Personalidade


Tem pessoas que são únicas mesmo... Aquelas que têm vida própria, com uma trajetória de vida incomparável. Aquelas que têm um comportamento diferente, um linguajar diferente, uma postura diferente. Aquelas que experimentaram a vida nos extremos: do nada para o tudo; do lixo para o luxo; do desprezo para o reconhecimento. Se existe alguém neste planeta que passou por tudo isso, este ser tem nome e sobrenome: Michael Oher.

O filme que mostra a sua vida – baseado no livro “The Blind Side: Evolution of a Game” – é um sucesso nos EUA impressionante (será lançado no Brasil dia 19 de Março de 2010 com o nome "Um Sonho Possível"). Para se ter uma idéia, o filme tem arrecadado mais dinheiro nas bilheterias do que a badalada sequência da série Crepúsculo (Lua Nova) e do popular 2012. Ainda colocou a atriz Sandra Bullock, que faz o papel da mãe de Oher (Leigh Tuohy), como uma indicada na categoria ”Melhor Atriz – Drama” para o Globo de Ouro 2010 e uma das favoritas ao Oscar 2010. E claro, fez de Oher uma celebridade.

Ele, porém não se prende muito a isto. Acha que, no final das contas, será como todos os outros offensive linemen da NFL e passará despercebido em meio a multidão. Oher é carismático, inteligente e aprazível, só que ele não nasceu para estar no centro das atenções e sim para ser um jogador de football – e para transformar a vida de muita gente ao conhecer sua história.

The Blind Side é fantástico. O diretor John Lee Hancock fez um trabalho primoroso e Gil Netter, produtor, conseguiu transformar em imagens o conteúdo fiel do livro – o mesmo feito com o filme Marley & Eu, também de sua produção. Como nem tudo é perfeito há uma falha no roteiro que Oher faz questão de mencionar: o filme mostra um garoto muito ingênuo e Oher diz que não era bem assim. Ele cita principalmente a parte sobre seu conhecimento de football, que ele já demonstrava, na época, ter um QI acima da média.


John Matsko, treinador da OL do Baltimore Ravens, ressalta este aspecto. Na preparação para o primeiro jogo desta temporada, contra o Kansas City Chiefs, ele ficou com Oher por uma hora e meia na sala de vídeos do clube estudando mais de 90 movimentações de Tamba Hali, DE dos Chiefs. O especialista em sacks foi parado pelo OL novato e os Ravens ainda correram 198 jardas.

Esta preparação foi diferente porque Oher teve que mudar de posição; jogou pelo lado direito da OL. Na verdade, foram apenas quatro jogos na sua posição de origem (lado esquerdo): contra Denver, Cincinnati, Detroit e Chicago. Os outros jogos foram no lado direito e ele foi titular em todas as partidas. Entra tantas coisas que chamam a atenção das suas atuações nesta temporada, uma delas é esta troca de posições que são poucos os que conseguem fazer, pois, como Matsko disse a revista Sports Illustraded...é como um golfista destro de repente jogar com a mão esquerda...”. A mudança técnica é drástica e afeta o movimento dos pés, principal recurso do OL. No jogo contra o New England Patriots ele teve que fazer esta mudança no decorrer da partida – o que é mais difícil ainda -; o OL titular do lado esquerdo, Jared Gaither, se machucou e teve que ser substituído. Nas ocasiões que Gaither ficou no Departamento Médico, foram as que Oher jogou pelo lado esquerdo.

Ele não se incomoda (ou incomodou) com isto. “Eu posso fazer, eu estou na NFL. Eu preciso ter esta habilidade de mudar” diz Oher mostrando um traço específico da sua personalidade.

Na semana 6 do campeonato (jogo contra o Minnesota Vikings) ele demonstrou mais um traço de si em campo. Mesmo sendo titular pelo lado direito, Matsko colocou Oher diversas vezes no lado esquerdo para enfrentar Jared Allen (um dos melhores DE da NFL). O novato anulou as ações do feroz veterano e ainda foi para a imprensa dizer isto aos torcedores, atitude que tirou do sério o renomado DE... Outra performance de Oher que merece destaque foi contra o Indianapolis Colts (semana 12). Os Ravens perderam, mas Joe Flacco (QB) não recebeu nenhum sack e pela primeira vez, até então, que os Colts passaram um jogo sem conseguir derrubar o QB adversário...

de pé: Sean e Leigh; sentados: Collins (irmã), Oher e Sean Jr. (irmão)

Oher é extremamente comprometido e disciplinado e isto ele aprendeu com sua família (foto acima). Todas essas atuações são acompanhadas de longos estudos e treinamentos. “As pessoas não percebem o quanto que eu trabalhei para chegar aqui e o quanto eu trabalho para melhorar minhas habilidades” diz o camisa 74. Muitos especialistas o colocam no time número 1 da Conferência Americana deste ano e entre os três principais novatos (atrás de Austin Collie – Colts e Jairus Byrd – Buffalo Bills). Oher, depois de 14 jogos, não tem sequer uma penalização por segurar o adversário – falta comum entre os OL. São apenas 9 penalizações para 55 jardas – a maioria vinda de saída falsa ou formação ilegal e permitiu só seis sacks, número considerado satisfatório para um novato.

Os números são dados concretos que caracterizam Oher, colocando ele entre os melhores da NFL. As qualidades abstratas dele também chamam a atenção: “Você não precisa repetir as coisas para ele; é só dizer uma vez e pronto” diz Matsko. Colin Colinsworth, comentarista da NBC, ficou impressionado quando conversou com Oher, antes do jogo contra o Pittsburgh Steelers no domingo à noite, dizendo “...parece que ele saiu de um desses sofisticados clubes da elite...”. Sean Tuohy fala com orgulho sobre o modo que seu filho encara o dia-a-dia e ressalta o motivo maior que fez Oher atingir o seu status atual:

Michael foi abençoado com uma incrível habilidade de não se preocupar com o ontem. Sua mente está focada sempre no que está a frente e acredito que é justamente isto que fez ele superar as adversidades, porque se ele estivesse por aí se preocupando com o passado, não teria chegado aonde está hoje”.

Tem pessoas que são únicas mesmo...


(GL)



© 1 Ned Dishman / Getty Images
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PS: Leia também Vitória: A História de Michael Oher (publicado dia 29/04)

2 comentários:

disse...
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Sei que não estou só! disse...

Deus e Fiel!

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