Até Que o Fracasso os Separe


Prestes a iniciar a segunda temporada no comando do New York Knicks, Mike D´Antoni terá mais desafios pela frente, tentando recolocar a franquia na elite da Conferência Leste da NBA. Com jogadores em final de contrato e com a diretoria se preparando para a temporada 2010-11, a tarefa do treinador neste campeonato será complicada, mas possível de ser atingida: se classificar para os playoffs. Neste processo de reformulação e reestruturação do clube, D´Antoni é o homem ideal para executar esta missão.

Ele chegou a New York ano passado e quem o trouxe foi o diretor de basquete da franquia Donnie Walsh (ex-Indiana Pacers), encarregando Mike para cumprir a novo metodologia do clube em quadra, uma transformação completa comparando com o que os torcedores dos Knicks acostumaram a ver nesta década. Este foi um dos primeiros acertos de Walsh.

O estilo de trabalho de D´Antoni se encaixa naquele perfil, bem famoso no futebol, do “treinador dos jogadores”. Não que ele seja um cara omisso e que deixa os comandados fazer o que quiserem, pelo contrário: ele impõe autoridade sem ser autoritário. É o tipo do treinador que desenha na prancheta como a jogada deve ser executada e entra em quadra para exemplificar na prática. Nos treinamentos dos Knicks, é comum ver D´Antoni junto com seus atletas participando dos exercícios técnicos e táticos.

Todos os jogadores gostam disto: do treinador que sai da teoria e entra na prática. Diferente daquele que enche o peito e dá uma aula de basquete na lousa do vestiário, porém é incapaz de chegar na quadra, pegar a bola e mostrar como se faz. A aproximação treinador-atletas é uma meta a ser atingida, servindo como mais um atrativo para a contratação de novos jogadores.


Não que New York precise de algum incentivo extra. O que mais falar da “capital do mundo”? O glamour da cidade já é suficiente para chamar a atenção dos principais nomes da associação. Mas, se o clube não for vencedor... não há dinheiro que compre os grandes atletas, que precisam vencer para aumentar o status de “estrela”. Enquanto a diretoria faz manobras para colocar um time em quadra pagando o mínimo possível, tendo assim mais espaço no “teto salarial” e ir com agressividade ao mercado de agentes livres na temporada ´10-11; D´Antoni se vira para não passar vexame e faz de tudo para colocar em todo jogo um time competitivo.

Vitorioso ainda não, competitivo. Temporada passada, por exemplo: os Knicks terminaram com 32 vitórias e teve, no total de 82 partidas, 18 jogos decididos por 5 pontos ou menos. Das 32 vitórias, só uma veio sem o time chegar a marca centenária no placar. Quando o time anotou menos de 100 pontos, perdeu 21 jogos e ganhou apenas 1. Tudo isso feito com limitação de jogadores, graças às movimentações feitas pela gerência do clube.

Certa vez, D´Antoni teve disponível apenas sete jogadores, com seu armador, Chris Duhon, jogando todos os 48 minutos da partida com uma dor nas costas, sem descanso algum! Na loucura do campeonato passado, o destaque ficou por conta do pivô David Lee, líder da NBA em double-double (65).

Destaque e dor de cabeça também. Como seu contrato terminou junto com o fim da temporada 2009-10 (agente-livre restrito), a franquia teve que raciocinar bem e decidir o que seria melhor para ambas as partes: o NY não queria perder o pivô, mas não queria soltar tanto dinheiro assim pra ficar com ele. No final das contas o jogador assinou por um ano (US$ 7 milhôes), entendendo a posição do clube em se preservar para 2010 – situação parecida aconteceu com Nate Robinson, armador, que assinou também por apenas um ano (US$ 5 milhões).

A equipe está numa situação peculiar, com seis jogadores (Lee, Robinson, Larry Hughes, Duhon, Darko Milicic e Al Harrington) tendo seus contratos terminando no final desta temporada. Há o potencial da equipe se tornar muito individualista e egocêntrica – com cada jogador lutando para estar na equipe ano que vem – porém, segundo Lee, “não temos estes tipos de profissionais por aqui”.

Entre todos jogadores do elenco que vão começar esta temporada, só quatro tem permanência (quase) garantida em´10: Danilo Galinari, habilidoso ala que D´Antoni gosta muito e terá um tratamento de novato, pois jogou apenas 28 jogos em sua estréia na NBA; Al Harrington, jogador mais talentoso da equipe (o que não quer dizer muita coisa) e escolha de Walsh quando ele estava em Indiana; e os novatos Jordan Hill (ala) e Toney Douglas (armador).


Walsh (acima), quando estava nos Pacers, sempre foi considerado como um ótimo selecionador em drafts (sistema de escolha dos atletas para a NBA). Neste ano com os Knicks, o foco estava no armador Stephen Curry (que foi para o Golden State Warriors). Sendo assim, Hill foi escolhido na oitava posição, ótimo ala-pivô da Universidade do Arizona. Walsh não desistiu da busca por um armador e foi atrás de Douglas (originalmente escolhido pelo Los Angeles Lakers) e o adquiriu por dinheiro e uma escolha de segunda rodada no draft de 2011 – Douglas foi, em 2009, o melhor jogador defensivo da ACC, uma das melhores conferências de basquete da NCAA.

D´Antoni e Walsh estão trabalhando para fazer do New York Knicks uma potência da associação nos anos que estão por vir. Assim como em um casamento, ambos os lados precisam se esforçar para que a união seja duradora e produtiva. Em Phoenix, com a chegada de Steve Nash, Mike conseguiu ir as finais da Conferência Oeste com apenas um ano treinando os Suns. Hoje o time não está pronto, mas a adição de uma super estrela (LeBron James, Chris Bosh, Amare Stoudemire...) em 2010 pode elevar o nível dos Knicks. Walsh sabe o que é preciso e está elaborando o melhor plano para que isto aconteça.

Esperando que as vitórias venham e que elas levem o clube ao sucesso, para que a separação da dupla não seja curta, repentina e estampada nos tablóides nova-iorquinos


(GL)



© 1 Robert Deutsch / USA Today
© 2 AP
© 3 Getty Images

Nenhum comentário:

Postar um comentário