O Curioso Caso de Matt Cassel


Esse tem história pra contar...

Os fatos mais pitorescos, os acontecimentos mais marcantes, as situações mais inesperadas que alguém pode passar... Assim foi (é) com Matt Cassel, quarterback (QB) do Kansas City Chiefs.

Nesta semana, algo inesperado (mais uma vez) ocorreu com ele: sem jogar uma partida com a camisa dos Chiefs, assinou um contrato de US$ 63 milhões por seis anos (com uma garantia de US$ 28 milhões). Se atletas que nunca jogaram profissionalmente assinam acordos astronômicos, porque ser diferente com Cassel que mostrou no ano passado ter condições de ser titular na NFL?

Mais do que isso: “Desde a chegada de Matt em Kansas, ele tem abraçado o time e a comunidade. Sua ética no trabalho, sua habilidade no campo e sua personalidade competitiva são atributos que buscamos em qualquer atleta” disse Scott Pioli, diretor de football dos Chiefs.


Tais atributos que Matt traz da infância, ou melhor, famosa infância.

Ele fazia parte de um time infantil de beisebol chamado “The Earthquake Kids”, da cidade de Los Angeles. Em 1994, quando a MLB estava em greve, o grande assunto no mundo do beisebol era as finais da “Little League”, que o Earthquake Kids venceu. Cassel, um dos destaques do time, foi assunto de uma reportagem feita na época pelo jornal Los Angeles Times:

Seu time atingiu o topo com a conquista do campeonato. O 1B [primeira base] Matt Cassel rebateu duas simples, fez uma grande jogada defensiva e sua equipe venceu Springfield (Virgínia) por 3-0 na última Terça, com um público de mais de 20 mil pessoas.

´Eu sabia que tudo daria certo hoje’ disse Matt o garoto de 12 anos e estrela da partida


Trecho do Los Angeles Times de Agosto de 1994.


E a vida já lhe dava o papel de herói...

Porém, ele decidiu jogar football na escola. Teve até certo destaque, sendo rankeado entre os oito melhores QB´s de então. Escolheu a Universidade de South California (USC) por motivos que iam além do esporte; boa educação, perto de casa...

Estando em um dos melhores programas de football universitário, Matt tinha tudo para melhorar seu jogo e participar de um dos times mais tradicionais dos EUA. Ele fez isto, mesmo passando toda a sua carreira universitária no banco.

Não porque seu talento era pouco, mas por competir com dois excelentes QB´s.

Primeiro Cassel foi reserva de Carson Palmer, considerado rei no campus e vencedor do Heisman (prêmio entregue ao melhor jogador universitário) de 2002. Depois foi reserva de Matt Leinart, sucessor de Palmer tanto no “trono da universidade” quanto em campo; Leinart venceu o Heisman de 2004.

Sem chance para jogar na sua posição, Cassel buscou alternativas. Chegou a jogar de tight end, running back... Lá pelo ano de 2004, ele resolveu voltar às origens e jogou uma temporada com a equipe de beisebol da universidade. Para aumentar o nível de curiosidade desta situação, o Oakland Athletics (clube da MLB) o escolheu no draft daquele ano na 36ª rodada.

O que fazer? Optar pelo football, mesmo sem ter tido chance real de ter mostrado seu jogo ou ir para a MLB?

Cassel apostou na NFL. Ele iria arriscar e mostrar suas habilidades nos treinos pré-draft o que, de fato, deu certo. A melhor franquia da liga em pegar os grandes talentos no draft (Patriots), o escolheu na 7ª rodada em 2005.

A transição USC-Patriots não é pra qualquer um. Matt podia se considerar um cara abençoado, benção esta que o levaria para a... reserva!

Mais uma vez Cassel seria o segundo QB, agora ficando atrás de Tom Brady, um dos melhores da história. Matt teve então mais tempo para exercitar várias coisas: seu jogo, sua paciência...

E se a oportunidade surgisse de ser titular; será que treinar com Palmer, Leinart e Brady o ajudaria? A chance de mostrar se “sim” apareceu no ano passado.

Com a contusão de Brady na primeira semana, em um jogo contra os Chiefs, Cassel assumiu a titularidade da equipe e fez um grande papel. Ele terminou a temporada com 3.963 jardas, 21 TD´s (marcou mais dois correndo) e 11 INT´s. Os Patriots não foram aos playoffs, mas o time venceu 11 jogos e perdeu apenas 5. Ele é o único jogador da história da NFL, segundo a ESPN, a jogar na liga sem ter atuado uma vez como titular na NCAA

Entre tantas coincidências e causos em sua carreira, mais um surgiria. Ao final da temporada ele se tornou um agente livre e Brady estava se recuperando para voltar. A ida de Scott Pioli (ex - Presidente de Relacionamento dos Jogadores do New England) para os Chiefs atraiu Cassel; ambos cresceram: Pioli ficou com a gerência da franquia de Kansas City e Matt com a titularidade de QB.

Agora Cassel pode dizer que comanda um time. Todas estas experiências serviram para que ele ganhasse o selo de “jogador da franquia” dos Chiefs, mesmo sem ter ainda atuado uma vez com a camisa do clube.

Algo bastante incomum, mas para ele não.

Na vida de Cassel, o comum para muitos é estranho a ele; o diferente passou a ser normal; ser casado com a primeira namorada (foto ao lado) aumenta esta lista - Palmer é seu padrinho - , assim como participar de um documentário (HBO), ser filho de pais que trabalham em Hollywood...

No final de tudo, depois de anos sentado no banco de reservas, agora é a hora de ele ficar de pé e assumir o time que é seu, com a missão de recolocar os Chiefs de volta à elite da liga.

Para quem passou por todas estas aventuras ao longo da carreira, esta é somente mais uma etapa a ser ultrapassada. Mais uma vez ele lutará para transformar o que é incomum para o Kansas City Chiefs (derrotas) em algo comum (vitórias).

Nada fora do normal se isto acontecer.



© 1 John Rieger / US Presswire
© 2 LA Times
© 3 Bill Brett / Globe

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