Dizem que toda brincadeira tem um ponto de verdade.
Em 2005, um técnico de um dos clubes da NFL disse na semana do draft que não escolheria o quarterback Ryan Fitzpatrick “porque não quero alguém no elenco mais inteligente do que eu”. A frase foi seguida de risadas, mas a “piada” gerou um sorriso amarelo e sem graça. Os dias daquele draft foram se estendendo até que na sétima rodada, escolha número 250, o Saint Louis Rams pegou o QB formado em Economia pela conceituadíssima Universidade Harvard.
Assim Fitz era conhecido: “o QB de Harvard”. O prestígio de estudar numa das melhores universidades do mundo lhe trouxe prejuízos por justamente, como ele mesmo brinca, escolher o emprego que ser formado em Harvard não acrescenta muita coisa – ou pior, subtrai.
Não deu certo com os Rams nos dois danos que lá ficou. Ingressou em Cincinnati, mas também não vingou nos Bengals por mais de dois anos. Até que chegou em Buffalo, só que nada de luxo no começo: tinha que lutar por uma vaga no elenco final do time da temporada 2009-10 composto por 53 jogadores.
Conseguiu um espaço no time como terceiro QB. Os treinos o fizeram ser o QB número 2. Então vem os rótulos de reserva veterano. Em 2009 jogou como titular em 8 partidas, nada suficiente para garantir o emprego na temporada seguinte. O QB Trent Edwards começa o campeonato de 2010 como titular, porém perde a posição no final do mês de Setembro e num duelo contra o New England Patriots, Fitz volta à titularidade.
Levou três jogos para a prorrogação (perdeu todos) e venceu quatro partidas. Aquele cara que veio para completar o elenco mostrou em campo a qualidade de um grande QB e em 2011 os Bills decidiram fazer dele o quarterback titular na semana 1, algo inédito em sete anos de carreira.
Só a diretoria e comissão técnica dos Bills acreditavam que Ryan tinha competência para guiar o clube rumo às vitórias. Os torcedores mostravam receio, a mídia desconfiança. Uma equipe da ESPN especialista em NFL, chamada de Scouts INC., colocou Fitz antes do início da temporada como o 32º melhor QB da liga (composta por 32 clubes). Dúvidas que proviam de um olhar crítico; bastava ver ser ele seria afetado.
Após as duas primeiras semanas desta temporada, Fitz está em sexto lugar em toda a NFL na categoria “QB rating” à frente de Michael Vick, Philip Rivers e Matt Schaub. Os Bills estão com duas vitórias na classificação e não tem um começo tão empolgante desde os áureos anos 90, time comandado pelo QB Hall da Fama Jim Kelly. Foram anotados 79 pontos combinando o jogo 1 e 2, segunda melhor marca na história da franquia – a primeira é 87 pontos na temporada 1991-92.
O jogo de domingo contra o Oakland Raiders foi um claro exemplo da diferença de comportamento do elenco. Mesmo sendo contra os Raiders, a vitória valeu pela recuperação construída no segundo tempo. Perdendo por 21 a 3, os Bills marcaram um touchdown em cada posse de bola na segunda metade do jogo (5 vezes – partida terminou 38 a 35). Foi o primeiro clube desde o Pittsburgh Steelers em 2007 a marcar um TD em cada posse de bola no segundo tempo; dos clubes que fizeram isto nos últimos 15 anos, os Bills são os únicos a marcar 5 TD’s.
Fitz foi extremamente eficiente completando 69% dos passes para 10 jardas ou menos, um ponto fraco em anos passados. Seu melhor jogo se mostrou no momento que mais precisou, faltando 3m41s para o término do confronto e os Bills perdendo (35 a 31). Fitz completou um incrível drive de 80 jardas/14 jogadas, convertendo duas 4 descidas, incluindo a que deu o TD da vitória.
Esta atuação serviu de resposta à bela performance de Ryan na estreia fora de casa contra o Kansas City Chiefs. Argumentavam por aí que ele produziu bons números sim, mas será que manteria o nível? Agora o questionamento é como Fitz vai jogar contra um time de verdade, encontro da próxima semana contra os Patriots em Buffalo.
O resultado natural é perder, isto se espera. No máximo pode ficar em terceiro na forte divisão Lesta da Conferência Americana. Mas será o Buffalo um time com condições de ir aos playoffs (última aparição em 1999)? Se nem tanto, Fitz pode levar sua equipe a computar mais vitórias que derrotas ao final da temporada (última vez que aconteceu foi em 2004)? Tudo o que estava a cargo de Fitz ele fez, além de executar um plano B que o ajudou a se aproximar dos seus receivers.
Durante o lockout 2011, Steve Johnson e Donald Jones foram convidados para se hospedarem por uma semana na casa que Fitz tem na cidade de Gilbert, estado do Arizona. Sua esposa e filhos cederam o lar para os marmanjos poderem se familiarizar um com outro e assimilar melhor o livro de jogadas (playbook). O trabalho extra rendeu boas gargalhadas e mostra que tem possibilidade de produzir bons frutos. E ambos os WR’s tem uma origem similar a de Fitz: Johnson foi draftado também na 7ª rodada e Jones sequer foi escolhido.
O QB camisa 14 gosta de reafirmar que seus companheiros são caras que necessitam provar alguma coisa. Muitos preteridos por outros clubes se juntaram em Buffalo e podem formar uma unidade capaz de surpreender. Nesta lista de jogadores estão David Nelson, WR (não draftado) e Scott Chandler, TE (ex-membro da equipe de treinos do Dallas Cowboys e cortado em Dezembro de 2010).
Para aliviar a pressão de Fitz e de seus companheiros no jogo aéreo, os Bills têm outro não draftado que está produzindo ótimos números. Fred Jackson (foto acima) é hoje o running back com mais jardas na liga (224), uma média de 6.5 jardas por corrida. O que dá uma variedade grande pro ataque, deixando Fitz com mais uma excelente alternativa na execução do jogo ofensivo.
A diretoria dos Bills acredita que a melhor opção para comandar o time em campo é Fitzpatrick. Mesmo com a 3ª escolha no draft deste ano, optaram pela defesa e pegaram o DE Marcell Dareus. Não arriscaram num QB, imaginando que uma situação como a atual tinha plena probabilidade de ser concretizada. Com apenas estes dois jogos de Fitz em 2011, as conversas para renovação de contrato brotam pelos quatro cantos. Alguns apostam que um acordo deve ser feito logo antes que o preço do jogador aumente; outros defendem uma espera para observar o que acontece nas próximas rodadas. Uma tabela duríssima vem pela frente e dos 14 jogos restantes, só quatro se apresentam como provável vitória (em casa contra os Redskins, Titans, Dolphins e Broncos).
Como precipitação não é saudável, Fitz vai encarar uma partida por vez e mostrar o seu melhor. E em duas semanas pôde-se perceber que este melhor é oriundo de um caminho percorrido com muitas dificuldades, precisamente o percurso que poucos fazem.
Sabedor que a cada dia cabe o seu mal.
Em 2005, um técnico de um dos clubes da NFL disse na semana do draft que não escolheria o quarterback Ryan Fitzpatrick “porque não quero alguém no elenco mais inteligente do que eu”. A frase foi seguida de risadas, mas a “piada” gerou um sorriso amarelo e sem graça. Os dias daquele draft foram se estendendo até que na sétima rodada, escolha número 250, o Saint Louis Rams pegou o QB formado em Economia pela conceituadíssima Universidade Harvard.
Assim Fitz era conhecido: “o QB de Harvard”. O prestígio de estudar numa das melhores universidades do mundo lhe trouxe prejuízos por justamente, como ele mesmo brinca, escolher o emprego que ser formado em Harvard não acrescenta muita coisa – ou pior, subtrai.
Não deu certo com os Rams nos dois danos que lá ficou. Ingressou em Cincinnati, mas também não vingou nos Bengals por mais de dois anos. Até que chegou em Buffalo, só que nada de luxo no começo: tinha que lutar por uma vaga no elenco final do time da temporada 2009-10 composto por 53 jogadores.
Conseguiu um espaço no time como terceiro QB. Os treinos o fizeram ser o QB número 2. Então vem os rótulos de reserva veterano. Em 2009 jogou como titular em 8 partidas, nada suficiente para garantir o emprego na temporada seguinte. O QB Trent Edwards começa o campeonato de 2010 como titular, porém perde a posição no final do mês de Setembro e num duelo contra o New England Patriots, Fitz volta à titularidade.
Levou três jogos para a prorrogação (perdeu todos) e venceu quatro partidas. Aquele cara que veio para completar o elenco mostrou em campo a qualidade de um grande QB e em 2011 os Bills decidiram fazer dele o quarterback titular na semana 1, algo inédito em sete anos de carreira.
Só a diretoria e comissão técnica dos Bills acreditavam que Ryan tinha competência para guiar o clube rumo às vitórias. Os torcedores mostravam receio, a mídia desconfiança. Uma equipe da ESPN especialista em NFL, chamada de Scouts INC., colocou Fitz antes do início da temporada como o 32º melhor QB da liga (composta por 32 clubes). Dúvidas que proviam de um olhar crítico; bastava ver ser ele seria afetado.
Após as duas primeiras semanas desta temporada, Fitz está em sexto lugar em toda a NFL na categoria “QB rating” à frente de Michael Vick, Philip Rivers e Matt Schaub. Os Bills estão com duas vitórias na classificação e não tem um começo tão empolgante desde os áureos anos 90, time comandado pelo QB Hall da Fama Jim Kelly. Foram anotados 79 pontos combinando o jogo 1 e 2, segunda melhor marca na história da franquia – a primeira é 87 pontos na temporada 1991-92.
O jogo de domingo contra o Oakland Raiders foi um claro exemplo da diferença de comportamento do elenco. Mesmo sendo contra os Raiders, a vitória valeu pela recuperação construída no segundo tempo. Perdendo por 21 a 3, os Bills marcaram um touchdown em cada posse de bola na segunda metade do jogo (5 vezes – partida terminou 38 a 35). Foi o primeiro clube desde o Pittsburgh Steelers em 2007 a marcar um TD em cada posse de bola no segundo tempo; dos clubes que fizeram isto nos últimos 15 anos, os Bills são os únicos a marcar 5 TD’s.
Fitz foi extremamente eficiente completando 69% dos passes para 10 jardas ou menos, um ponto fraco em anos passados. Seu melhor jogo se mostrou no momento que mais precisou, faltando 3m41s para o término do confronto e os Bills perdendo (35 a 31). Fitz completou um incrível drive de 80 jardas/14 jogadas, convertendo duas 4 descidas, incluindo a que deu o TD da vitória.
Esta atuação serviu de resposta à bela performance de Ryan na estreia fora de casa contra o Kansas City Chiefs. Argumentavam por aí que ele produziu bons números sim, mas será que manteria o nível? Agora o questionamento é como Fitz vai jogar contra um time de verdade, encontro da próxima semana contra os Patriots em Buffalo.
O resultado natural é perder, isto se espera. No máximo pode ficar em terceiro na forte divisão Lesta da Conferência Americana. Mas será o Buffalo um time com condições de ir aos playoffs (última aparição em 1999)? Se nem tanto, Fitz pode levar sua equipe a computar mais vitórias que derrotas ao final da temporada (última vez que aconteceu foi em 2004)? Tudo o que estava a cargo de Fitz ele fez, além de executar um plano B que o ajudou a se aproximar dos seus receivers.
Durante o lockout 2011, Steve Johnson e Donald Jones foram convidados para se hospedarem por uma semana na casa que Fitz tem na cidade de Gilbert, estado do Arizona. Sua esposa e filhos cederam o lar para os marmanjos poderem se familiarizar um com outro e assimilar melhor o livro de jogadas (playbook). O trabalho extra rendeu boas gargalhadas e mostra que tem possibilidade de produzir bons frutos. E ambos os WR’s tem uma origem similar a de Fitz: Johnson foi draftado também na 7ª rodada e Jones sequer foi escolhido.
O QB camisa 14 gosta de reafirmar que seus companheiros são caras que necessitam provar alguma coisa. Muitos preteridos por outros clubes se juntaram em Buffalo e podem formar uma unidade capaz de surpreender. Nesta lista de jogadores estão David Nelson, WR (não draftado) e Scott Chandler, TE (ex-membro da equipe de treinos do Dallas Cowboys e cortado em Dezembro de 2010).
Para aliviar a pressão de Fitz e de seus companheiros no jogo aéreo, os Bills têm outro não draftado que está produzindo ótimos números. Fred Jackson (foto acima) é hoje o running back com mais jardas na liga (224), uma média de 6.5 jardas por corrida. O que dá uma variedade grande pro ataque, deixando Fitz com mais uma excelente alternativa na execução do jogo ofensivo.
A diretoria dos Bills acredita que a melhor opção para comandar o time em campo é Fitzpatrick. Mesmo com a 3ª escolha no draft deste ano, optaram pela defesa e pegaram o DE Marcell Dareus. Não arriscaram num QB, imaginando que uma situação como a atual tinha plena probabilidade de ser concretizada. Com apenas estes dois jogos de Fitz em 2011, as conversas para renovação de contrato brotam pelos quatro cantos. Alguns apostam que um acordo deve ser feito logo antes que o preço do jogador aumente; outros defendem uma espera para observar o que acontece nas próximas rodadas. Uma tabela duríssima vem pela frente e dos 14 jogos restantes, só quatro se apresentam como provável vitória (em casa contra os Redskins, Titans, Dolphins e Broncos).
Como precipitação não é saudável, Fitz vai encarar uma partida por vez e mostrar o seu melhor. E em duas semanas pôde-se perceber que este melhor é oriundo de um caminho percorrido com muitas dificuldades, precisamente o percurso que poucos fazem.
Sabedor que a cada dia cabe o seu mal.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
© 1 Getty Images
© 2 Peter Aiken / Getty Images
© 3 Rick Stewart / Getty Images
Um comentário:
ótima história...ótimo final biblico .acho que fitz poderá ganhar as duas dos dolphins e também, do bengals
Postar um comentário