Adversárias Invisíveis


Beisebol é um esporte simples: quem defende arremessa a bola com o maior efeito possível e quem ataca rebate o mais longe que puder. A grande maioria dos jogadores da MLB raciocina desta forma; dizem que se alguém entrar em campo “pensando demais” não conseguirá render em alto nível. Quanto mais simples, mais básico, melhor.

Por que então três jogadores, somente nesta temporada (Dontrelle Willis – AT, Detroit Tigers; Khalil Greene 'foto acima' – 3B, Saint Louis Cardinals e Joey Votto – 1B Cincinnatti Reds) entraram no Departamento Médico (DM) por “questões de estresse”?

Se um jogador machuca o braço, por exemplo, o tratamento é fácil: ele faz uma ressonância magnética, a lesão é diagnosticada e entra em processo de recuperação. Agora, e se o problema for psicológico, o que fazer?

Ansiedade, depressão, temor; estes são alguns sintomas da chamada: fobia social, algo que Zack Greinke, arremessador dos Royals, teve que lidar em sua carreira (leia “Agora, Vai?”). Muitas pessoas não entendem que tal estado emocional é uma doença grave e que é mais séria do que se imagina.

Eu pensei que ia morrer” disse Joey Votto (foto ao lado) em entrevista coletiva na semana passada ao voltar do DM. “Liguei para a emergência às quatro horas da manhã. Foi o momento mais aterrorizante que passei em toda minha vida” - o jogador de 25 anos dos Reds relata o que aconteceu com ele no começo deste mês.

O pai de Votto morreu em Agosto de 2008. Por ser o irmão mais velho, ele sente a responsabilidade de ser o “homem” da casa. Conseguiu lidar com isto por um tempo, mas a depressão o atacou de vez na pré-temporada deste ano. A situação ficou mais grave quando, no início do campeonato, ele teve que sair de três jogos por estresse; antes de ir para o DM, Votto rebateu 35% com 33 RBIs em 38 jogos.

Depois de permanecer 21 dias no DM, Votto já fez 6 jogos: aproveitamento no bastão de 33% com 4 RBIs.

Esta atitude de Votto é extremamente louvável; aparecer para o público e dizer que passou por problemas sérios de depressão e que precisou de ajuda para melhorar. Reconhecer que a fobia social é uma doença é o primeiro passo para a recuperação, negar o caso pode ser pior.

Exatamente o que aconteceu com Dontrelle Willis. (foto à esq.)

Não é depressão, é outra coisa diferente. Os médicos viram algo no meu sangue que eles não gostaram. Eu não sou louco, apesar de meus companheiros acharem que sim...”. Disse Willis depois de ser colocado pelos Tigers no DM no dia 29 de Março e ficar dois meses inativo.

Não é a toa que Willis foi duas vezes para o DM por os mesmos sintomas – a outra foi dia 18 de Junho. Ou, por “coisas que os doutores observaram no meu sangue e não gostaram”. Se não reconhece o problema, como tratá-lo?

Na sua segunda ida ao DM, quando repórteres perguntaram a ele se seu problema era mecânico ou mental, Willis respondeu: “Eu sinto que é mecânico. Percebo que o movimento do meu braço está um pouco fora do comum.”

Quando, no mesmo dia, os repórteres perguntaram ao médico do Detroit, Kevin Rand, se o problema era mecânico ou mental, ele respondeu: “Fisicamente, Willis está bem. Há períodos nos jogos que ele arremessa bem, mas falta a consistência ideal.”

Willis jogou 7 partidas neste ano: 1v e 4d com um ERA de 7.49.

Deixar que os companheiros de time saibam da sua doença, não é mostrar a eles seu atestado de “loucura” (viu Willis?) e sim é um modo de terapia que ajuda na recuperação. “Quando você tem um problema interno você que expor, colocar pra fora” disse Albert Pujols ao USA Today, ele que é parte importante do tratamento de Khalil Greene.

Os Cardinals colocaram Greene (foto ao lado) no DM dia 29 de Junho e lá ele ficou por 19 dias. Greene também tem problemas de depressão a tempos, mas, segundo o jogador, “...só tive sintomas mais forte nesta temporada...”. Ele passou por inúmeros médicos e toma diversos medicamentos, contudo a meta principal depende dele, responsável por tirar os pensamentos ruins e substituí-los por pensamentos positivos.

A franquia o ajuda bastante, dando todo o apoio para sua recuperação total. Apesar de ser SS de origem, Tony La Russa, treinador dos Cardinals, o colocou na 3B para aliviá-lo da pressão e da responsabilidade que é jogar entre a segunda e terceira base. Todos os colegas de time, liderados por Pujols, o ajudam na medida do possível.

O testemunho de Votto e Greene pode colaborar para que outros atletas venham a falar que sofrem de fobia social, de depressão, de ansiedade... Eles são exemplos de que é preciso reconhecer a doença, que este é o primeiro passo para ser curado. Servem como modelos de coragem por mostrar que tem falhas como qualquer outro ser humano e que é preciso ter cuidado com estas adversárias invisíveis que nunca devem ser subestimadas.



© 1 Christian Petersen / Getty Images

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