Às Cores Quando Não Há Palavras


Definir o que é dislexia é complicado. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), é “...um distúrbio de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração.” Lidar com ela também é complicado, mas Rex Ryan, treinador do New York Jets, mostra que é mais um que conseguiu superá-la.

Ryan, que pela primeira vez assume o comando técnico de uma equipe, revelou no mês passado ao público que sofre de dislexia, algo que o acompanha desde criança. Resolveu deixar claro para os torcedores e para seus atletas que tem este problema para “...o que aconteceu comigo sirva de inspiração para eles, que é possível passar por situações delicadas que a vida nos coloca. Eu fico feliz em dividir isto com eles. Quero que as pessoas saibam que você pode ter dislexia e conseguir atingir seus objetivos”. disse o treinador.

Recentemente, a novela “Duas Caras” da Rede Globo mostrou uma personagem que sofria de dislexia. Clarissa (foto ao lado), interpretada por Barbara Borges, enfrentava problemas na escola, tendo que se dedicar mais do que os outros alunos; passou no vestibular com ajuda da mãe, Célia Mara, interpretada por Renata Sorrah. O disléxico tem dificuldades com as palavras (“dis” = difícil; “lexis”= palavra, vem do grego), dificuldades com a ortografia, dificuldade em assimilar símbolos matemáticos... O trauma de sofrer preconceito na escola retratado em “Duas Caras”, se assemelha com o que ocorreu com Ryan.

Eu fugia da escola todo o tempo” afirma Rex. Na época ele ainda não sabia que era disléxico, foi descobrir a um tempo atrás. Mesmo sem conhecer o que era direito, nada foi obstáculo para ele conseguir um diploma universitário.

Dizem que a dislexia é hereditária. Na família de Ryan, um diploma é também hereditário. Sua mãe, Doris, é doutorada em educação e Vice-Presidente da Universidade de New Brunswick no Canadá; seu pai, Buddy, é um acadêmico da Universidade de Oklahoma e famoso treinador da NFL – criou e desenvolveu a “defesa 46”; seu irmão mais velho, Jim, é formado em direito e jornalismo.

Para manter a tradição, Rex Ryan tem um bacharelado em Ciência e uma graduação em Educação Física. A dislexia foi mais uma vez derrotada.

Ryan entrou na NFL com a ajuda do pai, que o colocou como treinador da linha defensiva e dos linebackers no Arizona Cardinals em 1994-95, período que Buddy foi treinador do clube. Em 1999 ele chega a Baltimore para comandar a linha defensiva do Ravens, é promovido para a coordenação defensiva em 2005. Ficou por 10 temporadas comandando uma das melhores defesas da história da NFL, fato que o ajudou a ir para New York.

Os torcedores do Jets esperam que Ryan mude a cara da franquia; nesta questão ele já está trabalhando – o clima no clube é totalmente diferente de anos anteriores. Ele criou um ambiente mais leve entre os atletas, a atmosfera agora é outra: Ryan quer que os jogadores se divirtam. Tudo isso será interessante de se observar até Setembro, Outubro. Se não conseguir, vencer jogos...

Entretanto, Ryan sabe da meta que tem a cumprir: vencer o Super Bowl. Declarações do tipo “Eu não vim aqui para beijar os anéis de Belichick” ou “Esta franquia é muito grande para lutar por um aproveitamento de 50%” mostram aos fãs dos Jets que a história este ano promete ser outra. A esperança é que Ryan consiga aplicar sua filosofia intimidadora do seu sistema defensivo de “blitz-a-todo-tempo-com-violência-e-agressivdidade” na qual ele teve sucesso em Baltimore.

Se conseguir atingir esta meta (ganhar o campeonato), será uma conquista extremamente marcante. O último (e único) título do New York Jets foi em 1968. Alcançando este feito, Rex Ryan poderá entrar na lista de disléxicos famosos como: Tom Cruise, Walt Disney, Agatha Christie, Albert Einstein, Wilson Churchil, George Washington, Pablo Picasso...


Independente da vitória dentro de campo, por chegar onde está hoje, é claro que Rex Ryan já é um vencedor. Ele expõe sua história para servir de inspiração, exemplo. Pense como deve ser difícil para ele memorizar todas as jogadas da equipe, com todos aqueles códigos e siglas... Esta aí mais uma derrota da dislexia:

Eu tenho dificuldade com palavras, em pronunciá-las, em lê-las...” disse Ryan à Associated Press (AP) “Então, meu plyabook (fichário de jogadas) não tem nenhuma sigla e nenhum número. Ele é cheio de cores porque assim eu decoro melhor as jogadas.”

Entre tantas dúvidas e questionamentos acerca de como o "time verde de New York" se comportará nesta temporada, uma coisa é certa: o futuro dos Jets, com Rex Ryan no comando, tem tudo para sair da neutralidade e ser mais colorido.


©1 Andy Marlin / Getty Images
© 2 Al Pereira / Getty Images

2 comentários:

Bruno Macedo disse...

Sensacional o texto, parabéns.

O chato disse...

Muito bom.

Parabens

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