A melhor ação de David Stern: fazer com que os jogadores da NBA se vistam como adultos


O comissário da NBA, David Stern, começou a exercer seu cargo em 1984. Antes do início da temporada 2012-13 Stern anunciou que deixará de ser o comandante da associação em Fevereiro de 2014, encerrando ciclo de 30 anos a frente de uma das principais ligas esportivas do mundo. Entre tantas inovações e conquistas está a mudança que deixou Allen Iverson chatiado (foto acima).

No dia 1º de Novembro de 2005, há 7 anos, Stern impôs o código de vestimenta nos jogadores da NBA, atitude necessária para melhorar a imagem da liga que sofria arranhões sensíveis ano após ano em meio à depressão pós-Michael Jordan. O personagem símbolo dessa campanha, indiretamente, foi Allen Iverson (então armador do Philadelphia 76ers). Com mérito, diga-se, pois este era o look dele:


Não foram muitos atletas que se opuseram ao código, mas Iverson foi um dos que acharam injusto a ordem de como se comportar e se vestir. A legitimidade desta regra da NBA sofreu questionamentos primários, porém com um raciocínio no mínimo coerente chega-se a conclusão que a medida tem suas razões.

A primeira linha do código descreve claramente o objetivo principal: “É obrigatório que os jogadores usem trajes Executivos Casuais em qualquer atividade que representam sua franquia ou negócios da liga”. Ou seja, um pequeno lembrete para que adultos milionários deixassem de se vestir como adolescentes do mundo hip-hop.

O pivô Marcus Camby, hoje no New York Knicks, teve a cara de pau de dizer que a NBA deveria dar aos jogadores um “bônus terno”, grana extra para que pudessem comprar as vestimentas executivas...

Iverson foi mais incisivo. Em entrevista à rede inglesa de notícias BBC disse: “O alvo desta regra são caras que se vestem como eu, caras que vestem hip-hop”. Sim, Iverson foi o bom modelo de como um jogador não deve se apresentar. Ele era a grande estrela da liga e tinha acabado de ser o MVP do Jogo das Estrelas (pela segunda vez) e o cestinha da liga (pela quarta vez).

Uma ação precisava ser feita para corrigir a reputação dos jogadores da NBA, em baixa visto que sofria a rotulação de thug players (jogadores bandidos). Iverson, também à BBC, expôs a verdade que “... se o cara é um assassino, coloca um terno nele que continuará sendo assassino”. Mas como a aparência conta muito, essencialmente numa indústria bilionária que é a NBA, a ordem foi dada e quem teve juízo obedeceu.

O código de vestimenta causou debate sobre o direito do cidadão de se vestir como quiser. Não foi vetado esse direito, inválido sob jurisdição da associação, entidade privada que tem poder para exigir que seus subordinados se comportem de um modo determinado – como fazem as grandes empresas e corporações, por exemplo. Um dos pontos do código fala especificamente sobre a proibição do uso de “correntes, pingentes, medalhões sobre o traje”, artigos típicos da cultura hip-hop. Os contrários argumentavam contra isso usando a lei americana dos Direitos Civis.

A Lei dos Direitos Civis de 1964 é divida em capítulos que discorrem sobre os crimes de discriminação contra raça, etnia, nacionalidade, religião e gênero. No capítulo sete (Title VII) há recomendações sobre o trato com empregados e a proibição de discriminá-los. Não houve sustentação contra o código de vestimenta da NBA porque Stern não ordenou que os jogadores não fossem contratados (ou demitidos, ou desfavorecidos) por se vestir com um estilo específico. Claro, quem não cumpre as normas estabelecidas é multado, mas permanece com seu emprego e status. A ordem imposta tinha um objetivo: manter a... ordem.

A oposição ao código se escorou na hipocrisia ao argumentar que a NBA bania as roupas hip-hop mas usava a cultura como forma de vender o seu produto: músicas rap nas arenas, um vídeo game chamado de NBA Ballers (que exacerba a ligação basquete/hip-hop), aceitação das bermudas longas no uniforme padrão dos times... Contudo, apesar dessas visões contrárias, a aceitação ocorreu com maturidade.

Antes do código as franquias Knicks (New York) e Hawks (Atlanta) tinham uma cartilha similar que os membros precisavam obedecer. Clubes justamente de cidades que tem uma força significativa da cultura hip-hop, locais símbolos do movimento nos EUA. Os membros das franquias entendiam a diferença entre uma coisa (representar o clube) e outra coisa (passear com os amigos).

Jogadores de terno, ou de Executivo Casual, transmitem uma imagem mais respeitosa aos torcedores, aos sócios e aos patrocinadores. Essa era a meta que Stern queria atingir e conseguiu. Fez a NBA ser uma liga “adulta”. Olhe o armador do Los Angeles Clippers, Chris Paul, e note a diferença (Jogo das Estrelas de 2011):


E o hip-hop não foi discriminado, muito menos abandonado. Pôde ser observado nas Finais da temporada passada o estilo nerd que jogadores como Russell Westbrook e Kevin Durant do Oklahoma City Thunder, assim como Dwyane Wade e LeBron James do Miami Heat, desfilaram nas entrevistas coletivas, look popularizado pelos rapppers Chris Brown, Lil Wayne, Kanye West, e Tyga.


Visual mais aceitável do que roupas desproporcionais e fora de contexto. A concretização do ditado act your age.


(GL)
Escrito por João da Paz

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