A Tragédia Humaniza o Ser Humano


Esta frase foi dita pelo filósofo brasileiro Luís Felipe Pondé para definir a obra A Poética de Aristóteles. Essa frase pode também sintetizar o que ocorreu com Micheal Beasley, ala do Miami Heat; alvo de piadas e de sarcasmo, até entenderem que o problema enfrentado por ele era grave e mais sério do que se imaginava.

Há algo além do “apontar o dedo” e do pré-julgamento.

Todos os elementos trágicos que caracterizam A Poética foram materializados na história de Beasley: compaixão, pena e medo (como diria o pensador grego “tudo para deleite do povo...”). Quando a infame foto – de Michael mostrando sua nova tatuagem – apareceu no Twitter (rede social), os olhos de quem viam a imagem não se voltaram para o mais novo desenho no corpo dele, e sim para dois pequenos sacos plásticos que estavam no fundo do quarto, quase imperceptíveis.

Mesmo sem saber o que eram verdadeiramente, as especulações surgiram aos montes: “É droga, maconha” diziam por aí. Talvez o buchicho surgiu pelo passado de Beasley que, apesar de estar só um ano na NBA, já tem violações por não cumprir as regras da cartilha anti-drogas da associação. Dizer que ele estava sendo um garoto muito desobediente e com um péssimo comportamento é fácil, assim como afirmar que ele é mais um rebelde na liga. Porém, há algo além do “apontar o dedo” e do pré-julgamento.

Na sua conta no Twitter (já cancelada), ele escreveu coisas assustadoras tipo: “Sinto que não vale mais a pena viver!!!! Estou cheio” e “Vejo que todo mundo está contra mim. Não posso vencer para perder”. Estas declarações e a foto (abaixo) foi a gota d´agua para Pat Riley, presidente da franquia, colocá-lo em uma clínica de reabilitação (para depressivos e dependentes químicos) na cidade de Houston, estado do Texas.

Usando esta analogia do copo, se ele transbordou é porque já estava cheio, certo?


Exato! O que Erik Spoelstra, treinador da equipe, dizia constantemente na temporada passada sobre os poucos minutos que Beasley atuava, mesmo ele sendo o número dois do draft, não tinha fundamento. Spoelstra falava que Beasley “precisava melhorar sua defesa”, usando uma deficiência do jogo do ala para justificar a não titularidade e os “20 minutos” em quadra. Na verdade, tanto a comissão técnica quanto o elenco, não aguentavam a falta de profissionalismo de Beasley; ele chegava atrasado aos treinos, não se dedicava o bastante e mostrava imaturidade. Os veteranos do time o alertavam para estes fatos, mas ele não ligava.

A mente de Michael estava a mil. “Ontem” ele estava na universidade – jogou só um ano em Kansas State – ; “hoje” ele está no basquete profissional. Não é qualquer um que, com 19 anos de idade, consegue fazer esta transição ileso, sem marcas dolorosas. Mais do que aprender as táticas e como se joga o basquete da NBA, ele precisava aprender a viver a vida, a ser adulto. Alguém se habilitou, então, para ajudá-lo?

As frases feitas e motivacionais se transformaram em ação quando a tragédia se aproximou, prestes a se concretizar. A decisão da franquia em levá-lo a um centro de reabilitação foi fundamental para salvar Beasley; e ele fez a opção pela coragem, admitindo que passava por um problema e que necessitava de um auxílio.

Agora, foi lhe dado o melhor tratamento possível.

O ala foi para uma clínica modelo em recuperação de atletas. A John Lucas Athletes After Care Program, comandada por John Lucas – ex-jogador da associação e atual assistente técnico do Los Angeles Clippers – é especializada em tratar jogadores, os ajudando a reverter as adversidades e superar a depressão e o vício das drogas e bebidas. Lucas pode falar com propriedade sobre o assunto, pois ele conseguiu vencer a dependência alcoólica e criou esse centro para dar o seu testemunho de transformação. Ao invés de lerem livros e assistirem palestras cheias de moralidade, quem vai para lá vê o exemplo vivo.

Foi com sofrimento que Beasley chegou a clinica, mas ela lhe serviu como uma metamorfose. Os jogos da pré-temporada são indícios de que ele está bem.


Nos testes físicos do clube, ele foi o primeiro colocado – ganhou 4,5kg de massa muscular. A tendência é que ele seja o ala de ligação titular da equipe (posição número 3), algo que Riley e Spoelstra visualizam desde o ano passado (ele jogou na NCAA como ala de força – posição número 4). A comissão técnica vai trabalhar para que ele seja mais forte que os alas nas laterais e mais ágil que os pivôs no garrafão.

Hoje Beasley está feliz. Com 20 anos e prestes a se tornar pai (abril/maio do ano que vem) ele está bem, seja fora ou dentro das quadras. Depois do jogo contra o Orlando Magic, ele disse: “Estou ansioso, nervoso, empolgado em poder voltar a jogar e fazer o que eu sei melhor. Estou de volta ao meu santuário, onde posso colocar todas as coisas de lado e único lugar onde eu posso me isolar de tudo”.

Será que o esporte é uma das estratégias usadas pela clínica de John Lucas? Quem sabe? O importante é Michael Beasley esquecer o que passou e se concentrar no futuro; que é uma carreira promissora na NBA. Lembrando do salmista que diz:

Os que semeiam com lágrimas, segarão com cânticos de alegria” (SL 126:5)


(GL)



© 1 Getty Images
© 2 Issac Baldizon / Heat Media

Nenhum comentário:

Postar um comentário