LeBron Raymone James versus o camisa 6 do Miami Heat


Quantos anos você tem?

Seja qual for sua idade, a vida lhe proporcionou momentos felizes e tristes, tempos que exigiram força maior da sua capacidade para manejar crises e situações nas quais nada restou a não ser aceitar as condições impostas e seguir em frente. O modo de encarar a rotina e as peripécias do cotidiano vem da criação e de experiências vividas. Diferente de roteiros teatrais onde o personagem não tem controle do seu rumo, a vida dá a oportunidade de evitar a pobreza do termo “produto do meio” e entrega todas as chances de rendição, de agir diferente.

Cada um é um ser específico e um erro comum é achar que um indivíduo deve agir como outro; ou pior, como nós mesmos. O exercício de pensar “se fosse eu faria isso” é legal até certo ponto, pois o importante é saber o que seria ideal que tal pessoa fizesse em determinada situação que esteja passando. Pra isso é necessário conhecer o comportamento do outro.

Com pessoas famosas o julgamento “se fosse eu faria isso” é recorrente. Aqui é difícil usar a prerrogativa de saber quem o outro é justamente por, na maioria dos casos, o famoso não está ao alcance. Mas por ser conhecido, não fica difícil entender sua trajetória, basta olhar os fatos e tomar iniciativa progressiva.

O camisa 6 do Miami Heat, time da NBA que perdeu o título no domingo passado, mais uma vez sofreu um ataque da mídia – e consequentemente dos fãs – por dois motivos: não jogar bem e se comportar mal na derrota. Nos dois casos há verdades nas opiniões ditas, porém o erro ocorre em algumas avaliações.

Pratique este exercício: você tem 26 anos, como hoje será seu dia? Como hoje foi seu dia? Soube administrar bem as crises? Aproveitou o sucesso profissional/pessoal? Terá que passar por um momento crítico que pode mudar tudo ao seu redor?

O camisa 6 do Miami Heat tem um nome e este é LeBron Raymone James, conhecido por LeBron James. Não há como separá-los, é um único indivíduo, uma única pessoa, um único ser. Mas existe uma relação intensa entre ambos, comum a todos. Afinal temos que conviver com batalhas internas que irão determinar se vamos fazer isto ou aquilo. A mania é dizer: “uma coisa me diz para ir por aqui, só que não sei se é o correto caminho”.

Para onde for LeBron James, o camisa 6 do Miami Heat estará presente; para onde for o garoto de uma pequena cidade americana, vai junto um dos melhores esportistas do mundo.

A diferenciação aqui não há. Entretanto o camisa 6 do Miami Heat teve sua formação lá atrás quando decidiu jogar basquete num time amador com garotos de 13 anos de idade. O sucesso foi enorme e eles foram convidados para participar de um campeonato nacional americano na Flórida – estilo torneio da NCAA. Chegaram como meros participantes. Viajaram separados de Akron, estado de Ohio (norte dos EUA), até o sul, alguns numa mini van, outros no carro particular da esposa do treinador. As vitórias vieram até a grande decisão, quando perderam para uma forte equipe do sul da Califórnia, reduto criador de grandes nomes do basquete. A derrota foi por três pontos e um arremesso de LeBron, que poderia ter empatado o jogo no estouro do cronômetro, acertou o aro.


A base deste time, Sian Cotton (agachado à esquerda), Willie McGee (agachado à direita), Dru Joyce III (em pé à direita) e LeBron, decidiu entrar numa escola de ensino médio (High School) e optaram por St. Vincent-St. Mary, colégio católico e privado da cidade. Nos quatro anos juntos, com a adição de Romeo Travis, o grupo colecionou títulos e fracassos, vitórias e derrotas, fama e desprezo. Para LeBron foi a oportunidade de aparecer para o mundo do basquete e aprimorar seu jogo, assim como a oportunidade de crescer como um adolescente comum.

LeBron foi criado sem pai e só sua mãe (Glória) estava ao seu lado. O time de basquete era literalmente tudo para LeBron e seus companheiros se tornaram irmãos, mais chegados que qualquer um possa imaginar. A importância deles na vida de James é tão grande que um gesto chama a atenção. No último jogo de despedida deles da escola (dia dos veteranos), cada um dos membros do time entraram em quadra de braços dados com pai e mãe, com a família. LeBron também entrou em quadra com a sua família e lá estavam Sian Cotton, Dru Joyce III, Willie McGee e Romeo Travis abraçados com James adentrando o solo que os uniram.

Sem uma estrutura sólida, sem exemplo próximo, LeBron tornou-se um monstro. Com 16 anos, em sua terceira temporada no high school, ele já queria entrar na NBA. Encaminhou um pedido, mas foi negado. Nesta época ele já era mais forte que os companheiros e adversários, assim como mais habilidoso, mais talentoso e com mais fama. Então sua personalidade interna conheceu um amigo que esta com ela até hoje: o Ego.

Caso Ego tivesse uma página no Facebook, teria mais amigos que Tom no MySpace. Todos têm uma relação interna com o ego, não importa a proporção dela. Para alguns é um convívio bom, para outros é um pesadelo. O segredo não é tentar eliminá-lo, muito menos fazer tudo que ele quer; a chave é estar no comando.

Covarde é aquele que ignora o ego, que finge não existir tão forte presença. Coragem é tentar tê-lo sob controle e esta habilidade é possível aprender. LeBron precisa se aplicar melhor nestas aulas, ainda há tempo de agir diferente.

Uma consideração é válida aqui: não é uma tarefa fácil. Vá, se coloque na posição de LeBron. Com 17 anos de idade você estava em capas de revistas? Era assunto nacional? Nada do que você fazia passava despercebido? Até um apelido comum criaria vida própria e iria destruí-lo mais a frente.

LeBron incorporou um nome que surgiu de uma forma simples, pura. King James vem de Rei James, mas especificamente do Rei James I que reinou na Inglaterra entre 1603 e 1625. Ele ordenou que fizessem uma tradução da Bíblia para a língua inglesa e, claro, assim foi feito. A edição ficou conhecida como King James e até hoje é a versão mais usada do idioma. Pelo domínio que LeBron demonstrava com a bola laranja em mãos, a associação do nome comumente usado foi inevitável. LeBron não viu problema algum, aceitou e seu primeiro ato foi escrever “King James” em seu par de tênis...


Para piorar a situação, ele foi escolhido no draft de 2003 pelo time local da NBA, o Cleveland Cavaliers. Seu status então só cresceu e a promessa estava se tornando realidade. Na quadra LeBron correspondia com atuações magníficas, angariando fãs e mais fãs. Hoje, devido suas ações fora de quadra, uma espécie de nuvem nebulosa “cobre” os feitos fantásticos que LeBron conseguiu até agora em sua carreira profissional – talvez seja culpa do ego. A lembrança de tais realizações é altamente proveitosa pra ser feita. Azar dos perversos e dos incautos que não admiram seu trabalho em quadra:

- Marcou 25 pontos, 9 assistências, 6 rebotes, 4 roubos e 60% de aproveitamento de arremessos em sua estreia na NBA .

- Foi o jogador mais jovem a conseguir marcar ao menos 40 pontos num jogo (41 contra o New Jersey Nets)

- Foi o jogador mais jovem a marcar um triplo-duplo (temporada 2004-05)

- Foi o mais jovem MVP do Jogo das Estrelas com 21 anos (temporada 2005-06)

- Na temporada 2005-06 marcou 35 ou mais pontos em nove jogos consecutivos, se juntando a Kobe Bryant e Michael Jordan como os únicos a conseguirem esta sequencia desde 1970

- Foi o jogador mais jovem a ter média de 30 pontos por jogo (temporada 2005-06)

- Marcou um triplo-duplo em seu primeiro jogo na pós-temporada. Só Johnny McCarthy e Magic Johnson conseguiram fazer o mesmo (temporada 2005-06)

- Foi o primeiro jogador, desconsiderando os armadores, que teve ao menos 7 assistências em oito jogos seguidos de playoffs (temporada 2006-07)

- Foi o jogador mais novo a alcançar a marca de 10.000 pontos (em Fevereiro de 2008)

- Tornou-se o terceiro jogador desde 1976 a marcar 50 pontos e 10 assistências num jogo (contra os Knicks em 2008)

- Na temporada 2008-09 liderou os Cavs nas cinco principais estatísticas (total de pontos, rebotes, assistências, roubos e tocos), apenas o quarto jogador na história da NBA a conseguir isto com qualquer clube

- Jogador mais jovem a atingir a marca de 15.000 pontos (em Março de 2010)

Levou esta estupenda bagagem, junto com seus talentos, para Miami. Em uma temporada chegou às Finais, mas o muito é pouco.

LeBron Raymone James fez o camisa 6 do Miami Heat ser um dos mais importantes jogadores de basquete da história. O camisa 6 do Miami Heat fez LeBron Raymone James ser uma das personalidades mais importantes do esporte mundial. O ódio de muitos contra LeBron e a indiferença destes só fazem seu nome crescer em popularidade. A péssima ideia de escolher um time num programa de TV e as pesadas críticas que acompanharam esta história o fez entrar numa lista exclusiva: em 2010 LeBron foi indicado pela tradicional revista TIME para concorrer ao prestigiado título entregue pela publicação: Pessoa do Ano.

Pode até está acontecendo neste exato instante, mas é certo que em algum ponto de sua trajetória LeBron irá ter que se adaptar melhor ao ataque que sofre da mídia e das pessoas que o amam odiar. Sua resposta a estes, após a derrota para o Dallas Mavericks no jogo 6 das Finais, foi verdadeira e sincera. Tanto que ele até tentou mudar um pouco sua declaração, mas não conseguiu porque o que ele disse na entrevista coletiva foi a real. Ele respondeu as perguntas mais ácidas e viciantes com calma e tranquilidade, expondo nada mais que seu ponto de vista.

Isto já é um avanço do que aconteceu em outros casos semelhantes. Aprendeu alguma coisa e falta sempre mais, é jovem e tem muito para assimilar.

Sabe ele muito bem que tudo o que é sólido pode derreter.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Mike Ehrmann / Getty Images
© 2 Lionsgate

Um comentário:

tiburcio disse...

Eu, 10 anos mais velho que este cara, me lembro das bobeiras e imaturidade nas decisões que tomei aos 26. Porém, a maturidade que tenho hoje, me faz questionar como um cara como e$te não tem alguém para assessorá-lo? Psicóloga, assistente social, advogado, marqueteiros, etc... E estamos falando de um país que criou e desenvolve diariamente a gestão da imagem.
Outra questão, será que está fazendo falta para ele a maturidade que teria se tivesse passado ao menos 3 anos na faculdade, como vários jogadores já fizeram?
Abraços e parabéns pelos textos!
Tibúrcio Barros

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