Zé Alguém


A busca por quem rebate mais home runs ou a disputa por quem é o rebatedor mais forte deixou de ser o principal assunto comentado no mundo da MLB depois da era “pós-esteróides”. O lado ofensivo do jogo agora é colocar a bola em campo e ser o mais eficiente possível, o que leva a seguinte questão: Qual será o rebatedor a ter um aproveitamento ofensivo igual ou acima de 40%? - o último a conseguir tal feito foi Ted Williams (.406 BA) em 1941 com o Boston Red Sox.

Rapidamente um nome surge: Joe Mauer

Joe (José em português), catcher do Minnesota Twins, está para terminar o mês de Agosto com um BA de .390 – até 30/08 ele está com .387; a média ofensiva dela nesta temporada é de .367. Estes números não são os únicos argumentos que sustentam Mauer como o candidato mais capacitado para atingir a marca de 40% no final do campeonato, há outros fatores a favor dele.

Antes, porém, é preciso salientar: Mauer é um catcher. Isto quer dizer que ele, entre os nove jogadores do ataque, é o que menos tem que se preocupar com o bastão e sim com a defesa. A posição exige dedicação para ajudar o arremessador a escolher as melhores bolas para jogar contra os rebatedores adversários e estar sempre atento a movimentação dos jogadores nas bases. Joe sabe disso e, mesmo tendo dois títulos de melhor rebatedor da Liga Americana (2006 e 2008), a sua primeira preocupação é sempre a defesa.

A rotina dele de preparação para a partida é típica de um catcher: estudo sobre os rebatedores do time que ele está prestes a enfrentar; conversa com o arremessador do jogo... Com tanta dedicação assim, como separar um tempo para treinar o swing? A resposta para esta pergunta só engrandece mais o que Mauer faz no ataque.

Ao vê-lo rebater e perceber a naturalidade que traz para o bastão, é difícil entender que ele é um catcher. Para se ter uma noção, este .367 BA dele é igual a última melhor marca de um jogador da mesma posição em final de campeonato: Babe Phelps em 1936 com o Brooklyn Dodgers. Quando dizem que Mauer é um dos melhores rebatedores do beisebol, só estão afirmando uma verdade.

Todos os aspectos de um jogador ofensivo excelente Mauer possuiu. Raramente ele rebate no primeiro arremesso; raramente ele rebate em bolas longe da zona de strike; raramente ele se desespera quando está com dois strikes contra... No entanto, esta é uma situação que ele se sente confortável e tem um aproveitamento, nesta circunstância, cerca de 7% melhor do que a média de todos os outros jogadores da MLB.


Paciência e consistência resumem como Mauer (de branco na foto acima) encara os arremessadores adversários, que perdem a paciência e consistência quando o enfrentam. A tranqüilidade de Mauer no bastão é exemplificada por algo que ele não faz: o swing “interrompido” – ao invés de completar o swing em uma bola que não veio bem arremessada, o rebatedor segura o bastão antes de ultrapassar o home plate. Ao fazer o tal swing “interrompido”, o rebatedor mostra que está cansado e desistindo daquele confronto com o arremessador. Rick Stelmaszek, atual treinador do bullpen dos Twins e está na comissão técnica do clube há 29 anos, disse em entrevista à Sports Illustraded que viu Mauer fazer o tal swing apenas seis vezes nestes seis anos de carreira do jogador.

Durante este tempo todo ele nunca teve que lidar com uma lesão tão grave como a que aconteceu neste início de temporada, ficando fora do primeiro mês de campeonato.

Grave porque, justamente para um catcher, tal lesão é mais prejudicial. Na pré-temporada 2009, os médicos da franquia perceberam através de uma ressonância artográfica – radiografia que mostra as articulações do corpo – uma inflamação na parte baixa da coluna, perto da bacia (ou pélvis). Mauer teve que ficar de repouso para se recuperar da popular “dor nas costas” e não sentir o efeito dela quando voltasse a campo e fizesse o que todo catcher faz: se agachar e levantar a todo instante.

Tal problema não só poderia afetar seu desempenho nas partidas mas também em sua vida particular. Ele passou por momentos que não podia nem se levantar da cama, muito menos andar. Hoje são os medicamentos receitados a ele, tomados regularmente todos os dias, que o fazem ficar livre das dores e do desconforto. Contudo, é bom sempre ficar atento em como bloquear o home plate quando um jogador tentar marcar um ponto... É preciso se preparar para o choque.


Em primeiro lugar a defesa afinal...

O que Joe Mauer faz muito bem e gosta de valorizar. Talvez por que todos falam só sobre seus números ofensivos e de sua habilidade no ataque, ele sempre faz questão de se orgulhar pelo seu jogo defensivo – ele foi Luva do Ouro ano passado. Porém, como não destacar que ele está cada vez mais próximo de quebrar um recorde histórico? O mundo do beisebol esperou anos por alguém com a capacidade de quebrar a tal marca de .400 BA e Mauer é o eleito de muitos para atingir a proeza que há tempos se espera.

Mesmo sabendo disto, ele vai levando um dia de cada vez e, com seu talento, mantendo a regularidade e o alto nível de jogo no ataque, sua marca registrada.

Ele é mesmo muito mais do que um Zé Ninguém.


(GL)



© 1 Charles Rex Arbogast / AP
© 2 Chuck Crow / The Plain Dealer


PS: Leia “Competitivo e Eficiente”, texto que detalha a campanha 2009 do Colorado Rockies (publicado em 3 de Julho)

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