A culpa é (não só) das estrelas


A festa foi em casa e merecida.

O San Antonio Spurs, com a vitória no último domingo, 15, sobre o Miami Heat conquistou o quinto título da franquia, ficando na quarta posição entre os clubes que mais foram campeões da NBA, atrás do Chicago Bulls (seis), Los Angeles Lakers (16) e Boston Celtics (17).

Após perderem de forma dramática no ano passado para o mesmo Heat, o principal líder dos Spurs, o pivô Tim Duncan, único jogador da equipe que tem todos os cinco anéis de campeão da franquia, lamentou o revés, mas garantiu que na temporada seguinte o time estaria de volta, só que mais competitivo para não deixar o título escapar da forma como foi.

A determinação de Duncan, junto com a do armador francês Tony Parker e do ala argentino Manu Ginóbili motivou seus companheiros e a diretoria da equipe, que não agiu inconsequentemente e, depois de perder a taça por tão pouco, manteve a cabeça no lugar, mexeu apenas no necessário e permaneceu confiando no trio base do time, acreditando que eles seriam capazes de realizar o que almejaram.

Trio esse que, juntos, custam menos do que 30 milhões de dólares/ano na folha salarial dos Spurs – o brasileiro Tiago Splitter ganha 3 milhões de dólares a mais do que Ginóbili. (o trio de Miami, LeBron/Chris Bosh/Dwyane Wade receberam nesta temporada, juntos, 56 milhões de dólares).

Mais um título. E assim se fez.

Os Spurs não só derrotaram o Heat, deram um outro significado para a palavra atropelamento. As quatro vitórias alcançadas que levaram à conquista foram devastadoras, deixando o mínimo de dúvida sobre quem levou a melhor no duelo melhor time x melhor jogador (LeBron James).

Com os veteranos dando o exemplo, sendo somente mais alguns elos da engrenagem sincrônica que são os Spurs, ficou fácil para os coadjuvantes aparecerem e facilitarem o trabalho ofensivo e defensivo de todos do elenco. Uma das características desse time que ficará marcada é a eficiência mostrada no ataque, com um engajamento executado à beira da perfeição, puro exemplo de companheirismo em detrimento ao individualismo, com cada jogador trocando um bom arremesso seu por um melhor arremesso de um colega. Cada passe feito com precisão cirúrgica, cada passe que levou a uma cesta, cada cesta que contribui para um massacre inesperado.

Tudo isso é resultado de comprometimento e cumplicidade.

As estrelas apareceram, brilharam, estavam lá. Mas quem desfrutou os holofotes mesmo foi uma que reluz de forma tímida, mas que também apareceu, brilhou, estava lá.


Kawhi Leonard, ala, foi eleito o MVP das Finais (melhor jogador) - acima recebendo o troféu do lendário Bill Russell. Assim que entrou na NBA, em 2011, era uma das apostas para ser um jogador de impacto e os Spurs eram o destino ideal. Acabou acontecendo justamente isso. O clube trocou um jogador importante para o time então, George Hill, por Leonard, aquisição que aconteceu na noite do draft daquele ano – quem escolheu Leonard, na 15ª posição, foi o Indiana Pacers.

Três temporadas depois Leonard mostrou sua importância, seguindo a liderança das estrelas maiores e sendo, com 22 anos, o mais novo MVP das Finais da NBA nos últimos 34 anos (junto com Duncan, que tinha a mesma idade em 1999, ano do seu primeiro título).

A postura de Leonard somada a dos seus companheiros levaram os Spurs a mais um título.

Uma postura semelhante não se viu do outro lado.

Antes do decisivo jogo 5, LeBron juntou seus colegas e os incentivou. Proferiu palavras de ordem e deu a dica: “Siga minha liderança”.

Nada disso.

LeBron entregou mais um jogo dentro do seu alto nível, marcando 31 pontos, um pouco a cima da média que teve durante toda a série final: 28.2 pontos por jogo, com aproveitamento de arremessos de quadra excelente, 57%. A diferença, total, que deu o título aos Spurs, é que LeBron teve ajuda nula de seus companheiros, não seguiram a liderança, o exemplo, a estrela maior.

A culpa é (não só) das estrelas.

E para os Spurs não há problema que os chamem de time muito velho, muito pragmático, muito entediante...

Só lamento!



(GL)
Escrito por João da Paz

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