Uma Diferente Atmosfera

Eu gosto de arremessar no grande palco. Estar na MLB é uma honra única, mas quando se tem a oportunidade de atuar na pós-temporada, se percebe que isto é que importa. É por esta razão que jogamos durante todo ano. Eu aproveito e procuro me divertir

Assim Cliff Lee (foto acima), arremessador do Texas Rangers, define como são os playoffs para o jogador que em 8 partidas no “grande palco” venceu 7 e perdeu 0. Suas performances em 2010 tem sido supremas, dignas de serem registradas na história da liga.

No jogo 3 da final da Liga Americana, Lee colocou o atual campeão New York Yankees no modo inativo. Durante oito entradas ele permitiu apenas 2 rebatidas e 0 corridas, com 13 strikeouts para completar a exibição de gala - ele se tornou o primeiro arremessador a ter 10 strikeouts ou mais em três jogos seguidos na mesma pós-temporada. Quem deve mais se preocupar com as brilhantes partidas dele nos playoffs é justamente NY, que por perder o jogo de ontem à noite, necessariamente terá que enfrentar Lee num potencial jogo 7; caso consiga se manter vivo e vencer os próximos dois duelos (um em casa e outro fora).

Os Yankees sabem o quanto é difícil conseguir produzir algo contra Lee. Na World Series do ano passado o time de New York venceu os Phillies por 4 jogos a 2 e estas duas derrotas foram para Lee, que então atuava no time da Philadelphia – o ERA do arremessador nestes dois jogos foi de 2.81. O gostinho que ele teve dos playoffs começou em 2009 quando venceu 4 jogos em 5 partidas.

Nos momentos mais críticos aparecem as estrelas principais, os que se adaptam melhor a enorme pressão e desenvolvem com uma tranquilidade ímpar seu melhor trabalho. Lee, ao longo da careira, mostrou ser um cara que gosta de ultrapassar barreiras e superar obstáculos ditos intransponíveis; porém não deu certo no grande desafio vivido em Seattle. Sua saída era notória e tudo estava caminhando para uma aterrissagem em NY para defender os Yankees, mas no limite do fechamento da janela de transferências apareceram os Rangers.


Uma vantagem para Lee em ir para Texas é estar perto da sua casa, que fica em Arkansas, estado vizinho. Porém, cadê o “grande palco”? Muitos analistas, principalmente os locais, questionavam se o arremessador estava se sentindo a vontade em jogar pelos Rangers. Baseado nos jogos que ele foi titular desde que chegou no clube, a impressão é que havia pouca motivação. Foram 4 vitórias e 6 derrotas com a camisa texana, mas as críticas iam além destes números, pois nem nas partidas mais importantes e apelativas Lee foi bem.

Agosto foi seu pior mês (1v-4d e ERA de 6.35). Titular em dois grandes jogos, um contra os Yankees (dia 11) e outro contra o Tampa Bay Rays (dia 16), foi péssimo em ambos cedendo 4 corridas contra NY e 6 contra TB. Acrescentando partidas ruins contra times fracos (Kansas City Royals e Baltimore Orioles), a dúvida crescia acerca se realmente Lee estava confortável em ser um Ranger e se seria um fator decisivo nos playoffs.

É. No momento decisivo ele respondeu com propriedade. Abriu a série divisional contra os Rays (em Tampa) vencendo com alto estilo – 10 strikeouts e apenas 1 corrida cedida. Em certa parte do jogo ele eliminou 16 de 17 rebatedores na sequência.

No decisivo jogo 5 (também em Tampa), lá estava Lee para conseguir a primeira vitória em uma série de playoffs para a franquia Rangers. Foram 11 strikeouts no jogo e novamente cedeu apenas 1 corrida.

Definitivamente ele prova que uma de suas especialidades é ser dominante quando é necessário, na hora mais relevante. Lee não é simpatizante do estilo “é tudo ou nada” e não considera o beisebol como sendo um caso de “vida ou morte”. Devido ser desse jeito é que seu desempenho em campo flui naturalmente e as emoções florescem em sua totalidade. Os anos passaram e ele foi aprendendo a administrar tudo isso.

Antes de chegar ao Cy Young em 2008 (defendendo o Cleveland Indians), o jogador passou por tensas provações. 2007 marcou a carreira do arremessador, pois foi o ano que teve o pior ERA da carreira (6.29) e momentos esquecíveis. Numa partida contra os Rangers, que estavam homenageando Sammy Sosa pelo home run de nº 600, Lee acertou o rebatedor na cabeça. Na partida seguinte ele foi vaiado em Cleveland pelos torcedores locais e logo depois foi mandado para as divisões de base. No purgatório do beisebol ele corrigiu algumas falhas em sua mecânica de arremesso, ouviu quem tinha algo a lhe dizer, aprendeu a usar sua melhor habilidade e no ano seguinte venceu 22 jogos (perdeu 3), levando pra casa o troféu de melhor arremessador da Liga Americana.


Sua trajetória seguiu caminho em Philadelphia, depois Seattle, depois Texas... É engraçado perceber que um jogador do calibre de Lee passou por quatro clubes num período de 15 meses. Entretanto suas andanças pelos EUA não deve parar agora, visto que ele será agente livre após este campeonato e as ofertas para adquiri-lo serão altas – resta saber quem irá duelar com os Yankees num provável leilão do jogador.

Enquanto isto ele defende o tricolor do Texas e seu presidente, o lendário Nolan Ryan, desfruta desta passagem. Ryan, membro do Hall da Fama e líder em toda a história da MLB em strikeouts (5.714) é considerado um dos melhores arremessadores do esporte. Sabe que o atual adversário das finais da Liga Americana podem levar seu principal jogador, mas isto só acontecerá, porventura, depois que a temporada acabar. Ainda há tempo de admirar o que Cliff Lee vem realizando e Ryan entende bem o que ele está vendo: um jogador que orbita numa atmosfera diferente.

Ele é simplesmente um fenômeno. É chato dizer que é isto que esperávamos dele, porém é deste jeito mesmo; porque ele é tão consistente... Ele é o arremessador mais consistente que já vi. Veja que ele permitiu apenas um walk em 24 entradas: é incrível

Nolan Ryan


(GL)
Escrito por João da Paz



© 1 Nick Laham / Getty Images
© 2 Ronald Martinez / Getty Images

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