Preconceito na NFL contra os QB´s Afro-Americanos? Em que ano estamos, 1978?

A tradicional revista Pro Football Weekly, que teve sua primeira edição publicada no final da década 60, produz anualmente um respeitado guia do draft da NFL com meticulosas análises dos jogadores que estão prestes a se tornarem profissionais. No especial deste ano um perfil incitou polêmica não pelo que foi escrito, mas por um ícone do football achar que houve discriminação na avaliação de um quarterback com chances de ser a escolha número 1.

Cam Newton, QB da Universidade Auburn, campeã da temporada passada, recebeu a seguinte crítica do experiente jornalista Nolan Nawrocki, editor-sênior da PFW:

Muito cínico – tem um falso sorriso e personalidade egoísta. Sempre nota onde as câmeras estão e se mostra para elas. Tem um enorme ego que constantemente o leva a problemas, fazendo acreditar que está acima da lei – não exige respeito dos seus companheiros e tem dificuldade em liderar um elenco. Só produziu durante um ano. Faltam a ele responsabilidade, foco e confiança – não é pontual, procura o caminho fácil e dá um mau exemplo. Imaturo e teve problemas com autoridades

Seu tutor é o lendário QB Warren Moon, conhecido por ser um dos maiores jogadores da posição. Assim que soube destas palavras da PFW, ele rebateu (em entrevista à CBS):

Muitas críticas que ele [Cam Newton] vem recebendo são, infelizmente, baseadas na raça. Pensei que tínhamos superado isto. Não vejo outros quarterbacks serem criticados pela imprensa ou pelos torcedores por ter um falso sorriso. Ele está sendo avaliado num diferente padrão que os quarterbacks brancos. Pensei que tínhamos superado este assunto de quarterbacks afro-americanos, mas parece que não

Moon faz parte da equipe que está preparando Newton para o draft, porém ele não recebe nada pelo trabalho que realiza. Sua manifestação é legítima e deve ser respeitada, principalmente pela história que escreveu na NFL. Agora, eu que pensei que “...tínhamos superado este assunto de quarterbacks afro-americanos...” mas parece que não.

Quem verdadeiramente sofreu racismo foi Moon. Fez uma brilhante carreira na Universidade Washington e no ano de veterano ganhou o MVP do Rose Bowl. Ao participar dos testes pré-draft de 1978, Moon ouvia a mesma conversa da época quando buscava entrar na NCAA: “É melhor trocar de posição...” Ele não aceitou (diziam para ele mudar para tight end) e acabou não sendo escolhido por nenhum time da NFL. Então decidiu jogar na CFL, liga canadense de football, e lá ganhou cinco títulos. Ficou até 1983 e no ano seguinte entrou na NFL integrando o elenco do Houston Oilers (atual Tennessee Titans).


O tempo foi passando e a lenda criando força. Em 1989, por exemplo, acontece algo marcante: Moon é o jogador mais bem pago da liga. Ao final da sua carreira em 2000, Moon tinha o primeiro lugar nas seguintes estatísticas na história do football profissional (contando outras ligas junto com a NFL):

- Maior número de jardas no passe
- Maior número de passes para touchdown
- Maior número de passes completados
- Maior número de passes tentados

O talento estava com Moon, então por que diziam para ele mudar de posição, argumentando que não daria certo como QB? Na época, por mais triste que pareça, era comum isto acontecer. Porém a qualidade do jogo de Moon provou o contrário do que acreditavam e seu lugar no Hall da Fama é uma prova disto. A batalha vencida por ele (e por outros QB´s afro-americanos, como Randall Cunningham) fez que o caminho ficasse mais fácil e tranquilo para seus sucessores. Hoje é possível olhar para o passado e ver que dois QB´s afro-americanos foram escolhidos como número 1 no draft (Michael Vick em 2001 e JaMarcus Russell em 2007).

Newton pode ser número 1 em 2011, mas a crítica da PFW não está baseada em preconceitos ou algo do tipo. Nawrocki salientou traços da personalidade do jogador fundamentais que sejam conhecidos, para que diretores da NFL saibam melhor quem é a pessoa que poderá receber milhões de dólares com uma “simples” assinatura.

A opinião escrita, originária de uma observação ‘in loco’ e de muita investigação, é natural e deve ser lida normalmente. Newton entra no draft deste ano com um título da NCAA, mas traz consigo um passado recheado de problemas. Ele foi preso por arrombamento, apropriação indébita e ameaça a uma testemunha – isto após roubar um notebook dentro da república da Universidade da Flórida (quando ele estava por lá). No mesmo ano (2008) ele foi pego em dois incidentes nos quais tentou burlar provas ao colocar seu nome em exames de outros estudantes.

A negativa avaliação pode afetar a posição de Newton no draft. Vale lembrar que ele não é a única vítima de péssimo comportamento. Ryan Mallet (branco), QB da Universidade Arkansas, terminou a temporada da NCAA como uma promessa top. Ao descobrir os envolvimentos dele com drogas, somada com sua fútil personalidade, o status dele caiu e hoje é considerado um jogador de 3ᵃ rodada.

Nawrocki não elaborou o perfil de Newton como se fosse contra o jogador – ou uma mostra de um preconceito enrustido. O jornalista não alivia quando percebe algo de errado e algo similar aconteceu com Jimmy Clausen em 2010. Eis um trecho do que Nawrocki escreveu:


Tem um ar superior por ter estudado em colégios particulares, treinado por técnicos particulares e ser um protegido da família. É arrogante, acha que sabe tudo e não mostra traços de liderança. Imaturo, não tem uma presença desejada para ser a face de uma franquia. Não se dedica nos trabalhos físicos

O mesmo tom usado na avaliação de Newton foi utilizado na de Clausen.

O tempo de preconceito contra os QB´s afro-americanos passou, tanto quanto a “imunidade” imposta que não permite uma visão negativa ao analisar o trabalho e estilo de um QB afro-americano, como se qualquer posicionamento mais incisivo seja fruto do racismo. Moon, mais do que ninguém, é a prova da mudança desta noção, vencendo olhares tortuosos com performances em campo espetaculares; da mesma forma que um desempenho ruim e atitudes dúbias levam ao fracasso e à rejeição.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Kent Horner / Getty Images
© 2 Kevin C. Cox / Getty Images

3 comentários:

Okocha disse...

Situações inusitadas essa e a dos RB's Brancos. O FA seja talvez o único esporte q tem puliaridades como essas.

Anônimo disse...

Realmente oque o Moon disse foi inclusive maldoso , querendo disvirtuar os defeitos do seu protegido , querendo levar o assunto para outras esferas , pois a avaliação não tem absolutamente nada de racista , e vale salientar:

"Ele foi preso por arrombamento, apropriação indébita e ameaça a uma testemunha – isto após roubar um notebook dentro da república da Universidade da Flórida (quando ele estava por lá). No mesmo ano (2008) ele foi pego em dois incidentes nos quais tentou burlar provas ao colocar seu nome em exames de outros estudantes."

Depois disso , a avaliação esta errada?

Anônimo disse...

uma coisa é certa...pra ser um jogador de sucesso na NFL o atleta tem que pelo menos ter jogado no mesmo nivel durante todo seu periodo na universidade...esses caras que despontam num unico ano geralmente sao os busts do futuro...vernon ghoston...jamarcus russel...vince young...matt leinart e por aí vai...ai vc pega um time ruim como o rams coloca um QB que foi muito bom em todo o periodo da universidade e vc muda totalmente a cara da franquia....esse newton pra mim é puro hipe...nao vejo ele jogando em alto nivel na NFL nunca

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