Dos Males, o Menor


O Chicago Bears está com 4 vitórias e 5 derrotas em 9 jogos. Outros quatro times na NFL têm este mesmo aproveitamento (Carolina Panthers, San Francisco 49ers, New York Jets e Miami Dolphins) e especialistas colocam os Bears como o pior entre eles. As expectativas eram altas no início do campeonato e o torcedor do clube esperava uma temporada de sucesso. Com jogos difíceis pela frente, a esperança de se classificar para a pós-temporada está se acabando e, por mais que Jay Cutler (quarterback – QB) tenha sua parcela de responsabilidade por este fracasso, ele não é o principal e nem o maior problema.

A cada semana o elenco dos Bears expõe suas limitações: deficitário na linha ofensiva, jogo corrido abaixo da média e receivers que deixam a desejar. Esta busca incessante por um wide receiver (WR) número 1, aquele para receber os passes nos momentos decisivos, fez com que os torcedores do clube dissessem “Quem sabe seja o novato Johnny Knox?”. Não – pelo menos no momento. Também não é Devin Hester, Earl Bennett, Devin Aromashodu... O running back Matt Forte não vem repetindo as boas atuações do ano passado e o jogo corrido da equipe caiu bastante – 20 jardas a menos por jogo em relação a 2008 –, isto deixa o clube sem muitas opções de jogadas ofensivas, contando ainda com atuações lamentáveis dos offensive linemen.

Cutler tem 17 interceptações até agora e sim, algumas delas foram erros dele em decisões equivocadas. Mas não é de se estranhar que a maioria das interceptações (13) tenha acontecido quando o time adversário tem em campo cinco ou mais defensive backs (ou seja, mais safeties e cornerbacks marcando o passe). Enquanto não houver uma melhora do sistema ofensivo de Chicago, os adversários vão usar esta estatística a favor, mandando pouca pressão em cima do QB e o forçando a passar – foto abaixo do jogo contra o Atlanta Falcons.


São evidentes as escassas opções que o treinador Lovie Smith tem para usar a cada jogo. O responsável por mudar isso é o diretor de football (GM) da franquia, que tem a função de contratar atletas e formar o elenco. Ao ver o time se comportando tão mal partida após partida, os fãs imploram por mudanças – qualquer que seja – e os pedidos são pela saída de jogadores, do treinador... Porém, os torcedores precisam confiar em Jerry Angelo (GM) que está no cargo desde 2001 e foi o responsável por montar o time campeão da Conferência Nacional em 2006 e que chegou ao Super Bowl XLI (perdeu para o Indianapolis Colts).

Angelo não só fez uma troca espetacular com o Denver Broncos, mas renovou o contrato de Cutler até 2013, o que mostra o comprometimento com o atleta em desenvolver o “novo” Bears em volta dele, buscando atrair jogadores de qualidade. Colocando sentimentos de lado e a paixão também, é claro que Cutler é o futuro da franquia, mesmo ele tendo atuado mal em alguns jogos neste ano.

Exemplo: no jogo contra o San Francisco 49ers (dia 12/11), Cutler teve 5 interceptações só que, com todos os erros e deficiências da equipe ofensiva, ele conseguiu passar para 307 jardas. A porcentagem de passes completos em 2009 (62.4) está na média de sua curta carreira (quatro anos na NFL) e a projeção é que ele termine o campeonato com 30 passes para touchdowns – o que seria sua melhor marca.

Para entender Cutler é preciso desvinculá-lo do grupo dos “Mannings” e “Bradys” da vida. Ele não é um QB deste naipe, deste calibre; o que não quer dizer que ele não seja bom. Isto Cutler é: um bom QB que, igual a outros QB´s de sucesso, precisa de um elenco satisfatório ao seu dispor. Esperavam que ele fosse o grande transformador da franquia e que exorcizasse a péssima sina que acompanha os QB´s dos Bears ao longo das últimas décadas. Não é tão simples assim.


Mais de 12 mil pessoas (por dia ) acompanharam a preparação do Chicago para esta temporada. A cidade abraçou Cutler (foto acima) de uma maneira pouco antes vista. Os outros jogadores do time eram “secundários” nas pautas dos jornalistas – em uma brincadeira com os repórteres, Lance Briggs, experiente linebacker, perguntou a eles: “Vocês sabem que eu ainda jogo aqui, né? Ou será que eu preciso fazer uma dança ou alguma coisa para aparecer (risos)”. Com o passar dos jogos e com os resultados negativos aparecendo, Cutler e os torcedores passaram a perceber que a caminhada para as vitórias será árdua.

Ser um QB em Chicago não deve ser fácil. O maior mercado da NFL tem só uma franquia, com tudo e todos concentrados em um só time. A mentalidade de como encarar a liga tem que ser mudada, acompanhando o que fizeram outros clubes. O Pittsburgh Steelers, por exemplo, tinha uma característica parecida com os Bears: jogo corrido e físico a todo custo. Aos poucos, a franquia mudou esta abordagem incluindo o passe no playbook, contudo mantendo a agressividade tradicional. Hoje, os principais times da NFL (Colts, New Orleans Saints, Minnesota Vikings – nota especial: 17 TD´s passe; 12 TD´s corrido em 2009 – e New England Patriots) tem o jogo aéreo como a arma mais letal. Se Angelo está pensando em fazer esta transição – que será bem parecida com o que aconteceu em Pitssburgh – ela já começou bem pela escolha do QB.

O próximo passo é montar um bom grupo de receivers, uma boa linha ofensiva e estabelecer o jogo corrido de forma mais constante. As defesas do Philadelphia Eagles, Vikings e Baltimore Ravens estão esperando para colocar Jay Cutler mais uma vez à prova neste campeonato. Mesmo sem saber o que irá acontecer, Cutler vai conhecer mais as suas virtudes e defeitos nestes respectivos jogos; e todos irão entender que, dos inúmeros problemas que o Chicago Bears tem, o quarterback é o menor deles.


(GL)


© 1 Johnathan Daniel / Getty Images



PS: Leia “Comte Explica” uma reflexão sobre Vince Young baseada em Auguste Comte e Jean-Paul Sartre (publicado no dia 21/08)

Nenhum comentário:

Postar um comentário