Amar é... complicado. Quando se tem aquilo que agrada, é tudo uma maravilha. Quando se perde aquilo que mais gosta, é tudo uma desgraça. Para recuperar o que foi tirado, é preciso determinação, perseverança e dedicação. Joe Mazzulla (foto acima), armador da Universidade West Virginia, passou pela provação de ficar sem o que mais ama: jogar basquete.
Neste ponto da sua carreira amadora, Mazzulla olha para trás e percebe o grande vale que ultrapassou após chegar ao topo de um monte; experimentando o fel do ostracismo logo em seguida. Foi um ano e meio fora da NCAA por uma contusão no ombro esquerdo e depois de passar 32 jogos do campeonato 2009-10 na reserva e marcar míseros 2.2 PPJ, ele teve seu grande momento no Torneio deste ano ao ser fundamental na vitória da sua equipe contra a poderosa Kentucky, anotando 17 pontos e defendendo talentosos atletas como John Wall e Eric Bledsoe.
Esta foi mais uma grande atuação dele no Torneio da NCAA.
Os Mountaineers irão enfrentar Duke na semifinal do Final Four em Indianápolis neste sábado. As lembranças são boas para Mazzulla que quando ainda era segundanista, em 2008, fez uma atuação memorável contra a então número 2 Duke. West Virginia, número 7 daquela chave, derrotou os Blue Devils deixando o mundo do basquete atônito. O responsável principal por isto foi Mazzulla, que marcou 13 pontos, 11 rebotes e 8 assistências na partida.
Nada parava Joe, que começou na reserva, mas o técnico Bob Huggins o manteve em quadra assim que entrou. Duke era um time fortíssimo (os 5 titulares deste ano – Nolan Smith, Jon Scheyer, Kyle Singler, Lance Thomas e Brian Zoubek – estavam no elenco) e West Virginia controlou o confronto desde o início. Assim que o jogo aproximava do final, alguns jogadores de Duke foram mais agressivos contra Mazzulla até que Thomas, em um corta-luz no meio da quadra, deu um tackle no jogador de WV, num lance totalmente maldoso. Depois de alguns minutos, Mazzulla se levantou e continuou em quadra.
Na temporada seguinte (2008-09), Joe estava ganhando espaço no time e melhorando seu condicionamento. Até que chegou o sexto jogo do campeonato contra Ole Miss e uma colisão com um adversário lesionou gravemente o ombro esquerdo de Mazzulla.
Desta vez conseguiram pará-lo.
Os diagnósticos eram claros: cirurgia. Atestavam uma longa recuperação e que seria improvável um retorno às quadras. Ao saber desta notícia, Mazzulla ficou inconsolado, pois via futuramente sua vida seguir em frente sem o seu amor. Não enxergava nada, na verdade, já que para ele era totalmente impossível esta história ser real.
As dificuldades só aumentaram daí em diante. O veterano e temperamental Huggins, seu treinador e homem que mais confia em Mazzula, deu um veredito dúbio na época dizendo: “Nunca vi um jogador de basquete se recuperar de uma cirurgia como esta”. Palavras que tocaram profundamente o atleta, agora rotulado por todos de desacreditado.
Em momentos de devaneios, pensava até em praticar outro esporte. O basquete iria exigir muito do seu braço esquerdo (ele é canhoto) e a probabilidade de render abaixo da sua capacidade ou ficar totalmente impossibilitado de fazer movimentos com seu ombro, o fez cogitar a possibilidade de migrar para o futebol, esporte que lhe rendeu boas atuações no high school (ensino médio) e tinha um pai/treinador que poderia auxiliá-lo.
Mazzulla, porém, tinha um relacionamento íntimo com o basquete, tão intenso que era inutil ignorar. Mesmo sendo alvo de descrença, assim que os médicos o autorizaram, voltou a treinar com bola – duas horas diárias. Não sabia se voltaria a jogar de novo, nem se teria de volta seu espaço em WV, mas lá estava ele todos os dias no ginásio fazendo exercícios e arremessando a bola... com a mão direita.
Ficar longe do seu amor deixava Mazzulla desorientado. Tudo bem que ele já estava em um progresso notório, mas não era suficiente. Em Abril de 2009, quatro meses depois de entrar no departamento médico, ele foi preso acusado de brigar num bar na cidade de Morgantown, estado da Virginia do Oeste. Suspenso pela Universidade, o retorno se tornava mais distante e a depressão e comportamentos duvidosos faziam parte do seu cotidiano.
Não poderia se diferente. Sem nada proveitoso para se fazer e com um horizonte raso e sem cor, Mazzulla precisava criar um ânimo do nada, algo que servisse como força motivadora para encarar um dia por vez. Como as opções eram poucas, ele decidiu se apegar no seu amor maior e definitivamente acreditar que poderia sim retornar as quadras, dando uma sonora resposta a Huggins.
O treinador também não tinha muita escolha e aceitou Mazzulla no elenco desta temporada. Huggins é um cara de personalidade impar e a declaração dele sobre seu armador, vez ou outra, retomava sua mente. Ele não dava atenção a esta lembrança e olhava para frente, acreditando no potencial de Joe.
O simples fato de ele estar no banco de reservas já era uma vitória. Entre os principais talentos deste time dos Mountaineers, Mazzula não figura entre eles. Mas a garra e disposição que traz para a quadra nos minutos jogados fez Huggins dá mais uma oportunidade ao garoto. No Torneio da Conferência Big East 2010 (uma das mais fortes da NCAA), Mazzulla foi um dos principais nomes da equipe na conquista histórica e inédita do título. Um sinal de que coisas boas ainda estavam por vir.
No Sweet 16 do Torneio da NCAA (oitavas de final), WV jogou sem seu armador titular, o habilidoso Darryl Bryant – machucado. O jeito era ir de Mazzula e assim Huggins fez, apesar de ter iniciado a partida contra Washington com ele na reserva. Após avançar para o Elite Eight (quartas de final), o estupendo time de Kentucky é o adversário a duelar com os Moutaineers. Huggins apostou na paixão e colocou Mazzulla como titular.
Por ser um time que joga com, basicamente, quatro alas-pivôs, Mazzulla seria um peso nulo, o jogador que a “natureza” seria a responsável em marcá-lo. Ledo engano. O camisa 21 fez uma performance de gente grande, sendo um fator decisivo e atuando de forma extraordinária contra o badalado John Wall. Os ataques a cesta de Mazzulla deixaram surpresos aos que assistiam ao jogo, mostrando não ser intimidado por ninguém. Nada iria bloquear seu ímpeto de vencer.
Depois da partida, Mazzulla fez questão de mencionar Huggins. Ele, entretanto, não lembrou da declaração que seu treinador deu sobre sua recuperação. Ele lembrou da nova chance dada a ele. Embora ele tenha se comportado mal fora das quadras e ter um atestado de invalidez, Huggins o colocou no banco e o destino fez das suas: quando o treinador mais precisava, lá estava Mazzulla pronto para o combate.
O momento é de avançar rumo ao próximo desafio. Depois de superar um obstáculo intransponível, a meta é conseguir reescrever novamente a história e repetir a atuação de 2008 contra a poderosa Duke.
Se isto nunca aconteceu, não vale a pena duvidar.
Neste ponto da sua carreira amadora, Mazzulla olha para trás e percebe o grande vale que ultrapassou após chegar ao topo de um monte; experimentando o fel do ostracismo logo em seguida. Foi um ano e meio fora da NCAA por uma contusão no ombro esquerdo e depois de passar 32 jogos do campeonato 2009-10 na reserva e marcar míseros 2.2 PPJ, ele teve seu grande momento no Torneio deste ano ao ser fundamental na vitória da sua equipe contra a poderosa Kentucky, anotando 17 pontos e defendendo talentosos atletas como John Wall e Eric Bledsoe.
Esta foi mais uma grande atuação dele no Torneio da NCAA.
Os Mountaineers irão enfrentar Duke na semifinal do Final Four em Indianápolis neste sábado. As lembranças são boas para Mazzulla que quando ainda era segundanista, em 2008, fez uma atuação memorável contra a então número 2 Duke. West Virginia, número 7 daquela chave, derrotou os Blue Devils deixando o mundo do basquete atônito. O responsável principal por isto foi Mazzulla, que marcou 13 pontos, 11 rebotes e 8 assistências na partida.
Nada parava Joe, que começou na reserva, mas o técnico Bob Huggins o manteve em quadra assim que entrou. Duke era um time fortíssimo (os 5 titulares deste ano – Nolan Smith, Jon Scheyer, Kyle Singler, Lance Thomas e Brian Zoubek – estavam no elenco) e West Virginia controlou o confronto desde o início. Assim que o jogo aproximava do final, alguns jogadores de Duke foram mais agressivos contra Mazzulla até que Thomas, em um corta-luz no meio da quadra, deu um tackle no jogador de WV, num lance totalmente maldoso. Depois de alguns minutos, Mazzulla se levantou e continuou em quadra.
Na temporada seguinte (2008-09), Joe estava ganhando espaço no time e melhorando seu condicionamento. Até que chegou o sexto jogo do campeonato contra Ole Miss e uma colisão com um adversário lesionou gravemente o ombro esquerdo de Mazzulla.
Desta vez conseguiram pará-lo.
Os diagnósticos eram claros: cirurgia. Atestavam uma longa recuperação e que seria improvável um retorno às quadras. Ao saber desta notícia, Mazzulla ficou inconsolado, pois via futuramente sua vida seguir em frente sem o seu amor. Não enxergava nada, na verdade, já que para ele era totalmente impossível esta história ser real.
As dificuldades só aumentaram daí em diante. O veterano e temperamental Huggins, seu treinador e homem que mais confia em Mazzula, deu um veredito dúbio na época dizendo: “Nunca vi um jogador de basquete se recuperar de uma cirurgia como esta”. Palavras que tocaram profundamente o atleta, agora rotulado por todos de desacreditado.
Em momentos de devaneios, pensava até em praticar outro esporte. O basquete iria exigir muito do seu braço esquerdo (ele é canhoto) e a probabilidade de render abaixo da sua capacidade ou ficar totalmente impossibilitado de fazer movimentos com seu ombro, o fez cogitar a possibilidade de migrar para o futebol, esporte que lhe rendeu boas atuações no high school (ensino médio) e tinha um pai/treinador que poderia auxiliá-lo.
Mazzulla, porém, tinha um relacionamento íntimo com o basquete, tão intenso que era inutil ignorar. Mesmo sendo alvo de descrença, assim que os médicos o autorizaram, voltou a treinar com bola – duas horas diárias. Não sabia se voltaria a jogar de novo, nem se teria de volta seu espaço em WV, mas lá estava ele todos os dias no ginásio fazendo exercícios e arremessando a bola... com a mão direita.
Ficar longe do seu amor deixava Mazzulla desorientado. Tudo bem que ele já estava em um progresso notório, mas não era suficiente. Em Abril de 2009, quatro meses depois de entrar no departamento médico, ele foi preso acusado de brigar num bar na cidade de Morgantown, estado da Virginia do Oeste. Suspenso pela Universidade, o retorno se tornava mais distante e a depressão e comportamentos duvidosos faziam parte do seu cotidiano.
Não poderia se diferente. Sem nada proveitoso para se fazer e com um horizonte raso e sem cor, Mazzulla precisava criar um ânimo do nada, algo que servisse como força motivadora para encarar um dia por vez. Como as opções eram poucas, ele decidiu se apegar no seu amor maior e definitivamente acreditar que poderia sim retornar as quadras, dando uma sonora resposta a Huggins.
O treinador também não tinha muita escolha e aceitou Mazzulla no elenco desta temporada. Huggins é um cara de personalidade impar e a declaração dele sobre seu armador, vez ou outra, retomava sua mente. Ele não dava atenção a esta lembrança e olhava para frente, acreditando no potencial de Joe.
O simples fato de ele estar no banco de reservas já era uma vitória. Entre os principais talentos deste time dos Mountaineers, Mazzula não figura entre eles. Mas a garra e disposição que traz para a quadra nos minutos jogados fez Huggins dá mais uma oportunidade ao garoto. No Torneio da Conferência Big East 2010 (uma das mais fortes da NCAA), Mazzulla foi um dos principais nomes da equipe na conquista histórica e inédita do título. Um sinal de que coisas boas ainda estavam por vir.
No Sweet 16 do Torneio da NCAA (oitavas de final), WV jogou sem seu armador titular, o habilidoso Darryl Bryant – machucado. O jeito era ir de Mazzula e assim Huggins fez, apesar de ter iniciado a partida contra Washington com ele na reserva. Após avançar para o Elite Eight (quartas de final), o estupendo time de Kentucky é o adversário a duelar com os Moutaineers. Huggins apostou na paixão e colocou Mazzulla como titular.
Por ser um time que joga com, basicamente, quatro alas-pivôs, Mazzulla seria um peso nulo, o jogador que a “natureza” seria a responsável em marcá-lo. Ledo engano. O camisa 21 fez uma performance de gente grande, sendo um fator decisivo e atuando de forma extraordinária contra o badalado John Wall. Os ataques a cesta de Mazzulla deixaram surpresos aos que assistiam ao jogo, mostrando não ser intimidado por ninguém. Nada iria bloquear seu ímpeto de vencer.
Depois da partida, Mazzulla fez questão de mencionar Huggins. Ele, entretanto, não lembrou da declaração que seu treinador deu sobre sua recuperação. Ele lembrou da nova chance dada a ele. Embora ele tenha se comportado mal fora das quadras e ter um atestado de invalidez, Huggins o colocou no banco e o destino fez das suas: quando o treinador mais precisava, lá estava Mazzulla pronto para o combate.
O momento é de avançar rumo ao próximo desafio. Depois de superar um obstáculo intransponível, a meta é conseguir reescrever novamente a história e repetir a atuação de 2008 contra a poderosa Duke.
Se isto nunca aconteceu, não vale a pena duvidar.
(GL)
© 1 Damian Strohmeyer / SI
© 2 Jon Biever / SI
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