Limão & Limonada


Com o primeiro mês da temporada 2009-10 no seu final, não é surpresa notar que o Tampa Bay Rays é o melhor time de toda a MLB. Ou será que é surpreendente? A resposta para esta questão é sim – se for levado em consideração o histórico da franquia em 12 temporadas na liga. Agora, com o retrospecto dos últimos dois anos, o campeão da Liga Americana em 2008 está mantendo o bom trabalho e o presidente do clube sabe quem é o responsável por fazer o máximo que pode com o mínimo que possui:

Andrew [Friedman, foto acima] é um oportunista, procurando sempre melhorias para nosso time. Alguns movimentos são arriscados, outros são mais centrados. Na maioria das vezes, as decisões que ele toma dão certo no final” pondera Matt Silverman.

Por oportunista entenda “aquele que faz limonada com um limão”. A franquia tem poucos recursos, folha salarial baixa e lucro irrisório em marketing. Mas, mesmo assim, Friedman consegue construir uma equipe competitiva, num fraco mercado para o beisebol, com as ferramentas que tem disponível. Andrew prefere agir com o que tem ao invés de reivindicar o que não tem.

Ele é diretor de beisebol (dentro da hierarquia dos Rays, Vice Presidente de Operações de Beisebol) desde 2005 e suas ações no clube são similares ao visto nas bolsas de valores: comprar ativo só se trouxer um verdadeiro custo-benefício. Traduzindo: junção ideal do bom e barato. Antes de assumir o atual cargo, Andrew foi Diretor de Desenvolvimento dos Rays durante dois anos, função dada por sua experiência no mundo dos negócios.

Friedman tem um bacharelado em administração com especialização em economia (pela Universidade Tulane). Trabalhou por muito tempo em bancos conceituados da cidade de New York, como analista de investimento, até ser convidado para integrar os Rays. Depois do pequeno “estágio” de dois anos, chegou à diretoria de beisebol.

De negócios ele entendia. De beisebol não. Sabendo disso, o clube colocou como seu assistente um veterano GM na liga, Gerry Hunsicker (foto abaixo) – que teve um excelente trabalho com o Houston Astros (1995-2005) levando o clube à World Series de 2005. A função de Gerry, 49 anos, é dar dicas para Friedman, 33, mostrando a ele os atalhos a serem percorridos.


A filosofia dos Rays, imposta por Friedman, é se concentrar no desenvolvimento de jogadores nas ligas de base (mais barato) do que apostar nos grandes nomes (mais caro). E nesta de “criar” jogadores, eles têm que trazer o pacote completo para a MLB, com bom jogo defensivo e ofensivo, ou seja: custo-benefício na mais pura essência.

O exemplo disto é Evan Longoria, 3B. Uma das mais promissoras estrelas da liga (leia: Estrela Ascendente), pode custar, até 2015, apenas US$ 50 milhões de dólares no total de oito temporadas com o clube; 2010 é a terceira. Longoria é um dos tantos atletas do elenco formados nas divisões de base (minors).

Friedman é realista e sabe que grande parte destes jogadores vai embora quando conseguirem o passe-livre, já que o clube não tem como competir no agressivo e perverso leilão do mercado da MLB, onde quem comanda são as ricas e poderosas franquias, que gastam dinheiro sem piedade. Ciente desta situação, Friedman fica tranquilo, pois confia na base do seu clube, capaz de produzir talentos para repor as estrelas que porventura saírem.

Os Rays não se concentram apenas nas minors e organiza várias peneiras internacionais no garimpo em busca do bom e barato que é o alicerce da franquia. Fora os olheiros que percorrem mundo afora atrás de atletas, o clube mantêm três clinicas na America Latina: uma na Venezuela, outra na Colômbia e uma no Brasil.

Se concentrando especificamente no Brasil, o Tampa Bay prevê investir em torno de US$ 6.5 milhões, dentro de quatro anos, num centro de treinamento construído na cidade de Marília, interior do estado de São Paulo. Este projeto visa integrar crianças em atividades pós-escola, intensificar o esporte na região e, quem sabe, encontrar garotos com habilidades no nível da MLB.


Toda esta idéia de bom e barato mostrou seu valor. Em apenas três anos como diretor de beisebol, Andrew Friedman (foto acima, no alvo dos microfones) conquistou o prêmio de Executivo do Ano em 2008 – o mais jovem a ganhar o troféu. A vitória veio pela magnífica campanha dos Rays na temporada do mesmo ano, quando o clube chegou à World Series como representante da LA , perdendo para o Philadelphia Phillies. O detalhe é que em 2007 o time terminou a temporada com 66 vitórias e deu uma reviravolta chegando ao final do campeonato 2008 com 97 vitórias e o primeiro título da Divisão Leste da LA, desbancando as potências Boston Red Sox e New York Yankees. Tudo isso feito com uma folha salarial de US$ 43 milhões/ano, a 4ª menor de toda a MLB em 2008.

Hoje o time tem uma folha anual que gira em torno de US$ 70 milhões, mas a tática de trabalho pé no chão continua a mesma. Intrigante é, por mais que o time seja vitorioso, não conseguir trazer torcedores para o Tropicana Field, caso que Friedman vem se dedicando para resolver, porém ainda não achou a solução. O time (até 03/05) é o primeiro lugar na classificação geral, mas é o 22º colocado em público, com uma capacidade de 52% em média por jogo. Se a base de jogadores é sólida, o mesmo não pode ser dito sobre os fãs. É fundamental uma participação maior dos torcedores, porque se o Tropicana estiver cheio mais dinheiro vai girar, o clube pode investir em mais atletas e manter os que já estão no elenco.

Friedman não se preocupa com o lado limão (amargo) da coisa. Embora seja a realidade o baixo faturamento do clube como um todo, ele transforma em doce (limonada) a circunstância aparentemente adversa.

Enquanto houver matéria-prima, haverá produto final.



(GL)


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