Graduação Revista

Quem tem a chance de escolher uma profissão, uma carreira, encara um dia corriqueiro de trabalho com paixão, com dedicação. Kevin Garnett, ala do Boston Celtics, expõe este seu lado ao passar pelas quadras da NBA energizando seus companheiros com palavras de encorajamento que canalizam a adrenalina do momento para explodir quando houver necessidade de um “turbo extra”. Ele também usa da mesma energia para travar as ações do adversário com falas psicológicas para tirá-lo do prumo e desabilitar as ações contrárias.

Esta imagem os fãs da NBA conhecem bem. Quantas e quantas vezes Garnett é flagrado pelas câmeras de TV no mais alto do seu grito agindo como se fosse um motivador / desmotivador ambulante. Sua participação em cada jogo ultrapassa os limites da quadra e tem uma sensível responsabilidade fora dela. Ao observar seu papel longe das quatro linhas se percebe o quanto ele é fundamental para muita gente.

Em 1997, uma das mais importantes revistas semanais dos EUA (Newsweek) projetou quem seriam as 100 pessoas mais influentes da década que iria iniciar (2000-2009). Garnett estava na lista entre grandes celebridades e seu perfil foi definido da seguinte forma:

Kevin Garnett, 20 anos. Um dos únicos sete jogadores a sair do ensino médio direto para a NBA, Garnett se posiciona para ser o melhor atleta da sua geração. E mais: ele é um cavalheiro

Newsweek, “The Century Club” Ed. Abril 1997


O que é preciso notar é que a publicação estava falando das pessoas mais influentes e não de atletas. Foi uma projeção correta, pois KG já fazia muito pelo próximo e sua natureza o levava a fazer cada vez mais e mais.

O começo de tudo foi dentro do lar. Criado somente pela mãe, Garnett, assim que atingiu a maioridade, assumiu a paternidade da sua irmã mais nova. Um ano depois ele entrava no basquete profissional e a vida o levou à Minnesota para jogar pelos Timberwolves. Lá ele abraçou o clube se tornando a cara da franquia.

Ao firmar um longo contrato com Garnett em 1998 (126 milhões de dólares por 6 anos), os Timberwolves ficaram numa situação delicada já que não havia mais condições de manter outros talentosos jogadores do elenco ou contratar outros atletas de alto nível. Na época ele disse: “Muitos tendem a fugir quando as coisas estão ruins. Eu não sou assim”.


Por anos ele era o responsável por todas as coisas em Minnesota; não havia ajuda, era o que chamam do “show de um homem só”. Depois de muitas primaveras, os Timberwolves adquiriram dois bons reforços para o campeonato 2003-04, os armadores Latrell Sprewell e Sam Cassell. O “monstro de três cabeças”, apelido do trio, levou a equipe até as finas da Conferência Oeste (perdeu para o Los Angeles Lakers) e KG ficou com o troféu de MVP da temporada regular.

Neste período, o então veterano Cassell experimentou novos ares. Depois de ter conquistado dois títulos com o Houston Rockets, o armador não hesitava em falar que os Wolves tinham um dos melhores entrosamentos em toda associação e que o responsável por isso era Garnett. Cassell conta que tanto ele quanto Sprewell foram extremamente bem recebidos no elenco e ambos viram como é que se lidera um time. Cassell depois se juntou a KG nos Celtics da temporada 2007-08 quando foram campeões da NBA. O armador credita o renascimento da paixão pelo basquete à Garnett. Vê-lo treinar e empregar tudo de si para o esporte fez com que Cassell criasse dentro de si o desejo de ser treinador – hoje ele é assistente de Flip Saunders no Washington Wizards.

Quem convive com KG se contamina mesmo. Ele tem um poder de persuasão enorme e mesmo rodeado de potenciais membros do Hall da Fama como Paul Pierce, Ray Allen e agora Shaquille O´Neal, o líder do grupo é KG, peça essencial para o sucesso dos Celtics. Nesta pré-temporada da NBA Pierce já afirmou que para o time avançar com competitividade ao longo do campeonato, é preciso ter um Garnett saudável, mais presente em quadra do que no departamento médico.

Quando sua condição física está ideal, ele é uma força no garrafão de difícil marcação. Tem habilidade no jogo de costas para cesta, recebendo dupla marcação, no jogo individual, no arremesso de média e longa distância, no controle da bola... Sem mencionar seu jogo defensivo, um dos melhores da associação.

Até que ele pode não ser o melhor ala de força da sua geração; títulos dão a virtual honraria a Tim Duncan do San Antonio Spurs. Porém esta é uma eterna, ríspida e agradável discussão que os torcedores da NBA travam. Não tem problema, outras honrarias ficam com Garnett.


Ele não fez faculdade, não tem diploma. Só que a vida lhe deu uma graduação: a de viver pelo outro e ajudá-lo nas ocasiões que preciso for. A projeção da Newsweek acertou e ele passou +10 anos influenciando quem está ao seu lado, quem está longe, quem está distante... Em situações nas quais ele não pode jogar, sua participação no banco de reservas e tão intensa – ou maior – do que se ele estivesse em quadra. O fato de estar com terno ao invés de regata não o impede de motivar seus jogadores e desmoralizar os adversários. A paixão não o deixa calar.

A idade chega, é inevitável. Hoje ele tem 34 anos e talvez o apelido “The Kid” (“O Garoto”) não lhe sirva mais. Engano. Garnett põe suas forças e empenho ao nível máximo nos Celtics para conseguir sempre mais um resultado positivo. Se não forem vitórias, que seja ao menos uma derrota digna de quem lutou e não se entregou. Em recente entrevista à rádio WEEI de Boston, Garnett definiu em algumas palavras seu pensamento e quem ele é deveras:

Eu me sinto velho, mas apenas pelo fato de ter jogado por muitos anos. Quando se trata em competir, estar em forma, ter paixão... nada destas coisas faltam em mim




(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Jim Rogash / Getty Images

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