Ligue os Pontos


Tudo começou com um ponto de interrogação.

As dúvidas sobre se Rajon Rondo, então armador da Universidade de Kentucky, iria ser um bom jogador na NBA, tomou conta da diretoria do Phoenix Suns que o escolheu na 21ª posição no draft de 2006. Apesar de precisar de um armador para ser reserva de Steve Nash, os Suns trocou Rondo por Brian Grant (ala-pivô, hoje aposentado) com o Boston Celtics.

Quatro anos depois, aquele que teve questionado sua habilidade está na discussão acerca de quem é o atual melhor armador da associação. Só de ser mencionado neste mix, qualifica o jogo de Rondo e o valoriza ainda mais. Na temporada 2009-10, logo após renovar com a franquia por 5 anos – 55 milhões de dólares no total –, ele entrou na galeria de grandes atletas dos Celtics liderando duas categorias importantíssimas nas estatísticas históricas do clube.

Rondo é o primeiro colocado em número de assistências em uma temporada (794) e em roubos de bola (189). Aliás, ele foi o primeiro Celtic a terminar um campeonato como líder em roubos de bola e também foi o primeiro armador da franquia, dentro dos últimos 20 anos, a participar do Jogo das Estrelas.

Números e feitos que confirmam uma verdade: Rondo é o jogador mais valioso do time. Entre feras que estarão no Hall da Fama (Kevin Garnett, Ray Allen e Paul Pierce), Rondo é o comandante em quadra, ditando o ritmo e cadência da equipe, distribuindo os pontos conforme a oportunidade permita.

Ele [Rondo] influencia nosso jogo de muitas maneiras. Você quer que o armador dite o tom em todas as partidas. Você quer que ele lidere. Eu digo uma coisa: ele está se desenvolvendo aos nossos olhos e é fantástico ver isto” analisa Garnett, uma das personalidades mais respeitadas da NBA e um conselheiro pessoal de Rajon.

Uma coisa que KG não mencionou é como Rondo, que tem apenas 24 anos, cresce em jogos importantes nos quais as estrelas brilham. Na sua segunda temporada, ganhou o título; na terceira fez um duelo épico contra Derrick Rose (Chicago Bulls) numa eletrizante série de sete jogos na primeira rodada dos playoffs, mas sucumbiu no duelo seguinte contra Orlando Magic.


Nesta pós-temporada, Rondo tem sido tão eficiente quanto e na partida mais recente contra o Cleveland Cavaliers (Jogo 2 – Seminais do Leste), desempenhou seu papel com maestria. Foram 19 assistências no total, igualando o recorde da franquia de passes em um só jogo – que pertence ao próprio Rondo, marca atingida no ano passado contra os Bulls no Jogo 6. Vale salientar que esses 19 passes resultaram em 46 pontos. Somados com os 13 que ele anotou, 59 dos 104 pontos que o Boston marcou na partida saíram das mãos de Rondo; não esquecendo que ele não assinalou assistência nos 11 minutos finais da partida.

O termo professor, usado de forma demasiada pelos jogadores brasileiros de futebol para chamar seus respectivos treinadores, poderia ser usado por Rondo em relação a Glenn “Doc” Rivers. Por ter sido armador, Doc ensinou muitos macetes para Rondo e o jovem aprendeu bem, adaptando seu estilo ao que o treinador lhe orientava. MVP do Mundial de Basquete de 1982, Rivers atuou na NBA ao lado do craque Dominique Wilkins no Atlanta Hawks e o conhecimento que ele adquiriu em quadra foi (e está) sendo transmitido para Rondo.

O camisa 9 sabe a quem direcionar os agradecimentos, lembrando quem o auxiliou no caminho rumo ao estrelato. Os companheiros de time, a comissão técnica e a diretoria são constantemente citados, mas faz questão de não esquecer de algo importantíssimo para ele: as superstições.

A faixa na cabeça que Rondo usa nos jogos não estar ao contrário por um acaso. Uma vez, na sua temporada de novato, ele a usou assim, teve uma boa atuação e nunca mais inverteu a faixa. Ele tem um ritual pré-jogo que não pode ser quebrado, desde a hora exata de fazer os arremessos no aquecimento, até o tempo do banho; ouvindo sempre a mesma música black. Nos jogos em casa, Rondo atravessa a mais movimentada avenida da cidade para chegar no TD Garden, não importa as condições do trânsito. A sua família entra nesta energia também: a mãe envia uma mensagem bíblica via celular antes de cada jogo e o irmão não usa nada verde durante dias de jogos.

Para se concentrar somente em seu trabalho, Rondo precisa executar todo esse ritual (e receber ajuda, claro). Não que tais ações interfiram diretamente no rendimento dele em quadra, porém as “místicas” etapas precisam ser cumpridas e desta forma ele fica mais tranquilo e relaxado – quem é supersticioso entende a situação.

Rajon possui uma habilidade única, com estilo de jogo próprio e dribles que são marcas registradas. Além de tudo, é um jogador eficiente e que demonstra ser capaz de liderar um time, mesmo que super estrelas da NBA estejam nele. Não existe mais ponto de interrogação quando o assunto é sua competência no basquete profissional, só exclamação após ver jogadas como esta, à la Hakeem Olajuwon, realizada no Jogo 2 contra os Cavs no último dia 03.




(GL)


© 1 arte gráfica por Dariusz
© 2 Elise Amendola / AP

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