O que há de tão sagrado no football da Universidade de Notre Dame?


Seguindo o movimento das universidades americanas de formar maiores e melhores conferências, Notre Dame, localizada na cidade de South Bend, estado do Indiana, deixa a Big East e leva todos seus esportes para competir na ACC; menos o football (e o hockey). A equipe de futebol americano decidiu manter a independência porque é mais lucrativo em curto prazo e mantém sua tradição. Mas esta opção prejudica o recrutamento e, consequentemente, a qualidade (vitórias) do time.

Entre todas as universidades que disputam a primeira divisão da NCAAf, Notre Dame é uma das duas que são independentes (a outra é Brigham Young). Contudo a ordem da NCAA está mudando com super conferências se formando e justamente a Big East está sendo a mais prejudicada, perdendo importantes nomes, ganhando assim o status de mais fraca das seis principais. A saída de Notre Dame, logo, era questão de quando.

Em 1999, a universidade considerou deixar de ser independente para se juntar à Big Ten. Em 2012 a Big Ten repetiu o assédio, mas Notre Dame não quis romper com o sagrado. As conferências Big 12 e ACC aceitaram negociar com os Fighting Irish num compromisso parcial e Notre Dame escolheu a última por ser mais conveniente.

Comprometimento parcial nunca é bom quando se quer algo duradouro.

O que Notre Dame considerou foi a relevância que ainda lhe resta – pouco e que pode ser perdida. Hoje, o time de football se sustenta mais nas glórias do passado, podendo sim dizer que é o campeão dos campeões, embora não seja o time que agora dá bola.

Na ACC, eles poderão organizar os jogos conforme querem, desde que 5 das 12 partidas da temporada sejam agendadas com times da conferência. Nada muito diferente do que acontece neste ano: Miami, Boston College e Wake Forest estão na tabela – sem contar Pittsburgh, outra universidade que saiu da Big East. Desta forma, Notre Dame pode manter históricos confrontos que ajudaram a equipe de football ganhar valor em todo o EUA e receber notoriedade nacional.

Jogos contra Michigan State, Michigan, Texas e USC provavelmente irão continuar na rotina, rivalidades que datam do século XIX (!) – primeiro jogo de football dos Irish foi contra Michigan em 1887. Outros confrontos de praxe contra Navy (Marinha) e contra Stanford também devem continuar.

O contrato exclusivo com a emissora NBC (TV aberta) permanece – se houvesse afiliação completa com outra conferência, teria de adaptar aos contratos vigentes com a respectiva emissora detentora dos direitos. Todos os jogos em South Bend são transmitidos pela rede NBC nacionalmente, única equipe esportiva de toda a América que tem esse tratamento.

Ser independente dá ao time outro mimo: se ficar em oitavo ou melhor posição no ranking BCS ao final do campeonato, tem qualificação automática para os um dos 4 principais Bowls. Só membros das tais 6 grandes conferências que tem a possibilidade de ir automaticamente para um dos Bowls.

Esses dois argumentos citados são usados para atrair recrutas vindo do ensino médio (high school). Só que os adolescentes preferem ir para uma universidade que não apenas tem uma bela história de triunfos, mas que tenha condições de vencer agora – de preferências jogando constantemente contra equipes fortes e semana após semana aparecendo na TV. Fora que tem a rigidez ao exigir aplicação do atleta nos estudos, fator que afasta muitos jovens da universidade católica.

O currículo de Notre Dame é legal e tudo mais, mas a última vez que terminaram em primeiro lugar no ranking foi em 1988, ano da conquista do mais recente título nacional. Desde então, a melhor colocação foi um segundo lugar em 1993. Faz quatro anos que não terminam entre os 25 rankeados...

Inegável é a influência que os Irish têm, que os levaram a um nível de sagrado, de imaculado, de ter no campus e perto do estádio um touchdown Jesus, de ser aqueles que não se misturam e não seguem a tendência; o que está mudando, é verdade. Apesar do meio caminho andado, o que tem de ser levado em consideração é que pelo menos estão no caminho.

Resta colocar um telão de LED no estádio... (blasfemy!!!)

Veja uma pequena lista dos feitos do football de Notre Dame, que atualmente não está em evidência exatamente por não vencer/convencer, mas têm todas estas conquistas:

- Ao final da temporada 2011, Notre Dame soma 104 temporadas com mais vitórias que derrotas em 123 anos de atividade no football – 6 temporadas terminaram empatadas.

- Ao final da temporada de 2011, Notre Dame teve 185 atletas nomeados para a seleção final do campeonato (All-American) em toda história, mais que qualquer outra universidade.

- Notre Dame tem 48 jogadores e treinadores no College Football Hall of Fame, mais que qualquer outra universidade.

- Dos atletas formados em Notre Dame que entraram na NFL, 10 estão no Pro Football Hall of Fame, ficando atrás apenas da USC, com 11, entre as universidade com mais alunos no salão do football profissional.

- Notre Dame é a segunda universidade em toda história da NFL a ter mais jogadores escolhidos no draft (até 2011): 469. A primeira neste ranking também é a USC: 472.

- De 1900 pra cá, Notre Dame é a segunda que tem mais títulos nacionais de football na NCAA: 13; empatada com Michigan e atrás de Alabama (14).


(GL)
Escrito por João da Paz

Um comentário:

Levi Carvalho disse...

Discordo quanto a prejudicar o recrutamento.

Notre Dame é um dos únicos programas que tem apelo nacional,e se manter independente é uma forma de jogar com times de todas a regiões,facilitando consequentemente o recrutamento.

Por exemplo: todo ano Notre Dame joga uma partida na Califórnia, exatamente pelo apelo com os recrutas de lá.

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