Comte Explica


Eu não sei quando vou voltar a ser titular, mas serei o próximo quarterback negro a vencer um Super Bowl e irei para o Hall da Fama”.

Arrogante? Prepotente? Confiante?

Bom, esta afirmação acima vem de Vince Young, quarterback do Tennessee Titans. Lógico que tal declaração gerou diversos comentários nas ruas, programas de rádio, sites, TV´s... Entretanto, Young tem um fundamento para justificar o que disse.

O potencial que o camisa 10 tem é indiscutível, só que ele nunca o concretizou em uma forma constante, regular. Em 2007, quando Young levou os Titans aos playoffs, ele teve mais interceptações (INT - 17) do que touchdowns (TD -9) com uma média de 6,7 jardas por passe. No ano anterior ele foi eleito o novato do ano da NFL.

Em seus três anos de liga, ele tem um rate bem baixo para um QB titular: 66.8 – por exemplo, JaMarcus Russell do Oakland Raiders, que não é um primor de QB, tem um rate na carreira de 73.9. Apesar disto, Young acredita que pode ser o QB titular dos Titans nesta temporada.

A briga é com o veterano Kerry Collins, que no ano passado assumiu o posto depois de Young se machucar no primeiro jogo do campeonato. O Tennessee foi a melhor equipe da Conferência Americana na temporada normal, mas perdeu para o Baltimore Ravens nos playoffs. Collins terminou a campanha de 2008 com 12 TD, 7 INT e um rate de 80.2 (números da temporada normal). Situação que fez o treinador Jeff Fisher, em entrevista a Associated Press no começo desta pré-temporada, confirmar Collins como titular da equipe dizendo que “Vince terá que fazer o possível para ganhar a vaga”.

E isto ele está fazendo.

Young passou este período de preparação trabalhando mais tempo na academia, mais tempo no campo. O objetivo é melhorar seu condicionamento físico e técnico para chegar ao nível de football que ele tinha quando jogava na Universidade de Texas, mesmo sendo rotulado como um QB mediano no passe, porém excelente na corrida.

Estas são as características de Young e são elas que o levarão ao status que ele almeja na NFL. No universitário, este estilo de jogo colocou Vince como um dos melhores QB´s de toda a história da NCAA. 2004 e 2005 foram anos que ele foi destaque em todas as mídias, elevando sua popularidade a um patamar nunca antes visto na NCAA – muitos o consideram o jogador mais popular de toda a história do football universitário; ele até tem o “Dia Vince Young”, 10 de Janeiro, celebrado em todo o estado do Texas.


A dedicação e o trabalho carregaram Young até o reconhecimento; por isso que agora ele está fazendo o mesmo que fez em sua adolescência: trabalhando e se dedicando. Porém, o que hoje é feito para recuperar o prestígio perdido, antes era questão de sobrevivência.

Dentro de uma linha de raciocínio lógico e/ou carnal, imaginar que Young chegaria a ser um adulto já era um prognóstico positivo. Desde criança, sua vida era rodeada por alcoólatras, drogados, vândalos... O problema é que o exemplo vinha da família, pois sua mãe era uma das alcoólatras, drogadas, vândalas... Young conta que, com 10 anos de idade, ele não conseguia permanecer em casa a noite porque pessoas ficavam lá fazendo orgias e usando todo o tipo de drogas, tudo com o consentimento da mãe. Em seu quarto havia um buraco no qual ele via tudo isto e muito mais, era sua “janela para o mundo”. Ir para a rua não era uma boa opção porque ele era alvo de brincadeiras maldosas; seu apelido era “Crack Baby”.

Então, Young falou consigo mesmo dizendo:

Eu não sei o que vai acontecer comigo, só sei que eu não serei mais um ‘desses’”.

Arrogante? Prepotente? Confiante?

Comte explica.

Auguste Comte (1798-1857), filósofo francês fundador da Sociologia e do Positivismo, disse que é preciso “ver para prever, a fim de prover” frase que sintetiza o pensamento positivista. Quer dizer: enxergar a realidade e conhecê-la melhor, de modo que através de ações uma pessoa possa mudá-la, transformá-la.

Fácil era para Young ser “mais um produto do meio” e entrar na bandidagem. Caso fosse pego, por exemplo, poderia culpar sua mãe, sua família, seus amigos, o sistema... Entretanto, tomou outra atitude: não escolheu ser “mais um produto do meio” e sim ser um fator de mudança. Ao invés de ter uma postura de vítima e dizer “Assim a sociedade me fez”, ele optou por usar tal situação como estímulo para ser diferente. Ou seja:

O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós fazemos do que os outros fizeram de nós” – Jean-Paul Sartre, filósofo francês.


O pensar positivo tem os seus resultados e Vince Young sabe disto. Afirmar que “Eu não sei quando vou voltar a ser titular, mas serei o próximo quarterback negro a vencer um Super Bowl e irei para o Hall da Fama” faz parte desta idéia de acreditar que o melhor estar por vim. Ele sabe muito bem que só isto não basta, sabe que é necessário se esforçar para atingir tal objetivo; sabe muito bem porque já passou por experiência semelhante. Assim como ele escolheu ser diferente dos exemplos que tinha ao seu redor em sua infância, escolheu por meta o “Super Bowl” e o “Hall da Fama” como motivação para ser um melhor jogador hoje do que foi ontem.

Vince Young sabe que a vida é feita de escolhas.

(GL)

© 1 Nick Laham / Getty Images
© 2 John Biever / SI


PS: Leia “Às Cores Quando Não Há Palavras”, texto que traça um perfil de Rex Ryan, treinador do New York Jets (publicado em 1º de Julho)

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