LeBron James: A Pessoa do Ano


O ala do Miami Heat não chegará nem perto dos primeiros lugares na disputa pelo prestigiado prêmio da revista “TIME” intitulado “Pessoa do Ano”; como ele mesmo disse, seu nome nem deveria ser mencionado na lista de 25 candidatos – entre eles estão os mineiros chilenos, Barack Obama (presidente dos EUA), Julian Assange (fundador da WikiLeaks), Lady Gaga (cantora) e Recep Tayyip Erdogan (primeiro-ministro da Turquia); estes três últimos estão nas primeiras posições.

Porém quem colocou o nome dele na lista foram os editores da TIME baseado em argumentos justificáveis, por mais que LeBron seja apenas um jogador de basquete. Tudo o que envolveu o atual MVP da NBA chegou a proporções que extrapolaram o mundo esportivo e suas decisões em 2010 causaram ódio, incitaram raiva e pautaram a imprensa em cadernos que não somente o de esportes.

O momento mais emblemático aconteceu no dia 8 de Julho, quando LeBron e sua equipe organizaram, um programa de uma hora de duração na ESPN, em horário nobre, para divulgar qual seria seu destino e em qual time ele iria jogar a partir de então. Com a frase “Levarei meus talentos para South Beach” – que virou bordão – LeBron anuncia sua ida ao Heat para formar um super trio com os amigos Dwyane Wade e Chris Bosh.

O programa chamado “The Decision” recebeu severas críticas sobre a necessidade de um show ser realizado para informar algo que poucos minutos bastariam. O fiasco foi premeditado, mas o sucesso foi obtido. O repúdio foi grande, assim como a audiência: “The Decision” alcançou uma média de 7.3 no índice Nielsen (cerca de 9.95 milhões de telespectadores nos EUA), maior que a audiência (6.2), na média, das Finais de 2007 entre Cleveland Cavaliers (ex-time do LeBron) e San Antonio Spurs.

Então um cara conversando atraiu mais público em frente ao televisor do que uma série de jogos decisivos que teve este mesmo cara atuando em quadra? Sim, e a repercussão foi estrondosa. Em Cleveland, por exemplo, pessoas começaram a queimar camisas dos Cavs com o número 23 às costas e no dia seguinte os jornais locais expressaram o sentimento de desolação da cidade.

Esta é a capa do principal jornal da cidade (Cleveland Plain-Dealer) e diz nas linhas menores: 7 Anos em Cleveland. Nenhum anel.


As manchetes estampavam palavras de rejeição, uma resposta em tom similar a que LeBron deu a Cleveland. Houve um mix de compreensão em relação a escolha dele em optar por mudar de clube, entretanto o consenso existia com a discordância de fazer isto em uma rede super popular com transmissão para todo o mundo.

Este específico episódio colocou LeBron no centro dos noticiários e consequentemente na boca do povo. Assim ele virou assunto nas conversas; aquele que muitos amavam e passaram a odiar. “The Decision”, que teve um intuito beneficente e arrecadou em propagandas mais de US$ 3 milhões, doados para a fundação “Boys & Girls of America”, trouxe um tipo de maldição sobre si, dando material suficiente para os detratores de plantão o bombardear de impropérios.

O tema não cessou semanas depois e o ala mantinha seus ouvidos nas ruas para permanecer sintonizado no que elas falavam. Entre insultos e – por incrível que pareça – elogios, LeBron assimilava dizeres que questionavam sua integridade. Absorveu declarações que queriam frear seu direito de ir para onde desejar. Aí chegou a vez dele contra atacar com um comercial, produzido pela Nike, com o título: “O que eu deveria fazer?

Nele são retratadas as opiniões mais comuns acerca do jogador e sua postura. O filme de 1 minuto e 30 segundos é num tom sarcástico, real, discursivo e intrigante. A pergunta que ele faz constantemente no reclame tem sua resposta no slogan da marca que o patrocina: “Just do It” (tr. “Apenas faça).

A cidade de Cleveland não ficou calada e logo surgiu na internet uma paródia deste comercial. Neste aparecem torcedores dos Cavaliers respondendo o que LeBron deveria fazer. Frases do tipo: “Traidores não deixam um legado” e “Quando a situação fica difícil você desiste, este é seu legado” recheiam o vídeo que bate forte na tecla traidor e derrotista.

Como um cara que estimulou rancor e aversão pode ser considerado a “Pessoa do Ano”? Para a TIME, esta honraria não é dada somente àqueles que fizeram coisas louváveis ou deram um bom exemplo. Segundo a diretriz do prêmio, ele é entregue a quem “....para pior ou para o melhor fez mais para influenciar os eventos do ano”. Claro que LeBron não ganhará destaque na votação (é o atual 21º na lista), mas sua indicação retrata o tamanho da sua representatividade e o quanto que sua decisão moldou (e ainda molda) opiniões na mídia e entre os que acompanham mais de perto a NBA.



(GL)
Escrito por João da Paz

Um comentário:

Angelo disse...

Como sempre nos presenteando com ótimos artigos sobre a NBA!

Meus parabéns!

Abraços!

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