Nos bastidores da MLB, diretoria e comissão técnica das franquias se preocupam com um determinado número que assombram principalmente os arremessadores: 100. Pode ser considerado uma das regras não-escritas do beisebol (leia: Nas Entrelinhas): se o arremessador chegar a marca centenária ele é substituído, não importando a situação ou a entrada que ele está.
Esta é uma questão que gera debates e mais debates, com pessoas favoráveis ao controle de arremessos evitando contusões, e pessoas que são contrárias. Não que as lesões merecem ser desconsideradas, mas performances consistentes passam a ser irrelevantes em comparação ao temor em machucar um braço que vale milhões de dólares.
Um exemplo disto aconteceu no dia 11/04 quando o New York Yankees enfrentou o Tampa Bay Rays. CC Sabathia, arremessador dos Yankees, estava com uma boa atuação, não permitindo uma rebatida durante oito entradas. Faltavam 5 jogadores para o jogo completo se concretizar, quando Kelly Shoppach rebateu uma bola simples chegando à primeira base e imediatamente Joe Girardi (treinador dos Yankees) tirou Sabathia do jogo.
CC tinha arremessado 111 vezes – 69 strikes – e Girardi comentou nos vestiários que estava numa tensão estressante por não saber ao certo o que fazer com Sabathia e agradeceu Shoppach por tornar a decisão de substituí-lo mais fácil. O treinador usou como argumento o fato de desgastar um ace tão cedo na temporada, como defesa ao jogo sem rebatidas que CC construira.
Até 17/05, 24 arremessadores completaram um jogo de nove entradas e quatro tiveram mais que 1: Sabathia, CJ Wilson (Texas Rangers) e Adam Wainwright (Saint Louis Cardinals) com 2 jogos, e Roy Halladay (Philadelphia Phillies) com 3. Alguns destes jogos completos foram especiais e já fazem parte da história do beisebol.
Ontem aconteceu o 19º jogo perfeito da MLB (partida que o mínimo de 27 jogadores são eliminados). Dallas Braden, 26 anos, do Oakland Athletics foi o responsável pela façanha contra os Rays, arremessando 109 vezes – 77 strikes. Na sexta, Jamie Moyer (Phillies) se tornou o jogador mais velho da MLB, 47 anos, a conseguir um jogo sem permitir uma corrida do adversário (shutout), arremessando 105 vezes – 71 strikes.
Visto isto, como lidar com a questão dos 100 arremessos? Esta estratégia deve ser usada com os jogadores mais jovens, com os mais veteranos ou ambos? Veja Moyer, que com uma idade avançada conseguiu completar um jogo; seria ele alvo de uma contagem de arremessos menor? E os mais novos, teriam uma tolerância maior?
Livan Hernandez, arremessador do Washington Nationals, tem uma experiência de 14 temporadas na liga (35 anos de idade). Seu ERA de 1.04 é o segundo melhor da MLB neste ano e dos 6 seis jogos que ele arremessou, em três deles ultrapassou a marca centenária. A mídia esportiva da capital federal dos EUA criticou o time por permitir que Hernandez arremessasse 123 arremessos em 5 entradas e 1/3 contra os Braves dia 04/05 – os Nationals venceram. Embora Hernandez seja um cara acostumado a arremessar muito, com 122 jogos na carreira em que ultrapassou 120 arremessos e três em que arremessou 150 vezes ou mais.
Ubaldo Jimenez, arremessador do Colorado Rockies, tem 26 anos e é o líder em ERA da liga: 0.93. Tem uma partida a mais do que Hernandez, mas já arremessou 782 vezes no total (156 a mais que Livan). Jimenez teve cinco jogos com mais de 100 arremessos e três deles passou da marca de 120 – ele é o primeiro em arremessos neste campeonato.
Não existe nada que a ciência médica comprove se um jogador de beisebol arremessar uma bola de 140g mais de 100 vezes por partida irá se contundir mais rápido do que aquele que não fizer. Mesmo assim, existe uma pesquisa que dissecou este assunto e criou um limite ideal de arremessos para os jovens.
O Instituto Americano de Medicina Esportiva (ASMI) fez um estudo, encomendado pelo Comitê de Segurança Medica da Federação Americana de Beisebol, sobre o número 100, se é apenas um registro mágico ou uma marca efetiva para prevenir lesões. Foram ouvidos 85 especialistas entre ortopedistas e técnicos, que providenciaram 28 respostas diferentes acerca desta questão. Foi elaborada uma tabela que é usada nas ligas infantis, juvenis e de base.
Quando se chega na MLB, quem determina o quão longe vai o arremessador no jogo é o treinador; o atleta em si tem pouco controle da situação. Uma das poucas exceções é Justin Verlander, arremessador do Detroit Tigers. Todo ano Jim Leyland, treinador da equipe, diz que irá colocar o atleta no regime de arremessos e nunca consegue ativar o plano. Ano passado, Verlander foi o que mais arremessou em toda a temporada e em 2010 está em segundo – atrás de Jimenez. Leyland declarou, no final do mês de Abril, após a derrota do seu time contra o rival de divisão Minnesota Twins - num jogo que Verlander perdeu e arremessou 121 vezes - , que iria limitar o jogo do seu ace. Nada feito: nas duas partidas seguintes, Verlander arremessou respectivamente 120 e 118 vezes e venceu ambas as partidas...
O dilema sensível de zelar pela saúde do atleta e pelo rendimento dele em campo, pensando a longo prazo, é louvável e merece ser visto com afinco. Mas esta filosofia de contagem de arremessos cria um estilo de jogo no qual o arremessador chega à quinta ou sexta entrada já satisfeito com sua performance e pronto para sair de cena. Quem chegou no esporte no começa da década ´00, quando o número 100 se tornou obsessão, é mais propício a aceitar esta determinação do que lutar para ficar no montinho o máximo que for possível. Dos 24 jogadores que completaram um jogo na temporada 2010, apenas 5 tem 25 anos ou menos.
A razão sofre eco até entre os defensores da sensibilidade. Theo Epstein, jovem diretor de beisebol do Boston Red Sox, analisa com propriedade e define assim: “Eu, que sou um dos defensores em proteger a qualquer custo os arremessadores mais novos, fico confuso as vezes e dividido. Isto porque talvez fomos longe demais na preocupação, tratando os garotos como bebês e não preparando eles para um jogo longo, criando assim uma mentalidade descompromissada, não ensinado eles a serem dominadores”.
Esta é uma questão que gera debates e mais debates, com pessoas favoráveis ao controle de arremessos evitando contusões, e pessoas que são contrárias. Não que as lesões merecem ser desconsideradas, mas performances consistentes passam a ser irrelevantes em comparação ao temor em machucar um braço que vale milhões de dólares.
Um exemplo disto aconteceu no dia 11/04 quando o New York Yankees enfrentou o Tampa Bay Rays. CC Sabathia, arremessador dos Yankees, estava com uma boa atuação, não permitindo uma rebatida durante oito entradas. Faltavam 5 jogadores para o jogo completo se concretizar, quando Kelly Shoppach rebateu uma bola simples chegando à primeira base e imediatamente Joe Girardi (treinador dos Yankees) tirou Sabathia do jogo.
CC tinha arremessado 111 vezes – 69 strikes – e Girardi comentou nos vestiários que estava numa tensão estressante por não saber ao certo o que fazer com Sabathia e agradeceu Shoppach por tornar a decisão de substituí-lo mais fácil. O treinador usou como argumento o fato de desgastar um ace tão cedo na temporada, como defesa ao jogo sem rebatidas que CC construira.
Até 17/05, 24 arremessadores completaram um jogo de nove entradas e quatro tiveram mais que 1: Sabathia, CJ Wilson (Texas Rangers) e Adam Wainwright (Saint Louis Cardinals) com 2 jogos, e Roy Halladay (Philadelphia Phillies) com 3. Alguns destes jogos completos foram especiais e já fazem parte da história do beisebol.
Ontem aconteceu o 19º jogo perfeito da MLB (partida que o mínimo de 27 jogadores são eliminados). Dallas Braden, 26 anos, do Oakland Athletics foi o responsável pela façanha contra os Rays, arremessando 109 vezes – 77 strikes. Na sexta, Jamie Moyer (Phillies) se tornou o jogador mais velho da MLB, 47 anos, a conseguir um jogo sem permitir uma corrida do adversário (shutout), arremessando 105 vezes – 71 strikes.
Visto isto, como lidar com a questão dos 100 arremessos? Esta estratégia deve ser usada com os jogadores mais jovens, com os mais veteranos ou ambos? Veja Moyer, que com uma idade avançada conseguiu completar um jogo; seria ele alvo de uma contagem de arremessos menor? E os mais novos, teriam uma tolerância maior?
Livan Hernandez, arremessador do Washington Nationals, tem uma experiência de 14 temporadas na liga (35 anos de idade). Seu ERA de 1.04 é o segundo melhor da MLB neste ano e dos 6 seis jogos que ele arremessou, em três deles ultrapassou a marca centenária. A mídia esportiva da capital federal dos EUA criticou o time por permitir que Hernandez arremessasse 123 arremessos em 5 entradas e 1/3 contra os Braves dia 04/05 – os Nationals venceram. Embora Hernandez seja um cara acostumado a arremessar muito, com 122 jogos na carreira em que ultrapassou 120 arremessos e três em que arremessou 150 vezes ou mais.
Ubaldo Jimenez, arremessador do Colorado Rockies, tem 26 anos e é o líder em ERA da liga: 0.93. Tem uma partida a mais do que Hernandez, mas já arremessou 782 vezes no total (156 a mais que Livan). Jimenez teve cinco jogos com mais de 100 arremessos e três deles passou da marca de 120 – ele é o primeiro em arremessos neste campeonato.
Não existe nada que a ciência médica comprove se um jogador de beisebol arremessar uma bola de 140g mais de 100 vezes por partida irá se contundir mais rápido do que aquele que não fizer. Mesmo assim, existe uma pesquisa que dissecou este assunto e criou um limite ideal de arremessos para os jovens.
O Instituto Americano de Medicina Esportiva (ASMI) fez um estudo, encomendado pelo Comitê de Segurança Medica da Federação Americana de Beisebol, sobre o número 100, se é apenas um registro mágico ou uma marca efetiva para prevenir lesões. Foram ouvidos 85 especialistas entre ortopedistas e técnicos, que providenciaram 28 respostas diferentes acerca desta questão. Foi elaborada uma tabela que é usada nas ligas infantis, juvenis e de base.
Quando se chega na MLB, quem determina o quão longe vai o arremessador no jogo é o treinador; o atleta em si tem pouco controle da situação. Uma das poucas exceções é Justin Verlander, arremessador do Detroit Tigers. Todo ano Jim Leyland, treinador da equipe, diz que irá colocar o atleta no regime de arremessos e nunca consegue ativar o plano. Ano passado, Verlander foi o que mais arremessou em toda a temporada e em 2010 está em segundo – atrás de Jimenez. Leyland declarou, no final do mês de Abril, após a derrota do seu time contra o rival de divisão Minnesota Twins - num jogo que Verlander perdeu e arremessou 121 vezes - , que iria limitar o jogo do seu ace. Nada feito: nas duas partidas seguintes, Verlander arremessou respectivamente 120 e 118 vezes e venceu ambas as partidas...
O dilema sensível de zelar pela saúde do atleta e pelo rendimento dele em campo, pensando a longo prazo, é louvável e merece ser visto com afinco. Mas esta filosofia de contagem de arremessos cria um estilo de jogo no qual o arremessador chega à quinta ou sexta entrada já satisfeito com sua performance e pronto para sair de cena. Quem chegou no esporte no começa da década ´00, quando o número 100 se tornou obsessão, é mais propício a aceitar esta determinação do que lutar para ficar no montinho o máximo que for possível. Dos 24 jogadores que completaram um jogo na temporada 2010, apenas 5 tem 25 anos ou menos.
A razão sofre eco até entre os defensores da sensibilidade. Theo Epstein, jovem diretor de beisebol do Boston Red Sox, analisa com propriedade e define assim: “Eu, que sou um dos defensores em proteger a qualquer custo os arremessadores mais novos, fico confuso as vezes e dividido. Isto porque talvez fomos longe demais na preocupação, tratando os garotos como bebês e não preparando eles para um jogo longo, criando assim uma mentalidade descompromissada, não ensinado eles a serem dominadores”.
(GL)
© 1 Jim Rogash / Getty Images
© 2 Marcio José Sanchez / AP
Nenhum comentário:
Postar um comentário