Em Minnesota um novo estádio para os Vikings; lições para a Copa-2014 no Brasil


Dinheiro público em estádios para uso privado.

Este é um dos grandes tabus que o Brasil enfrenta na construção/reforma dos locais que serão sedes da Copa do Mundo de 2014. Assim que o país foi escolhido para receber a maior competição esportiva do mundo, ouviu-se um alto brado que afirmava o não uso de dinheiro do povo nas obras envolvendo pontos esportivos. Uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo, foi rejeitada prontamente por aqui, mas anos depois esta posição foi revista.

Governos federais, estaduais e municipais estão reavaliando o conceito de injetar dinheiro público diretamente nos estádios. De inúmeras formas esta ação deverá ser feita para que as obras não apenas sejam entregues a tempo, mas que sejam de fato executadas. O jornalista João Carlos Assumpção do jornal Lance! informou em seu blog algumas das cifras que poderá sair dos cofres públicos para os estádios, diferenciando a forma de investimento de acordo com a natureza do campo:

- Maracanã, Rio de Janeiro (público): R$ 250 milhões
- Fonte Nova, Bahia (público): R$ 200 milhões

Para o estádio do Corinthians existe a possibilidade de uma ajuda através de incentivos fiscais por volta de R$ 400 milhões em isenção de impostos, cedido pela Prefeitura de São Paulo. Há ainda os investimentos, já em execução, em melhorias infra-estruturais ao redor do estádio que pertencerá ao alvinegro paulistano – escrevi sobre isto e outros detalhes no artigo “Mitos e Verdades Sobre o Novo Estádio do Corinthians em Itaquera (SP)”.

As batalhas que cercam o debate sobre como e onde o usar o dinheiro público em praças esportivas lideram as ordenanças no estado de Minnesota, norte dos EUA. Embora lá haja uma importante diferença: é certo que o financiamento público vai ocorrer se não o time muda para um lugar que receba esta proposta, aceita por quase todas as cidades americanas que tem uma franquia esportiva.


O time em questão é o Minnesota Vikings, representante do estado na NFL. O estádio que eles usam é o Metrodome, situado na cidade de Minneapolis. O teto sofreu um grave colapso no inverno do ano passado e a cobertura cedeu. As reformas estão sendo feitas e 80% do conserto já está pronto. Caso houver temporada, os Vikings jogaram lá [foto acima].

Este acidente só ajudou o pedido dos donos da franquia para que se construa um novo e moderno estádio para o clube, coincidindo com o vencimento da licença entre os Vikings e o Metrodome (público) ao final da futura temporada. Caso o novo estádio não saia do papel, a mudança será inevitável – o destino pode ser Los Angeles, num caminho parecido que aconteceu com os Lakers, franquia da NBA que também saiu de Minnesota.

O prazo para definir este imbróglio é curtíssimo: 30 de Junho. Esta é a data que o estado de Minnesota precisa entregar o orçamento para o ano fiscal 2011-2012 e nele têm que estar incluído os investimentos no novo estádio. O problema maior é que o estado passa por uma grande crise partidária e o orçamento pode não ser aprovado, causando um shutdown (situação que só os serviços básicos receberão dinheiro). Mesmo que um acordo for acertado entre os Vikings e o governo estadual, se o orçamento não passar no poder legislativo, esse acerto perderá a validade.

A franquia está fazendo uma campanha para que os torcedores do clube liguem para seus representantes políticos para que eles aprovem o financiamento do projeto e orçamento. A permanência dos Vikings em Minnesota depende disto.

De três pontos fundamentais para a construção do novo estádio, dois tem um ponto final. Um deles é o local do campo, na cidade de Arden Hills, distante 16 km do Metrodome. O outro é em relação a participação do governo estadual – US$ 300 milhões – e na contribuição do governo municipal nas obras de acesso ao novo estádio. O problema que está para ser resolvido e que trava um acordo é como será gasto os US$ 300 milhões do estado.

O projeto dos Vikings não inclui apenas o campo físico, mas 12 outras obras no entorno, como CT (Centro de Treinamento), parque, cinema, galerias e obras rodoviárias. Tudo custará US$ 1.1 bilhão e o governador de Minnesota, Mark Dayton, diz que os 300 milhões são para ser usados no projeto. Os Vikings querem fazer um aparte nas obras rodoviárias e não incluir esta quantia nesta questão específica – a participação do clube no novo estádio será de US$ 400 milhões, a outra parte fica por conta do condado de Ramsey, região que administra a cidade de Arden Hills e que presta contas a Saint Paul, capital do estado.

Os Vikings destacaram os investimentos nas ruas/avenidas que levam ao novo estádio, uma cifra de US$ 131 milhões. O condado de Ramsey já acertou sua participação nisto e colocará US$ 81 milhões, dinheiro que será pego emprestado e pago pelos compradores de carro (usado ou novo) da região, com uma taxa de 20 dólares por cada transação. A franquia quer que o restante seja fruto de investimento do governo federal ou estadual, com isenção de impostos e criação de taxas.


Dayton [foto acima], até o momento, está irredutível. Diz que o clube pode usar dinheiro do estado para as obras rodoviárias, desde que sai dos 300 milhões. Reuniões extraordinárias serão realizadas durante toda esta semana para resolver o impasse. Além de se preocupar em direcionar o dinheiro dos impostos pagos pelos contribuintes de Minnesota para os setores cruciais como educação, saúde, habitação, segurança e etc., será preciso achar uma solução para os investimentos no novo estádio se não Dayton sofrerá uma séria derrota política.

O uso do estádio será privado/público, com os Vikings administrando as operações e o governo podendo usar para eventos, feiras e exposições – assim como jogos de campeonatos estudantis. O projeto visa ser referência para abrigar não só os Vikings, mas ter condições de receber jogos do Final Four da NCAA, decisões de football da NCAA e a grande final da NFL (Super Bowl). Por isso tanto dinheiro, tanto investimento, tanto interesse.

Quem tem mais a perder é o estado de Minnesota. Com o acordo não sendo feito, os Vikings terão caminho livre para mudar de sede. O ideal para ambas as partes é encontrar um meio termo nestas negociações. Do contrário o clube não terá escolha.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Arden Hills Project
© 2 Office Photo

Um comentário:

tiburcio disse...

Lendo este artigo, me chamou a atenção os orçamentos para a construção e me lembrei dos orçamentos aqui no Brasil. Consegue lembrar algum caso nos EUA que houve um estouro no orçamento a la Pan do Rio?
Abraços,

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