A Charmosa Abelha Procura Lugar de Repouso

Literalmente a frase "propriedade da NBA” faz sentido para a cidade de New Orleans.

A franquia situada por lá, que disputa o maior campeonato de basquete do mundo, agora tem como dona a associação. David Stern, comissário, comprou os Hornets num movimento inédito e desesperador, com o objetivo de não permitir a saída do clube para outro lugar. A instabilidade em New Orleans resultado de um baixo envolvimento dos torcedores e problemas nas finanças, não atrai investidores locais – apesar de outras cidades terem interesse.

O fundador dos Hornets, George Shinn, decidiu vender sua parte majoritária da franquia (65%; por volta de US$ 300 milhões). Gary Chouest, dono minoritário (35%) calculou a possibilidade de possuir 100% dos Hornets, mas ele desistiu por não enxergar viável administrar o time de basquete e suas empresas (ramo petrolífero).

Nessa entra a NBA numa pura intervenção e terá árduas missões pela frente. Uma delas é levar torcedores para a New Orleans Arena, pois existe uma cláusula no contrato original, quando os Hornets saíram da cidade natal de Charlotte, que aborda a questão do público. Caso o clube, entre 1º de Dezembro de 2010 e 17 de Janeiro de 2011 (13 jogos em casa) não consiga colocar no ginásio 14.213 pessoas por média nestas partidas (no mínimo), a mudança de cidade pode acontecer sem nenhum empecilho. Até hoje (07/12) dois jogos foram realizados em casa dentro deste período: contra Charlotte Bobcats (publico de 10.866) e contra o New York Knicks (público de 13.865). A média total nos jogos na New Orleans Arena nesta temporada (10 jogos) é de 13.860.

Bons times vão visitar os Hornets até 17 de Janeiro como Utah Jazz, Los Angeles Lakers, Oklahoma City Thunder... Porém ver grandes times em quadra não é suficiente, afinal o próprio New Orleans faz uma bela campanha – 13v e 7d – mas não consegue incitar os moradores da cidade para irem assistir as partidas.


Outro cuidado primordial é o que fazer com o armador Chris Paul (foto acima), estrela da associação e principal jogador da equipe. Após o campeonato 2009-10 ele demonstrou insatisfação com os rumos que a diretoria estava tomando e não enxergava um futuro promissor em New Orleans. Depois de muita fofoca e conversas particulares, tudo se acertou e Paul permanece um Hornet; até quando?

Se o interesse da NBA é manter os Hornets em New Orleans, o possível e o impossível deverão ser feito para não deixar Paul sair. Caso assim seja, o desastre vem em dose dupla: o interesse dos torcedores da cidade cairá e possíveis compradores da franquia desistirão de uma futura aquisição.

Stern quer mostrar a empresários locais que os Hornets são um bom negócio e que a cidade de New Orleans tem capacidade e potencial de ficar com a franquia por um longo período. Isso pode ser visto como um conto, já que a realidade não é bem essa. New Orleans se mostrou pouco competitiva na NBA desde seu retorno ao campeonato em 2002 com os Hornets (a cidade é originária da franquia Jazz: 1974 até 1979). A partir de então houve a estadia, entre 2005 e 2007, na cidade de Oklahoma devido o furacão Katrina e somente uma boa temporada: 2007-08.

Nesse campeonato a NO Arena teve lotação máxima em 25 dos últimos 30 jogos. Os Hornets conquistaram o primeiro e único título de Divisão e foram para os playoffs como segundo colocado na Conferência Oeste; eliminado na segunda rodada. Para a temporada seguinte mais de 10.000 torcedores compraram ingressos para todos os jogos, mas o rendimento em quadra não correspondeu e o entusiasmo diminuiu drasticamente.

O fraco mercado para uma franquia da NBA, pouco dinheiro arrecadado nos acordos televisivos e essa inconsistência dos torcedores faz com que empresários não abracem a ideia dos Hornets em New Orleans. Quando o assunto muda de direção e outras cidades entram na conversa, a história é outra. Seattle e Kansas City são os locais que mostram mais qualidades em adquirir uma franquia da NBA e cada uma das cidades têm argumentos favoráveis.

A população de Seattle ficou devastada com a perda da conceituada franquia SuperSonics (virou Thunder e está em Oklahoma). Por problemas em relação a construção de um novo ginásio, o clube mudou de cidade, mas a base de torcedores continua presente a espera de um novo time. Os rumores em Seattle dão conta que Steve Ballmer, CEO da Microsoft - que tem sua sede na cidade -, está com mais dinheiro (US$ 1.4 bilhão) na praça em comparação quando tentou comprar o SuperSonics. Ele vai agir se houver a possibilidade de trazer uma franquia da NBA de volta para Seattle.

Já Kansas é uma cidade que não tem muito dinheiro, entretanto, apesar de um mercado restrito, é um local de muita paixão pelo esporte. No passado a cidade teve um clube na associação: os Kings entre 1972 e 1985. Kansas tem uma enorme vantagem porque lá tem uma arena pronta para receber jogos da NBA: o Sprint Center (foto abaixo).


O futuro é incerto para a simpática abelha que não sabe qual será o nome da cidade que estará em cima dela. Quando era Charlotte, sucesso e fama estavam com ela. A popularidade na cidade era enorme e foram registrados 358 jogos consecutivos com lotação máxima no antigo Charlotte Coliseum; até aqui no Brasil era possível ver, na década de 90, blusas e bonés com a abelha em destaque nas cores azul-petróleo e roxo.

A insistência permanece por parte de David Stern em manter os Hornets em New Orleans. As evidências são grandes para que uma mudança aconteça em breve. O prazo é curto para que uma solução seja construída e o provável se aproxima: a franquia deverá ir para uma cidade mais rentável e lucrativa.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Chris Graythen / Getty Images

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