Sansão


Ele tem a força.

Força para ser o melhor da posição. Força para seguir progredindo a cada dia. Força para receber bolas impossíveis. Força para evoluir.

Larry Fitzgerald, wide receiver (WR) do Arizona Cardinals, é dedicação pura. Nesta pré-temporada, não contente em “só” chegar ao Super Bowl, ele criou um campo de treinamento próprio para aperfeiçoar sua condição técnica e física, como se o que ele conseguiu na temporada passada não fosse o suficiente.

Nunca, isto mesmo, nunca na história da NFL um WR teve uma atuação nos playoffs igual a de Fitzgerald em Janeiro deste ano (são números impressionantes). Foram 30 recepções para 546 jardas e 7 touchdowns (TD), ultrapassando os números de 1998 do lendário Jerry Rice. Fazendo uma projeção, Larry teria 120 recepções para 2.184 jardas e 28 TD´S se ele mantivesse tal ritmo em uma temporada normal. Insano!

E ele só tem 26 anos! O melhor está por vir.

Os participantes do campo de treinamento foram especiais. Larry convidou outros receivers da liga para participar com ele das atividades realizadas no estádio da universidade de Minnesota, estado natal dele. Entre os caras envolvidos, estavam dois encarregados de ensiná-los: Chris Carter e Jerry Rice. Fitzgerald não poupou esforços para trazer duas pessoas que simbolizam a elite dos WR´s na NFL: Carter é o terceiro em recepções na história; Rice o primeiro.

Com Carter (foto ao lado, no centro), que Larry chama de “Tio”, há uma relação especial que vem do tempo que o ex-receiver jogava no Minnesota Vikings. Larry era um dos “gandulas” da equipe – começou com 12 anos de idade e só deixou a função quando foi para a universidade. Assim que os treinos terminavam ele entrava em campo e fazia alguns exercícios com Carter, Randy Moss e Jake Reed. Ao lembrar deste tempo Carter, hoje comentarista da ESPN, comenta que “poucos pegavam a bola tão alto como Fitz conseguia”.

Esta obsessão pelos treinamentos vem daí. A meta de Larry é atingir a excelência, ser o maior. O desejo de viver em busca da perfeição veio por outro motivo, porém.

Ele perdeu sua mãe, Carol, muito nova – 47 anos. Ela foi vítima de câncer de mama e morreu em 2003 quando Fitz estava jogando pela universidade de Pittsburgh. Uma das lembranças da infância que ele tem da sua mãe são as forças-tarefas que Carol organizava para aconselhar pessoas sobre a AIDS e como elas poderiam fazer para evitá-la. Carol fazia reuniões com pais que teve filhos contaminados pelo vírus HIV e encarregava Larry, junto com seu irmão Marcus, de conversar com os garotos doentes.

Depois do ocorrido com sua mãe, Larry decidiu aproveitar todo momento ao máximo e se dedicar sempre, sem mudar o foco para não desperdiçar algo que dura muito pouco: a vida.

Por isso que ele em PITT, enquanto seus companheiros faziam duas horas de treinos, ele fazia três. Enquanto seus companheiros iam para baladas e afins, ele ficava no campus estudando fitas de jogos. Os resultados destes esforços vinham em campo.

Uma declaração de um dos seus adversários da NCAA e um lance especial ficou marcado em 2003. O jogo era entre PITT e West Virginia. O cornerback Adam “Pacman” Jones foi o encarregado de marcar Fitz. Jones cometeu interferência num passe direcionado para Fitz, que mesmo assim pegou a bola. A ajuda chegou do safety Brian King que, literalmente, deu uma porrada na bola; contudo ela não se moveu nos braços de Larry. Após o jogo, Brian disse “Eu acertei a bola em cheio e teve a interferência do Pac, mas a bola ainda ficou com ele. Olhei para Adam e falei: Não há como anular este cara”.

A boa carreira em PITT rendeu a Fitz a terceira escolha no draft de 2004 – à frente de Phillip Rivers e Ben Roethlisberger. Os Cardinals talvez deixaram passar os QB´s porque o técnico da equipe na época era Dennis Green, que foi treinador dos Vikings quando Larry era “gandula” por lá. Green lembrou daqueles tempos e ficou com o garoto, algo que a franquia não se arrepende porque o WR ajudou a equipe chegar ao Super Bowl da temporada passada.

Na estado de Arizona, Larry achou o companheiro perfeito para suas jogadas acrobáticas: Kurt Warner. Em entrevista ao USA Today antes da final no começo deste ano, o QB da equipe disse “Ele realmente é bom com a bola bem alta (a impulsão vertical de Fitzgerald é de 91 cm). Eu posso jogar ela em certos lugares que só ele vai pegar e isto nos dá uma tremenda confiança.”


Confiança. Mais um aspecto que move Fitz. Ser o grande destaque, o principal nome em campo motiva Larry a crescer seu football diariamente, por mais que os números mostrem que ele já está em um bom patamar; ele sabe que o “ta bom” é inimigo do “melhor”. Fitz não aceita o mediano, o normal; ele sabe que não pode fazer isto, que não tem este direito. Lembrança que vem pela manhã toda vez que ele se olha no espelho.

As visitas ao hospital para ver sua mãe após as quimioterapias eram dolorosas para Fitzgerald. Vê-la indefesa, frágil, careca... Então ele determinou que não vai mais cortar seu cabelo pois, sempre que ele enxergar seu reflexo, irá lembrar da sua mãe e do pacto feito de se dedicar para ser o melhor, aproveitando toda a oportunidade que aparecer.

Força necessária para seguir em frente.

(GL)



© 1 Donald Miralle / Getty Images
© 2 Andrew Hancock / SI

2 comentários:

Andre Henrique disse...

muito boa a materia.. gostei msmo.. continue sempre assim....

abc

Mineiro
Ipatinga Atroz

Unknown disse...

Tenho lido com frequencia seu blog, textos muito bons, com curiosidades e informaçoes muito legais, Parabens!!!

Diogo
Cuiaba - Mt

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