A Copa das Copas e o espaço do futebol entre os esportes americanos


Quinta, dia 26 de junho.

A seleção de futebol dos Estados Unidos decidiu seu destino na Copa do Mundo 2014 contra a Alemanha. Apesar da derrota, o time americano se classificou para as oitavas de final - passou da fase de grupos pela terceira vez nas últimas quatro Copas.

Ao mesmo tempo, fatos importantes nos esportes americanos ocorriam paralelamente: LeBron James e Carmelo Anthony, dois alicerces da redenção do basquete do país nas duas últimas Olimpíadas (Pequim-2008 e Londres-2012), escolheram ser agentes livres, decisão que movimenta o mercado da NBA, pois estão disponíveis para qualquer time os contratar; o draft da NBA, considerado um dos melhores das últimas duas décadas, ocorreu no mesmo 26 de junho; o arremessador do San Francisco Giants, Tim Lincecum, no dia anterior, conseguiu seu segundo no-hitter da carreira; Tiger Woods voltou aos campos de golfe.

NBA, MLB, Golfe, LeBron James, Tiger Woods.

Mas o assunto mais popular entre os americanos, liderando as chamadas nos principais veículos de comunicação, foi a partida entre EUA e Alemanha.

O jogo aconteceu às 12h no horário de Washington. Assim, em grande parte dos EUA os americanos fizeram algo que seria natural se fosse no Brasil: estenderam a parada do almoço e assistiram ao duelo se aglomerando em frente de qualquer TV. É um simbolismo importante que evidencia o quão popular é o futebol na terra do Tio Sam, aniquilando aquela história de “quando que o futebol vai ‘pegar’ nos EUA?”.

Contra Portugal, encontro que aconteceu no domingo, dia 21, a audiência televisiva foi a maior da história para um jogo de futebol por lá. Já é forte o movimento para que as empresas dispensem seus funcionários mais cedo na próxima terça, 1º de julho, assim todos poderão acompanhar o confronto contra a Bélgica, às 16h, horário local.

Cronologia de sucesso

O futebol nos EUA só tende a crescer mais e mais. Uma ação da Fifa poderia ajudar isso, mas o erro cometido pode ser consertado. A Copa do Mundo de 2022 é destinada para ser em solo americano. Contudo a corrupção fez com que a maior organização do futebol mundial “escolhesse” o Catar. As denúncias de fraude estão evidentes e isso levará a Fifa a reconsiderar sua “escolha” inicial. Para corrigir plenamente, tem de escolher os EUA como sede, uma nação mais do que pronta para receber um evento de enorme porte.

A Copa do Mundo de 1994 (nos EUA) é criticada por motivos tolos, seja em aspectos dentro ou fora de campo. Porém, se esquecem de um detalhe: foi o torneio que teve a maior média de público de todas as Copas e o maior número total de torcedores nos estádios. Os jogos foram em estádios gigantes. Desenhados a priori para serem palcos de football, ficaram cheios de admiradores do soccer.

Dois anos depois a MLS (Major League Soccer) teve sua primeira temporada. A tentativa mais sólida de criar uma liga de futebol forte e competitiva no mercado. Hoje, a MLS é um sucesso: tem público, dinheiro e estabilidade. É um bebê de 19 anos se comparada com a MLB (145 anos), NHL (97), NFL (94) ou NBA (68), porém compete de igual para igual com as grandes ligas; e a NHL.

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Repetindo:

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Em porcentagem de capacidade de estádio de futebol, a MLS fica apenas atrás da Premier League (campeonato inglês) e da Bundesliga (campeonato alemão).

O público não é mais de apenas hispânicos, latinos. A classe média abraçou o esporte bretão e percebeu algo que há anos o brasileiro sabe: é um esporte barato. Basta usar a imaginação, fazer um gol em qualquer lugar, pegar bola e play on! Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da NHL nos Estados Unidos. Jogar hóquei é caro e, antes de ter habilidade para controlar o puck, é preciso aprender a patinar (e patinar bem...).

O futebol é um esporte menos complicado. Os telespectadores tem percebido isso. Em menos de duas horas uma partida acaba e em sua duração não há breaks comerciais quando um dos tempos estão em andamento. Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da MLB nos Estados Unidos. O beisebol é um esporte longo, parado e pouco atrativo para os jovens, que estão cada vez mais jogando futebol.

Outro ponto interessante é que o Fifa 14, popular jogo de vídeo game da EA Sports, é o mais vendido na América. Jogo esse que foi criado na onda da Copa do Mundo de 1994 – o primeiro exemplar, Fifa International Soccer, foi lançado em 1993.

Popular ou não?

Essa pergunta, quase clichê quando se trata de futebol nos EUA, é ultrapassada e quem a traz não enxerga de fato o que está acontecendo.

Um exemplo prático disso é o que trouxe a conceituada revista britânica The Economist na edição de junho deste ano. A reportagem “Um jogo de dois tempos” traz um questionamento interessante, mostrando se o futebol é mesmo o esporte mais popular/praticado em todo o mundo. Para tanto, traz exemplos dos países mais populosos da Terra, China e Índia, apresentando fatos de que o futebol em ambas as nações está longe de ser um esporte do povo – na China o desenvolvimento é um pouco melhor que na Índia. Neste mix, a revista fala também sobre os EUA, o que não cabe qualquer comparação com os países supracitados.

A decisão da Copa do Mundo de 2010, entre Holanda e Espanha, teve audiência de 24,3 milhões de americanos. Para se ter uma perspectiva, o decisivo jogo 5 da World Series (final da MLB) entre Texas Rangers e San Francisco Giants, no mesmo ano, teve audiência de 15 milhões... A audiência do jogo 7 da final da NBA entre Los Angeles Lakers e Boston Celtics, também em 2010, teve apenas 4 milhões a mais de telespectadores do que a partida entre holandeses e espanhóis...

Na belíssima Copa das Copas, que tem o Brasil como anfitrião, são os americanos o público estrangeiro que mais comprou ingressos para assistir as partidas do torneio.

Se a Fifa confirmar a Copa de 2022 nos Estados Unidos, o ano será um marco para a MLS e o futebol, que é popular sim.

Quando que você imaginou que americanos deixariam de trabalhar para verem uma partida de Copa do Mundo de futebol?

Brasileiros tudo bem, mas os americanos...

(GL)
Escrito por João da Paz

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