Afinal, Nem Tudo É Perfeito


Não adianta, por mais que uma história se pareça impecável, é possível achar algo que tire o 100%: seja um erro aqui, outro ali... Há histórias que precisam de certa imperfeição, se não perde a graça, foge da realidade.

A carreira de Tyreke Evans foi preparada para quebrar este status. Desde criança, seu caminho já era direcionado a ser um jogador de basquete de alto nível (leia-se: NBA) e pessoas próximas a ele fizeram um acordo de unir forças e trabalhar a favor de Evans, na busca por um lugar entre os grandes.

Os irmãos mais velhos de Tyreke (Doc, Reggie e Pooh) formaram uma equipe para gerenciar a carreira do prodígio atleta. Na verdade, mais do que prodígio; esta decisão aconteceu quando Tyreke tinha apenas quatro anos de idade.

Quantas crianças desta mesma idade se ver por aí chutando uma bola de futebol? E quantas vezes se ouvem: “Este menino tem talento, tem futuro". Muitas. Agora, quantas destas crianças recebem um acompanhamento e incentivo para desenvolver esta habilidade? Poucas.

Tyreke era uma destas crianças habilidosas, sempre com uma bola de basquete arremessando na parede, em cestas de lixo... O que os irmãos dele fizeram foi ver o futuro e apoiá-lo, caso o basquete profissional fosse a resposta de Evans para a pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”

O cuidado dos irmãos não era visando o dinheiro, todos são empregados (Nota: pode tirar este pensamento da mente). A razão principal por toda esta atenção era pra evitar o assédio excessivo que há em garotos de qualidade no basquete americano, assédio bem parecido com o que vemos no futebol brasileiro.

Cada vez mais, os empresários estão buscando meninos de 12, 13 anos para assinarem contratos, mandando-os para a Europa e prendendo o atleta em suas mãos. Nos EUA, garotos da 5ª série já são rankeados, vistos como promessa; Tyreke recebeu a primeira carta de recomendação de uma faculdade aos 12 anos. Porém, Evans não caiu na tentação de aceitar “presentes” das universidades, ouvindo sempre os conselhos de seus irmãos.

O auxílio não vinha só para questões empresarias. Os irmãos treinavam arremessos e fundamentos com Evans diariamente. Além disso, o aconselhavam para que ele ficasse longe de problemas. “Eu agradeço a Deus por eles. Muitos garotos não têm irmãos como estes. Alguns garotos são rodeados de treinadores e agenciadores que só sugam...” disse Tyreke ao Washington Post sobre sua “equipe”, no torneio da NCAA deste ano.

Antes de jogar uma partida pela NCAA, Tyreke estava nas capas da SLAM Punks (foto ao lado), Dime...; aparecia em comercias de TV; documentários... Tudo muito bom, certo? Sim, mas algo de errado aconteceria, afinal, nem tudo é perfeito.

Noite de 27 de Novembro de 2007. Tyreke estava dando uma volta no seu SUV com um primo (Jamar) em Chester Township, cidade da Pensilvânia. Depois de um tempo, Jamar pediu que Tyreke parasse. Jamar, do banco de passageiro do carro de Tyreke, disparou vários tiros contra Marcus Reason, um adolescente ligado a gangues; Marcus faleceu após o tiroteio e nesta última terça (23/06), Jamar foi condenado à 20 anos de prisão por assassinato.

E Tyreke? Cúmplice?

O júri entendeu que Tyreke é inocente, pois em nenhum momento ele ficou ciente do que seu primo ia fazer. Jamar disse à corte que Tyreke não teve nada a ver com o assassinato.

Na época, Tyreke estava prestes a escolher uma universidade e teve receio que este episódio manchasse todo o trabalho que foi feito com ele pelos seus irmãos. Apesar de tudo, os principais programas de basquete continuaram sondando Evans que, entre a universidade do Texas e de Memphis, escolheu Memphis.

A missão de Evans era complicada, substituir Derrek Rose e tentar repetir o feito de 2008 quando os Tigers chegaram na decisão do Final Four. O começo foi difícil para ele, mas uma mudança de John Calipari (então treinador de Memphis e que hoje está em Kentucky) fez a diferença no jogo de Evans.

Com a ida de Rose para a NBA, Memphis estava sem um armador. Depois de muitas tentativas, Calipari resolveu colocar seu armador-arremessador (SG), Tyreke Evans para ser o quarterback da equipe. Em 28 jogos que Evans jogou de armador, Memphis venceu 27! Perdeu um jogo só contra Missouri, no Sweet 16 (oitavas de final) do torneio da NCAA deste ano; na ocasião Evans foi o cestinha da partida com 33 pontos.

Quando o Sacramento Kings se preparava para fazer sua escolha no Draft 2009, Ricky Rubio estava disponível e todos pensavam que o clube ficaria com o espanhol. Para surpresa de muitos, os Kings escolheram Tyreke para comandar as armações ofensivas da equipe junto com Kevin Martin.

Há divergência de opiniões sobre a decisão do Sacramento: uns acham que fizeram a escolha certa com Evans, outros viam Rubio como uma melhor opção pelo estilo de jogo da equipe. Paul Westphal, treinador dos Kings, deve achar um espaço para Tyreke no time - Evans disputa com Sergio Rodriguez e Beno Udrih a titularidade.

Para trás ficaram os casos e história de um talentosíssimo jogador, que esteve no topo das notícias durante toda sua carreira por feitos dentro e fora de quadra. O futuro é uma carreira de sucesso na NBA, porém o presente não é tão agradável assim: jogar no Sacramento Kings, pior equipe da associação na temporada passada.

Convenhamos. Afinal, nem tudo é perfeito...



©1 Mike Brown
©2 SLAM
©3 NBAE

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