Desconstruindo Cam Newton


O quarterback do Carolina Panthers tem uma legião de apreciadores. Seu jogo é atraente, tem eficiência só no mundo da fantasia e em seus torneios. Na última quinta-feira, contra o atual campeão da NFL, New York Giants, Cam Newton fez sua pior partidas na liga e mostrou quem realmente é: um QB com potencial para empolgar, longe de convencer entre os grandes atletas da posição.

Dizer que ele conseguiu marcar um touchdown na corrida acrescenta o quê? Aquela pessoa iniciante no futebol americano aprende primeiramente que cada um dos 11 jogadores de ataque exercem determinada função. A do quarterback é ser responsável por armar as jogadas: passar a bola através do jogo aéreo e, se optar pela corrida, entrega a bola para um especialista (running back).

...entrega a bola para um especialista”.

Na temporada passada, mesmo não merecendo, Newton levou o troféu de melhor novato do ano, escorado no recorde que quebrou de touchdowns marcados através da corrida: 14. Mesmo em seu primeiro campeonato, entrou para a história com estes 14 TD’s que anotou correndo com a bola. Um número insignificante para um QB. Ou você conhece Steve Grogan?

Newton conseguiu outros números tão expressivos pelo tamanho que cegaram analistas a ponto de dizer que o ano de 2011 do QB dos Panthers foi o melhor da história em toda a NFL para um novato. Somando as duas primeiras partidas, ele registrou 854 jardas áreas, até então recorde absoluto, mas quebrado pelo QB do New England Patriots, Tom Brady, na mesma segunda rodada. Terminou a temporada com 4.051 jardas aéreas, recorde histórico entre calouros.

Quantas vitórias? 5!

Difícil afirmar que Newton foi o melhor novato de 2011 se nem foi o melhor jogador da posição...

O quarterback do Cincinnati Bengals, Andy Dalton, levou seu time aos playoffs, vencendo 9 jogos, 5 destes fora de Cincy. É um jogador com mais qualidade e inteligência.

Logo, dizer que Newton teve a melhor temporada de um QB novato da história da liga é supervalorização rasa. Nem precisa viajar muito no tempo para enterrar esta falácia, basta ficar na atual década.

Em 2004 Ben Roethlisberger estreou no Pittsburgh Steelers. Com desempenhos espetaculares de aproveitamento de passe e média de jardas áreas por jogo, Big Ben, como é conhecido, liderou o time dourado e preto para ganhar 13 jogos (!), todos em sequência.

Um excelente atleta, com um porte físico avantajado, Newton usa habilidade na corrida para obter vantagem. Estratégia que deve ser pontual na NFL, utilizada meticulosamente. Se for algo tratado como prioridade, a carreira do QB será medíocre – se não for encerrada precocemente. Para ser diferente disto, Newton terá de ser a exceção e não a regra.

De 1978 até 2011, seis quarterbacks anotaram 8 ou mais touchdowns numa única temporada: Kordell Stewart, Daunte Culpepper, Steve McNair, Michael Vick e Vince Evans. Destes, quem sobressaiu foi McNair, MVP da NFL em 2003, temporada que teve a melhor média da carreira em jardas através do passe (8,0 por jogo), correu apenas 38 vezes com a bola – em 2002 correu 82 vezes – e das temporadas que foi titular em mais que 10 jogos (9 de 13) registrou nessa o maior número de TD’s (24) e menor de interceptações (7). Ou seja: deixou de ser um RB responsável por lançar a bola e se concentrou apenas em sua função.

Será que Cam Newton consegue ser um QB puro?

Não que ele precise mudar apenas por luxo. Mas caso queira ser relevante na liga, colecionar vitórias e ter durabilidade, não dá para manter a atual forma de jogar.

Hoje as regras da NFL favorecem o jogo aéreo e o poder do braço de Newton com Steve Smith de alvo (um dos mais habilidosos receivers da liga) apresenta-se como oportunidade única para que o quarterback direcione seu foco no passe visando seu próprio bem. Também há outro detalhe: os Panthers têm dois exímios corredores e especialistas no ramo (Jonathan Stewart e DeAngelo Williams).

A nova mentalidade de Newton dentro de campo tem de vir junto com uma postura mais madura fora das quatro linhas. A pífia performance contra os Giants (3 INT, 0 TD e um índice de QB de 40.6, marca mais baixa da carreira) pôs em sua face um semblante desolador, triste. Cabisbaixo, recebeu uma merecida bronca de Smith, alertando Newton sobre esta atitude negativa, não condizente com quem almeja ser líder. É recorrente este comportamento dele, criando um clima ruim entre seus companheiros desde o campeonato passado.

Ron Jaworski, comentarista da ESPN e ex-quarterback (anos 70 e 80 – 17 temporadas) elaborou um ranking dos QB’s-2012 e colocou Newton na 15ª posição, bem no centro da classificação de 30 jogadores. Simboliza o atual status dele, com a possibilidade de avançar e chegar entre os QB’s da NFL que honram o cargo que exercem.

No mínimo eu colocaria Newton três lugares abaixo, sendo ultrapassado por Dalton, Alex Smith (49ers) e Sam Bradford (Rams) – sem argumentar os casos de Mark Sanchez (Jets), Josh Freeman (Buccaneers) e Carson Palmer (Raiders).

Se não escolher a mudança, Newton vai ficar aí mesmo na mediocridade. Fazendo sucesso entre os fãs, assediado pelos marketeiros, querido pelos analistas e preterido pelos treinadores. Quem tem por objetivo vitórias e conquistas não vai escolher para ser QB um jogador que não faz a função com primazia.

Porém no mundo da fantasia é diferente, seu espaço lá é garantido.


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Grant Halverson / Getty Images

Nenhum comentário:

Postar um comentário