Memórias de um Santo Imperfeito



Lidar com as expectativas é um dos passatempos preferidos do ser humano; alguns têm baixas esperanças, outros precisam controlar o exagero. Passar por esta experiência não é tão complicado assim, desde que não haja uma redenção aos extremos, tipo: “sou um fracasso” contra “sou um sucesso”. Quem cai neste dilema pode se prejudicar.

Reggie Bush (foto acima), RB/PR do New Orleans Saints, foi pego pelo lado da euforia e passou a ser quem não era. Depois de vencer o Troféu Heisman em 2005 (prêmio dado ao melhor jogador da NCAA) e ser a escolha número 2 no draft de 2006, a prepotência e arrogância tomou conta dele, impedindo que enxergasse a realidade.

Seus companheiros da época contam que o novato Bush se comportava como uma estrela, pura “diva”. Parecia que já tinha conquistado tudo o que é necessário para ser respeitado pelos outros jogadores, merecendo um tratamento diferenciado. Foram dois os erros dele: acreditar que os feitos conquistados quando defendia a Universidade do Sul da Califórnia (USC) lhe dariam credibilidade no profissional; e ir na onda da mídia que mostrava um “Super Reggie Bush”, alguém que iria revolucionar a posição de RB na NFL.

Ledo engano.

Como ele iria ser “O Cara” na NFL se ele nem era o principal corredor da USC?

Nos últimos dois anos na NCAA, Bush correu com a bola 343 vezes enquanto LenDale White (hoje no Tennessee Titans) correu 400 vezes. Durante toda sua carreira universitária, Bush foi titular em apenas 14 jogos (de 39). Porém, o que chamava mais a atenção era sua versatilidade, pois ele fazia grandes jogadas quando recebia um passe – seus números combinados entre jardas recebidas e corridas são o principal destaque.

A maioria dos olheiros da NFL, dos treinadores e do pessoal administrativo sabia que este era o verdadeiro Reggie. Mas algumas vozes mais fortes e poderosas ecoavam a idéia que ele seria um líder, imediatamente uma estrela, que correria com força entre os defensores... Se esqueceram de ponderar que estas determinadas características não integravam o jogo de Bush. O problema maior foi que o jogador abraçou este conceito e entrou com ele na liga.

Como não podia ser diferente, Bush não correspondeu a alta (falsa) expectativa que lhe impuseram (com sua ajuda, claro) e se tornou um jogador complementar. Considere, porém que os números dele não fogem de quem ele realmente é deixando claro que ele se enganou ao ouvir as tais "...algumas vozes".


Até o momento (03/02) Bush tem 1940 jardas corridas em seus 4 anos na NFL, adicione a isto 1934 jardas recebidas e se obtém o verdadeiro Reggie Bush, um jogador complementar sim, mas acima da média.

Esta temporada 2009-10 serviu com uma analise psicológica para o atleta, lhe orientando sobre quem ele pensava que era, quem ele estava sendo e quem ele poderá ser. Por mais que as contusões tenham lhe prejudicado – ficou fora de dois jogos – Sean Payton, treinador dos Saints, encontrou o papel ideal para o RB, bem diferente daquele de temporadas passadas.

Veja: Bush foi titular em apenas oito partidas neste campeonato e é o quarto RB no elenco dos Siants, atrás de três jogadores que entraram na liga sem serem draftados: Mike Bell, Lynell Hamilton e Pierre Thomas. Esta postura não deve ser encarada como desrespeito, mas como entendimento completo do potencial que Bush pode trazer para a equipe.

Ele entra em campo em momentos chaves e sua versatilidade vem trazendo resultados nestes playoffs. Foram três touchdowns marcados e cada um diferente do outro: um correndo, um recebendo e um retornando punt. Demorou, contudo Bush agora encontrou quem ele é:

São coisas que se aprende com o tempo. Quanto mais jovem você é, mais imaturo você se torna. Estes meus quatro anos de experiência me ensinaram bastante coisa”.

O passado pode lhe mostrar imperfeições e falhas, mas pode lhe inspirar a ser um melhor jogador na partida mais importante de sua carreira. No Super Bowl XLIV (44) – contra o Indianapolis Colts – o QB dos Saints precisará do multifacetado Bush para romper a forte e resistente defesa adversária e a decisão do BCS de 2006 serve como fonte de renovação. Na partida contra Texas Longhorns, Bush teve 82 jardas corridas, 95 recebidas e 102 retornando kickoffs. Não precisa ser algo tão extraordinário, basta Bush ser ele mesmo que será o suficiente.





Então, quem foi que fez esta corrida (vídeo acima) contra o Arizona Cardinals? Os jornalistas de New Orleans brincam que Deuce McCaliister (lendário RB da franquia e que esteve presente no jogo) pegou a camisa do Bush e saiu correndo por aí... Antes Reggie corria de mão dadas com a presunção, hoje a confiança é sua principal companheira. Este ano de 2010 revigorou a mente do jogador, preparado para ser mais um no elenco de 53.

Um jogador complementar sim, mas acima da média.



(GL)



© 1 Reggie Bush Media
© 2 Streeter Lecka / Getty Images


Leia Mais: Sobre o treinamento de Reggie Bush: Pega Leve?! (artigo publicado dia 22/07/2009)

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