Além De Um Conto De Fadas


Era uma vez...

Duas amigas, duas confidentes, duas irmãs. Ambas estiveram sempre juntas nos momentos mais especiais: seja nas dificuldades, seja nas alegrias, seja nos sonhos...

Venus Williams (a mais velha) e Serena Williams (a caçula) foram criadas para ser o que são hoje: estrelas. Nada impediu que elas chegassem a este patamar: nem as mudanças de casas, nem as dificuldades, nem o preconceito.

Nasceram em Michigan (norte dos EUA), passaram a infância na Califórnia (oeste) e foram para a Flórida (sul) quando adolescentes e estão lá até hoje. O período morando em Los Angeles, no perigoso bairro de Compton (berço do gangsta rap e das gangues Bloods, Crips e Mexicans), foi o momento que elas vislumbraram ser... astronautas!

Bem, este era o desejo da mais velha quando tinha 10 anos de idade; Serena não “viajou” tanto assim. Talvez Venus quisesse se aproximar mais dos astros, ou conhecer mais de perto a origem do seu nome...

Porém, um choque de realidade é preciso. Afinal, como que uma mulher, afro, vai se tornar uma astronauta? Mais fácil é entrar nos clubes da elite sendo jogadora de tênis!

Por que não?

Este pensamento passou pela cabeça do Sr. Richard Williams, pai das garotas. Ao assistir com sua senhora uma reportagem que mostrava como eram bem sucedidas as jogadoras de tênis, ele logo fez uma proposta para sua esposa: “Vamos ter várias filhas e fazer delas jogadoras de tênis?!”. Dentro desta proposta ou não, o casal teve cinco meninas, mas só duas, a mais velha e a mais nova, mostraram um talento natural para o esporte.

O “fado madrinho”, o grande conhecedor das técnicas do tênis que viu nas meninas “um talento natural para o esporte” foi... Richard Williams! Apesar de nunca ter praticado tênis ou ter sido treinador de nada; aprendeu as nuances táticas assistindo fitas de partidas e lendo publicações sobre o nobre jogo.

Serena (esq.) e Venus (dir) em Compton.

Imagina... Duas meninas afros, “treinadas” pelo pai e vindo das quadras públicas da periferia de Los Angeles – aonde elas tinham que varrer o piso para tirar as cápsulas e projéteis de bala do chão antes de jogar. O talento, porém, sobressaiu estas adversidades e as meninas, na jornada rumo ao estrelato, foram morar em Palm Beach, Flórida, para aprimorar suas habilidades; quando Serena tinha nove anos e Venus onze.

Ao chegarem nos verdes clubes da ensolarada Flórida, as irmãs arrasaram ganhando todos os torneios que participaram e chamando a atenção de muita gente. Só que seu pai as tirou do circuito juvenil e passou, mais uma vez, a treiná-las sozinho. Isto aconteceu porque ele ouvia comentários de outros pais dizendo para suas filhas: “Como você perdeu para esta n****?!”. Richard achou melhor poupá-las deste constrangimento.

O instinto de pai deu certo. Mesmo não competindo entre as amadoras, as irmãs desenvolveram suas respectivas habilidades jogando uma contra outra. No primeiro ano de profissional, Venus jogou apenas quatro torneios da temporada, Serena jogou apenas dois, pois ainda existia o tal do conceito premeditado.

Quando Venus participou de um torneio pra valer, o US Open de 1997 com 17 anos, ela foi a primeira jogadora “não cabeça-de-chave” a chegar numa final de um torneio na era moderna; perdeu para Martina Higgins, então número 1. Nas semifinais, um episódio marcante aconteceu: ao trocar de quadra com a romena Irina Spirlea, ela trombou Venus num gesto considerado por muitos racista, expressando a idéia do “o que você está fazendo aqui?”

Fácil dizer. Juntas, elas têm 18 majors (Serena 11 e Venus 7) e venceram seis dos últimos onze. Os outros títulos deixa que Irina e a “elite” dos clubes de tênis registrem...

Outra coisa que estas pessoas podem fazer é contar quanto dinheiro elas ganharam nestas duas décadas de carreira. Para facilitar o trabalho: Venus, US$ 23 milhões, segunda colocada entre todas as jogadoras da história do tênis; Serena US$ 26 milhões, primeira colocada.

Esta quantia dar para realizar bastantes sonhos. Como o de ser estilista da Venus, que acordava de madrugada quando criança para desenhar modelos que almejava, um dia, produzir – hoje ela tem uma grife chamada EleVen.

Dar para também ser sócia de uma franquia esportiva.

Por que não?


Um super bilionário, Stepehn Ross, apresentou as irmãs como as mais novas sócias do Miami Dolphins, se tornando as primeiras mulheres afro-americanas a fazer parte de uma diretoria da NFL, espaço que nem homens afro-americanos conseguem entrar. Por morarem bem perto do clube (uma hora de carro) elas sempre foram torcedoras dos Dolphins e agora serão pessoas importantes dentro da organização

Ross, dono da franquia, delegou a elas a função de trabalho na comunidade. As irmãs serão responsáveis por divulgar a marca do clube nas periferias e agregar valor aos Dolphins, trazendo mais torcedores para o estádio e criando uma identificação mais forte dos fãs com o time.

Quem diria que aquelas irmãs chegariam a este ponto: parceiras de uma franquia na liga mais rica do mundo, caminhando tranquilamente entre os mais abastados.

Por que não?

Se elas chegaram ao topo do tênis, atropelando clubes burgueses e adversárias que a menosprezavam... Até aquela “viagenzinha” para a lua é possível...

Mas aí seria tudo perfeito demais para um conto de fadas, onde tudo pode acontecer...


(GL)


© 1 Getty Images Archive (1991)
© 2 Capa da SI – 15 de Setembro de 1997

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