Especial NBA - Feito no Brasil


Quem passou a acompanhar a NBA nesta década se acostumou a ver brasileiros em quadra e a percepção de quanto Leandrinho (armador do Phoenix Suns), Anderson Varejão (ala-pivô do Cleveland Cavaliers) e Nenê (pivô do Denver Nuggets) são peças relevantes no melhor basquete do mundo talvez seja um pouco ofuscada.

O que os três tem feito nestes últimos anos é louvável. Hoje há um tratamento diferenciado com os jogadores brasileiros por parte dos scouts (olheiros) da NBA que olham os atletas daqui da terrinha com mais carinho. O sucesso individual deles coincidiu com o ostracismo da seleção nacional e, de certa forma, alguns culpam os brazucas pelo fracasso, por buscarem mais o interesse pessoal do que o coletivo.

Ué?! Quem faria diferente? Quer dizer, eles são estrelas por lá, respeitados por todos e estão em busca de uma carreira de sucesso. Não há outra saída: o basquete brasileiro só voltará a se importante a nível internacional com os três participando, basta encontrar um meio termo que favoreça os dois lados da questão.

Outros jogadores poderiam estar neta mesma posição, mas um ficou marcado como uma das maiores decepções da história do draft (Rafael “Baby” Araujo, 8ª escolha em 2004 pelo Toronto Raptors, ficando a frente de Andre Iguodala e Al Jefferson) e outro preferiu, por enquanto, os euros ao invés dos dólares (Thiago Splitter, 28ª escolha em 2007 pelo San Antonio Spurs). Daqui a alguns anos, Jonathan Tavernari (universidade de BYU) e Fab Melo (iniciará a carreira universitária ano que vem em Syracuse) poderão figurar na associação.

No momento, Leandrinho, Varejão e Nenê representam muito bem o Brasil na NBA. As performances excepcionais de cada um os colocam em um patamar de respeito, que parte dos dirigentes, companheiros de time, adversários e torcedores. Em uma parceria inédita, o Grandes Ligas junto com o Bola Presa se unem para refletir sobre a representatividade do trio, criando um debate saudável e construtivo sobre quem são estes caras, o que eles vem fazendo e qual será o legado deles. O objetivo é fazer com que os fãs brasileiros da NBA, independente da preferência por qualquer um dos brazucas, compreenda os valores tangíveis e abstratos que os três apresentam em quadra a cada rodada.



Bola Presa: O Leandrinho tem condição de ser titular na NBA um dia ou está condenado a ser somente o cara que bota fogo no jogo vindo do banco?


João da Paz: Assim que o Mike D´Antoni foi para New York, pensei que ele levaria junto o Leandro, já que havia (e ainda há) a possibilidade dele ser titular com os Knicks. Ele tem jogo e condições para manter boas médias de pontos se caso isto ocorrer, mas não acontecerá com qualquer treinador ou com qualquer time. D´Antoni sempre admirou as habilidades do Leandrinho – que se encaixam perfeitamente no desenho tático do treinador – e a ida do brasileiro para NY, a meu ver, seria uma boa para ambas as partes.

Dênis: Da maneira que ele tem jogado nos últimos anos, só tem condição de ser titular em um time que não prioriza a defesa. Nos Suns sem Jason Richardson ele seria titular e jogaria bem; no Warriors era capaz dele ser usado como pivô, mas seria titular. Em qualquer outra equipe ele seria o elo mais fraco da defesa e os adversários iriam explorar isso. Se o Leandrinho quer se tornar um titular na NBA precisa melhorar a sua defesa.





Grandes Ligas: Qual jogador brasileiro é mais importante pro seu time?


Dênis: O Varejão é muito importante para o lado defensivo dos Cavs, com as faltas de ataque que cava e com os seus rebotes principalmente, mas no ataque contribui apenas com rebotes ofensivos e eventuais bandejas em pick-and-rolls. O Leandrinho já foi essencial para os Suns, mas hoje, quando não está machucado, está na sombra do Jason Richardson. Por isso o mais importante brasileiro para a sua equipe é o Nenê. Com um jogo balanceado entre ataque e defesa, sempre contribuindo com assistências, roubos e tocos, o pivô brasileiro tem sido um dos mais completos da temporada e a base para que os Nuggets tenham um dos melhores garrafões da NBA.

João da Paz: Nenê. Ano passado ele foi titular em 76 dos 77 jogos que disputou. Teve as melhores média da carreira em pontos e rebotes, dados que fizeram alguns especialistas da NBA escolherem o brasileiro como Jogador de Maior Evolução da temporada 2008-09. Neste campeonato ele está melhor nos rebotes – média de 8.6 por jogo –, estatística fundamental para conseguir se dar bem nos playoffs.



Bola Presa: Alguns jogadores do Denver tem incentivado o Nenê a ser mais agressivo nos jogos, ele respondeu dizendo que seu estilo de jogo é mais solidário do que agressivo. Ele deveria mudar o jeito de jogar?


João da Paz: Estas reclamações têm base em números, pois a média de pontos do Nenê nesta temporada é menor no segundo tempo em comparação com o primeiro. A agressividade que se pede do brasileiro é requisitada nos finais das partidas, nos momentos que ele tem condições de usar mais a sua força e explosão para marcar pontos e ser um fator de preocupação a mais para o treinador adversário que, se assim for, terá que se concentrar em marcar também o garrafão e não só o perímetro. Ele não precisa deixar de ser solidário, o que seus companheiros pedem é que, em certas ocasiões, ele ataque a cesta ao invés de forçar um passe para alguém

Dênis: Uma das grandes virtudes do Nenê é passar a bola. Não só ele tem a mentalidade de passador como sabe fazer isto muito bem (não adianta ter a boa vontade e não ter o talento!). Mas entendo a crítica dos jogadores dos Nuggets. Em alguns momentos ele está com condição de finalizar e mesmo assim passa a bola. O Nenê é bom o bastante para atacar um pouco mais do que já ataca, ao encontrar esse equilíbrio ele se tornará ainda melhor.



Grandes Ligas: Qual jogador brasileiro tem mais potencial para crescer?


Dênis: Eu vejo o Nenê já chegando perto do seu auge e o Leandrinho já deveria ter se tornado um jogador mais completo nos últimos anos – sua estagnação é uma decepção. Quem não para de evoluir e quem eu acho que mais vai crescer nos próximos anos é o Varejão. Embora ainda contribua pouco no ataque, já é bem mais do que feito no passado e em um futuro próximo ele pode ser peça importante em todos os setores do jogo para os Cavaliers.

João da Paz: Varejão. O que acontece com ele é curioso. Começou apenas 6 dos 27 jogos desta temporada, mas tem a maior média de minutos por partida dos cinco anos de carreira: 30. Em recente entrevista ao jornal local Cleveland Plain-Dealer, ele disse não se incomodar com a reserva: "...o importante não é começar em quadra a partida e sim terminar...”. Toda a diretoria e comissão técnica gostam da vontade que Varejão demonstra a todo momento que entra em quadra e reconhecem o seu valor, sabendo o quanto ele pode melhorar em diversos fundamentos – o contrato de 6 anos (US$ 42 milhões) assinado depois da temporada passada exemplifica isso.



Bola Presa: Você reconheceria o Anderson Varejão na rua se ele cortasse o cabelo?


João da Paz: Eu diria: Você é o Sandro Varejão, certo?

A cabeleira do Varejão é uma marca registrada e ele JAMAIS poderá cortá-la. Em entrevista recente a NBA TV, ele disse que quando fizeram pela primeira vez o “Dia da Peruca” – quando todos da Q Arena ganharam uma peruca imitando o cabelo do Varejão (foto acima) –, olhou todos do ginásio usando a cabeleira e pensou consigo: ”Será que eu estou olhando um espelho? (risos)”. A idéia da diretoria dos Cavaliers foi (é) fantástica e me emocionou na primeira vez que vi. O mascote, comentaristas e até as cheerleaders estavam com a peruca fazendo uma singela homenagem, porém inesquecível.

Dênis: De jeito nenhum! Eu ia parar ele na rua e falar o que eu falo para todas as pessoas altas que eu conheço: Com essa altura eu tava na NBA!



Grandes Ligas: Qual jogador brasileiro será mais lembrado daqui a 20 anos?


Dênis: Depende, lembrado por quem? Se for no mundo da NBA, será preciso montar uma história mais vitoriosa nos playoffs, Varejão tem a vantagem de já ter disputado uma final. Porém para a torcida brasileira marca muito o desempenho dos atletas na seleção e lá quem é o líder da equipe é o Leandrinho. Se nos próximos mundiais e olimpíadas o Brasil conseguir boas colocações quem ficará na memória do brasileiro será o Barbosa.

João da Paz: Leandrinho e Nenê. O fato de Leandrinho ter ganhado na temporada 2006-07 o Prêmio de Melhor Reserva da temporada (foto acima) já é suficiente para entrar na história. Ele teve bons anos no Brasil e se adaptou bem na associação – deve ser eternamente grato por ter ido para os Suns e não para o San Antonio Spurs (time que o escolheu no draft de 2003), porque sua maneira de jogar não se adaptaria ao pragmatismo do vitorioso time de Greg Popovich.

Nenê será sempre lembrado por ter voltado a atuar na NBA depois de passar por um problema grave de saúde (câncer). George Karl, treinador dos Nuggets, gosta de ressaltar a garra do brasileiro, atitude que contagia todos do elenco. Ter sido a 7ª escolha no draft de 2002 (a frente de Amare Stoudemire e Caron Butler) é também algo bastante significativo.


(GL)



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PS: Leia "Ele Não Foi Deixado Para Trás" artigo sobre o Nenê (publicado no dia 27/05)

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