Uma vez Time da América, sempre Time da América


Começa na próxima quarta (5) a temporada 2012-13 da NFL com o jogo entre o atual campeão do Super Bowl, New York Giants, contra o Time da América, Dallas Cowboys. Por mais que digam o contrário não adianta: o rótulo criado em 1978 ainda é apropriado para definir o clube mais famoso dos Estados Unidos.

Os novos torcedores brasileiros da NFL, que tem a oportunidade de acompanhar esse jogo (e todo o campeonato) através do canal aberto Esporte Interativo, precisam saber qual franquia da liga é de maior destaque – a estrela no capacete é a dica. Mesmo que recentemente em campo o time não produziu resultados expressivos, fora do gridiron o sucesso permanece.

Não foi de forma tão pretensiosa assim que surgiu a tag America's Team ao falar do Dallas Cowboys. O termo foi veiculado pela primeira vez em no tradicional anuário produzido pela NFL Films, que contava a história da temporada de 1978 dos Cowboys. O nome do documentário foi Time da América, justificado pelo locutor que narrou:

Eles aparecem na televisão com tanta frequência que suas faces [dos jogadores] são tão familiares quanto às dos presidentes e estrelas do cinema”.

Em 1979 na estreia dos Cowboys contra o Saint Louis Cardinals, o narrador da CBS (emissora de sinal aberto dos EUA) apresentou o time de Dallas, visitante, como o Time da América. Reforçando o rótulo e ajudando a propagá-lo.

Nesta época os Cowboys eram competitivos. Em 1972 venceram o Super Bowl VI; em 1975 perderam o Super Bowl X para o Pittsburgh Steelers; em 1977 venceram o Super Bowl XII; e em 1978 perderam o Super Bowl XIII também para os Steelers.

Era o início do primeiro auge.

Com um elenco de estrelas, somado a um treinador inovador, Tom Landry, Dallas era um produto perfeito para as emissoras de TV e a audiência que gerava, acima de outros times, fez o time do estado do Texas ter seus jogos constantemente televisionados para todo o país.

Por ser uma equipe vencedora, naturalmente angariou fãs numa crescente assustadora.

Quem colaborou para o fortalecimento da marca Cowboys foi o presidente/diretor de football (GM) da franquia: Tex Schramm (foto abaixo).


Tex assumiu o clube em 1960 e saiu do cargo em 1989. Se a NFL desfruta do atual momento glorioso, deve ao trabalho que Tex fez, inovando a liga e sendo mentor de ideias revolucionárias para o esporte, ajudando a atingir um nível de excelência master. Elementar, afinal para os Cowboys explodirem em popularidade era necessário que a NFL seguisse no mesmo ritmo.

Algumas das inovações de Tex:

- Junção da antiga NFL com a AFL (America Football League), formando a NFL no molde atual; criando de tabela o Super Bowl. Tex foi quem iniciou as conversações de parceria com o fundador da AFL, Lamar Hunt.

- Replay instantâneo e microfones para os árbitros.

- Cores diferenciadas nas jardas de número 50 e 20 (em cada lado do campo).

- Uso de computadores no scout (análise) de jogadores e mudança na avaliação dos novatos (que levou a criação do Combine).

- Colocar o goal post (popular “Y”) atrás da end zone; e instalar bandeiras em cima das traves para que o kicker possa ver qual a direção do vento.

- Marcação oficial do tempo no placar eletrônico.

E, claro, as Dallas Cowboys Cheerleaders (DCC).

A década de 80 não trouxe êxito para a franquia, ficando fora dos playoffs em quatro temporadas sob o comando da dupla Tex Schramm e Tom Landry. Em Fevereiro de 1989 o empresário Jerry Jones compra os Cowboys por 140 milhões de dólares, demite o treinador e força a saída do diretor de football/presidente. Jones assume o controle na presidência e na diretoria de football, iniciando outra era de auge.

Em 1991 volta aos playoffs e nas duas temporadas seguintes conquista o bicampeonato do Super Bowl (XXVII e XXVIII). Ganha mais um Super Bowl em 1995 (XXX) e a popularidade do time explode, atingindo uma posição estratosférica, justamente quando a NFL estava expandindo seu alcance para outros países, incluindo o Brasil. As transmissões da TV Bandeirantes na década de 90 ajudam os Cowboys a criar raízes por aqui.

Pesquisas sem valor científico apontam os Cowboys como o time da NFL com mais torcida no Brasil. Pesquisas similares apontam que nos EUA o time de Dallas tem a maior base de fãs. Há os que discordem do rótulo Time da América atrelado aos Cowboys, usando argumentos fora destas pesquisas para tanto.

Quem começou com esta contestação foi o Atlanta Braves (MLB) em 1982. Na própria MLB há o New York Yankees, este sim com uma razão mais consistente para clamar pelo posto.

Na NFL existem dois clubes com uma força local única, com ambos tendo uma torcida que acompanha a equipe fora de casa: Green Bay Packers e Pittsburgh Steelers. Embora nada se compara aos Cowboys, que além de ter torcedores de Dallas visitando outras cidades para assistir os jogos da equipe, tem os fãs que naturalmente são de outras localidades.

Na época do segundo auge o Dallas Cowboys registrou a marca de 160 jogos consecutivos com lotação máxima fora e dentro de casa, recorde na história da NFL, alcançado entre 23 de Dezembro de 1990 e 24 de dezembro de 1999.

O apoio da torcida se reflete nos estádios e na telinha, desde aquela declaração do narrador da CBS em 1979. Trinta anos depois, a Nielsen Company (empresa americana de pesquisas, agora com operações no Brasil) fez um estudo para mensurar o impacto das franquias da NFL na TV e na internet, analisando a audiência nas emissoras locais e nacionais, menções do nome na rede mundial de computadores e número de visitantes nos sites oficiais. Veja como ficou o Dallas Cowboys nos respectivos rankings, sendo o primeiro colocado na soma geral:

* Audiência em emissora local: 8º (New Orleans Saints – 1º)
* Audiência em emissora nacional: 1º
* Visitas ao site oficial: 1º
* Menções online: 2º (New York Giants – 1º)


Jerry Jones (foto acima), por mais que tenha conseguido apenas uma vitória em playoffs nas últimas 15 temporadas, sabe administrar essa popularidade. A revista Forbes publicou em Julho deste ano a lista dos clubes esportivos mais valiosos do mundo e os Cowboys ficaram empatados em terceiro lugar com o New York Yankees (US$ 1.85 bi); Real Madrid (futebol – Espanha – em segundo com US$ 1.88 bi) e Manchester United (futebol – Inglaterra – em primeiro com US$ 2.23 bi). O carro chefe dos Cowboys nesta história é o estupendo novo estádio, com capacidade para 110 mil pessoas, que já foi sede de Jogo das Estrelas da NBA, luta do boxeador Manny Pacquiao, jogo da Seleção brasileira de futebol, Super Bowl e outros eventos diversos – recebe o Final Four da NCAA em 2014. Jones ainda não conseguiu vender o naming rights do estádio (quer US$ 15 milhões/ano) por não achar uma marca capaz de pagar a quantia, porém o estádio gera uma renda anual de US$ 100 milhões somente de cadeiras cativas de luxo e US$ 60 milhões anuais de patrocinadores do calibre de AT&T (telecomunicações), Bank of America (finanças), Ford Motor (automotivo) e PepsiCo. (alimentício).

O Time da América continua na moda, o que faz atrair tantas doletas. No começo da temporada tem um jogo nacional e em horário nobre, tendência mantida ao longo da competição, reforçando ainda mais a célebre tag. Dos 15 jogos restantes do Dallas Cowboys, 7 serão transmitidos nacionalmente, 2 destes em horário nobre. Isto sem contar o jogo do Monday Night (segunda à noite) contra o Chicago Bears no dia 1º de Outubro.

O trono reservado para o Time da América está ocupado e dificilmente estará vago. A não ser que inventem um sketch de mau gosto tentando desmerecer quem está no comando.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Rob Carr / Getty Images

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