Michael Vick, o perdão e o esquecimento


Quando você olha para o rosto de Michael Vick, qual primeiro pensamento que vem à mente: um jogador de football? Quarterback do Philadelphia Eagles? Popular personalidade esportiva? Vil ser humano que maltratava cachorros em rinhas?

Se esta última imagem aparece na sua memória prontamente, pode ser que você ainda não o perdoou. Mas será possível isto, mesmo de longe? É necessário esquecer o que ele fez para perdoar?

Difícil. As lembranças da vida/carreira de Vick passarão pelo cominho que o levou à prisão por organizar "lutas" entre os animais. Porém a pena foi cumprida, mostrou ações de arrependimento e os Eagles decidiram seguir em frente com o time alicerçado no camisa 7. Para tanto, na semana passada, fechou um contrato com o jogador que gira em torno dos US$ 100 milhões por 6 anos. A franquia pode não ter esquecido o que ele fez, mas mostra que perdoou.

Michael é o primeiro atleta da NFL a assinar dois contratos no valor igual ou maior que US$ 100 milhões – em 2004 com o Atlanta Falcons: US$ 130 milhões por 10 anos. Na história dos esportes americanos, ele é apenas o terceiro jogador a firmar dois contratos neste valor: os outros são Shaquille O’Neal (NBA) e Alex Rodriguez (MLB). Seu salário anual é similar ao que recebem os QB’s Peyton Manning (Indianapolis Colts) e Tom Brady (New England Patriots). Porém resquícios do passado estão vivos e irão afetar esta grana toda destinada a Vick.

Uma das intenções dos Eagles era renovar com seu QB para dá tranquilidade a ele, dando recursos para quitar as dívidas que tem com muitos credores. O valor estipulado destes débitos é de US$ 20 milhões. Existe uma determinação judicial que limita o recebimento mensal (gastos pessoais) de Vick à US$ 300 mil até que toda sua dívida seja paga. Então Michael, por mais que desejasse, não poderia gastar seu dinheiro á vontade (e nem deve fazer isto quando for permitido).

Mais do que a enorme quantia de dólares, é emblemático o apoio que o seu atual clube dá, não apenas por acreditar no seu potencial dentro de campo, mas na renovação vivida fora dele. Os Eagles participaram como elo principal na “Operação Michael Vick” e mostram integridade ao continuar apoiando a ousada iniciativa tomada em 2009.


Grandes patrocinadores, como Coca-Cola, Nike e Kraft cancelaram seus acordos com Vick assim que foi divulgada as informações sobre rinhas e descaso com os cães da raça pit bull. Observavam claramente a perda da credibilidade e de uma idônea imagem para relacionar os produtos. Vick ficou sem caixa nenhum, contudo sua transformação iria trazer de volta os contratos publicitários; questão de tempo.

Coloca-se na posição de uma grande corporação que um dia teve trabalhos com Michael e que, após ver o sucesso da sua recuperação, quer retomar a antiga parceria. Como aproximar dele sem causar rejeição do público? Como aproximar dele e associar novamente o logo da empresa à imagem do atleta? Quem esteve numa situação similar a essa foi a Nike que a menos de um ano assinou novamente com Vick – os atuais patrocínios dele são: Nissan, MusclePharm e Unequal Techonologies.

Estas empresas que fizeram um novo vínculo com Vick esqueceram ou perdoaram?

Nestes dois anos de retorno à NFL e assinatura do novo contrato, as atitudes do QB foram vigiadas de perto. Ele mostrou se cuidar mais (apesar de isolados incidentes), a ter mais respeito por si próprio, a focar mais na oportunidade de transmitir uma lição. Este último quesito foi exercido no meio do semestre de 2011 num discurso dado à cinco colégios da Filadélfia na formatura de alunos oriundos de uma infância problemática, envolvidos com drogas, armas e álcool. Os estudantes escolheram Vick para fazer o discurso com o intuito de ser um testemunho que situações delicadas e adversas podem ser transformadas em momentos felizes e prósperos.


A dúvida sobre o novo comportamento paira na mente de alguns, mas uma confissão de alguém especial faz com que, no mínimo, seja considerado o lado da redenção. Desde a saída de Vick da cadeia, Tony Dungy (foto acima), ex-treinador do Indianapolis Colts (campeão do Super Bowl XLI - 2006), atual comentarista da rede NBC, agiu como um tutor para Michael. Sua função consistia em mostrar o caminho luminoso para Vick andar e defendia seu pupilo perante quem quisesse o questionar sobre. Logo criava a seguinte associação: “Se Dungy, homem integro e de caráter, está do lado de Michael Vick, então algo de bom está acontecendo”.

Dungy diz sobre esta recuperação de Vick: “Foi uma história de sucesso desde o começo. Sempre vi Michael como uma pessoa transformada. Filadélfia deu a ele a chance de ser o quarterback número 3 e ele administrou bem esta situação, fazendo o que fora determinado e exigido dele”.

Dungy trabalhou com Vick uma meta de mudança de atitude, de uma nova perspectiva de vida. Em nenhum momento a ideia de apagar os erros do passado foi cogitada - estes estão registrados e ao alcance de todos. O foco era ser um homem responsável, ciente da sua representatividade e ações. Michael busca no seu cotidiano aplicar isto e o fruto está sendo colhido agora: novo contrato milionário, quatro novos patrocínios...

O perdoar e o esquecer ficam ao cargo de cada um.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Kevin C. Cox / Getty Images

Um comentário:

PHenriques disse...

Há Coisas IMPERDOÁVEIS e INESQUÉCIVEIS por serem Tão BÁRBARAS e DESUMANAS!!!
Não há PENA DE MORTE na América???(concordo em Casos Destes)!!!!

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