: “Se eu não chegar na NBA, isto será o máximo que eu posso conseguir”.
Num primeiro instante aqueles comentários negativos o atormentavam (“Se eu não chegar na NBA...”). Ao entrar no time da UConn a responsabilidade aumentou, já que ele iria substituir Ray Allen, muito popular com os Huskies. Inesperado ou não, Hamilton administrou bem a situação e foi o cestinha do time no ano de novato. A adaptação foi boa e as conquistas despontavam: duas vezes seguida MVP da Conferência Big East, campeão e MVP do Final Four – 1999.
O Equilíbrio do Tempo
No mesmo ano que ganhou o título da NCAA, Hamilton entra no draft. Com a sétima escolha, o Washington Wizards fica com o jogador e o duvidoso se concretiza. A satisfação bateu forte; primeira reação. Mas algo passava por sua mente, algo lhe dizia: “você pode mais, basta se esforçar”.
Estar na NBA é um sonho e ele queria transformá-lo em possibilidades de novos horizontes. Relembrando sua caminhada o fez perceber que o acaso não traria nada, era necessário empenho e trabalho para ser um nome de destaque entre os melhores.
Washington foi um aprendizado. Muitas mudanças no elenco, treinadores... até o dono resolveu jogar! Hamilton teve o prazer de ser companheiro de Michael Jordan e dividir a quadra com o melhor jogador de basquete de todos os tempos. Jordan tinha em Hamilton um companheiro fiel no desenvolvimento da equipe e ele era o principal rival no duelo de arremessos após os treinos. Em uma oportunidade os dois duelavam valendo US$ 100 doláres a cesta convertida. Hamilton ganhava por US$ 1000 doláres e o ônibus dos jogadores estava partindo. Jordan deu uma ordem para esperar um pouco. Uma hora depois o ônibus foi autorizado a ir; Jordan reverteu o placar e venceu o duelo.
Aquilo era didático para Hamilton; tudo observado nos minuciosos detalhes. Em algum momento da sua carreira ele iria aplicar todo o conhecimento absorvido. Isto aconteceu quando ele foi transferido para o Detroit Pistons em 2002.
O Deleite no Tempo
Quando a responsabilidade aumentou, com ela veio a diversão e a alegria. Junto com outras estrelas, Hamilton fez história em Detroit. Foram incríveis seis finas seguidas da Conferência Leste (de 2003 a 2008) e um título da NBA (2004).
O camisa 32 tornou-se um dos favoritos dos fãs, assim como sua máscara, usada com o propósito de proteger o nariz de três fraturas ocorridas na temporada 2003-04. Mesmo não precisando usá-la após o reparo ficar completo, Hamilton continuou com a máscara que virou marca registrada, símbolo de dedicação. Muitos torcedores queriam comprar, mas o produto não estava à venda.
Por oito temporadas consecutivas ele foi o cestinha dos Pistons. Em 2008 ultrapassou o lendário Isiah Thomas e assumiu o posto de maior pontuador da história do clube. Participou de três Jogo das Estrelas (2006, 2007 e 2008). Foi destaque, uma das faces da NBA e desfrutou todas as coisas que o sucesso lhe proporcionou.
Mas não fez isso sozinho. Sempre esteve rodeado de pessoas, aquelas que acreditaram nele e se opuseram as críticas que ouvia na adolescência - diziam que ele não conseguiria, lembra? Lá estava Hamilton aproveitando o máximo que podia: “Estar na associação permite que eu conheça todo tipo de gente e visite lugares incríveis. Quero que meus amigos desfrutem disto também”.
O Melhor do Tempo Ruim
Hoje o que existe são memórias, lembranças da época de glórias e sucesso. O ostracismo vivido no presente não deve machucar o que está por vir. Próximo de completar 33 anos (14 de Fevereiro) Hamilton pode ajudar muito time na NBA, aplicando sua experiência e exercendo o que aprendeu.
Impossível imaginar o que passa no seu íntimo, aceitar que o competitivo jogador de ontem não é utilizado com frequência que deseja. Entretanto os dias passam para todos, isto é fundamental que se entenda. Um breve olhar para trás não o transformará em estátua de sal, mas lhe fará lembrar a gloriosa e incrível corrida que percorreu num trajeto não em círculos e sim direcionado para o norte.
A idade bate à porta, o cansaço entra sem ser convidado e a fadiga faz morada. Lutar contra estas coisas é inútil. Sábio é lidar com elas, usar a seu favor. Importante é avançar, ser positivo e progressista, porque os ponteiros não param de contar os segundos que passam. Já foi dito por aí:
“O tempo é um ponto de vista dos relógios”
Mário Quintana
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
© 1 Reuters
3 comentários:
Ele vai ser muito bem vindo em Indiana hahaha
Caso o Mimami queira melhorar o elenco para uma possível conquista, seria uma bela aposta. O time de Lebron precisa de mais do que três super jogadores, precisa de um time.
Paz,
Excelente texto. Parabéns!
Fraternalmente,
Marcelo
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