Um Aceno Reverencial

O touchdown é o momento maior num jogo de football. Na briga territorial dentro de campo, depois de muita luta e esforço, alguém entra no território inimigo e assim consegue seis pontos para sua equipe. O êxtase vem e a comemoração surge com danças, pulos, gritos. O atual líder da NFL em jardas corridas, Arian Foster, RB do Houston Texans, faz diferente: ele pára, junta as duas mãos e saúda o torcedor. Tudo com um significado.

Essa celebração original é um de tantos detalhes que colocam Foster na categoria “diferente”. O gesto curvo feito após um TD é o destino final de muitos caminhos, tanto dos bons quanto os dos ruins. Uma trajetória fora do comum levou o incomparável ao ponto da serenidade. Não que fosse uma opção alternativa (embora seja), mas uma escolha para livrar o mal e concentrar no bem.

Na Universidade Tennessee ele cursou Filosofia. Sua passagem pelas salas de aula não eram apenas por compromisso para atuar no time de football, queria aprender as nuances da matéria, o que lhe interessava bastante. Nas conversas com seus companheiros de faculdade e/ou time logo percebia que o linguajar era diferente, que o pensamento em relação às coisas comuns era diferente. Além de ser bom de papo, o jogador expressava seus conhecimentos e sentimentos no papel. Para virar um poeta foi um pulo.

Difícil acreditar, mas mesmo nesta era digital e tecnológica, Foster usava uma caneta e uma folha. Ele mantém guardado cerca de 30 poemas escritos a mão, rascunhos de ideias e teses sobre a vida moderna e a cultura oriental. Pois é, vejam quais são as influências dele.

A cultura egípcia e todos seus aspectos encantam Foster, a ponto de colocar na sua primeira filha o nome de Zeniah Egypt. O hinduísmo também o atrai e influenciado pelos ensinamentos aprendidos na religião de origem indiana, veio a inspiração para sua comemoração de TD. Do oriente vêm também seus gostos musicais: antigos sons chineses e um básico Mozart, alicerces que o energizam na preparação antes de uma partida.

Todas as influências recebidas lhe deram o equilíbrio fundamental para ficar em pé e não oscilar perante as turbulências enfrentadas. Em seu ano de graduação, Foster machucou o quadril e essa lesão o prejudicou muito. Não teve boas performances na temporada final na NCAA, não participou do Senior Bowl (Jogo das Estrelas entre veteranos) e não esteve presente no Combine (testes pré-draft). Sua cotação no draft caiu drasticamente e passou de um provável jogador de segunda rodada (se optasse por sair da faculdade no terceiro ano) para um excluído – não foi selecionado no draft de 2009 (7 rodadas).

Nenhuma das 32 franquias o escolheu, porém algumas queriam vê-lo mais uma vez. Quem acabou decidindo foi o próprio jogador, que enxergou em Houston uma chance de poder mostrar seu trabalho e ser um elemento adicional no elenco. Treinos e mais treinos renderam a Foster um lugar na equipe... de treino.

Mais uma vez a paciência iria ser testada. Conforme for a atitude, é possível usar esta determinada situação como uma transição a equipe principal, para isso é necessário entrega, profissionalismo, vontade de aprender, aprimorar as qualidades e corrigir os defeitos.

Uma crítica feita ao estilo de jogo de Foster era em relação ao jeito que ele segurava a bola. Chick Harris, treinador dos running backs, colocou duas fotos perto do lugar que Arian sentava na sala de reuniões: uma mostrava o RB Ryan Moats com postura perfeita e imponente; e outra mostrava Foster segurando a bola sem protegê-la. A preocupação era tanta que foi criado um exercício específico para que ele aprendesse a maneira correta de correr com a bola e não deixá-la exposta para o adversário. A lição foi assimilada.


Em 2009, nos dois últimos jogos da temporada, Foster atuou em alto nível, um tipo de aperitivo do que estaria por vir. Contra os Dolphins foram 97 jardas terrestres e contra os Patriots foram 119. Na intertemporada ele dedicou ainda mais tempo aos treinos físicos e aos táticos. Aprendia mais sobre o ataque da sua equipe que na temporada passada teve o QB (Matt Schaub) que conquistou mais jardas via passe.

O campeonato deste ano começou um arraso para os Texans com uma vitória contra o Indianapolis Colts e uma partida histórica de Foster: 231 jardas corridas e 3 TD´s. Era um presumo dos jogos futuros. Evidente que dificuldades foram enfrentadas ao longo dos 9 jogos realizados até agora, entretanto seus números são excelentes:

- 920 jardas corridas (líder da NFL)
- 11 TD´s (líder da NFL)
- 5.3 jardas de média por corrida e 9.7 jardas de média por recepção

O processo de transformação ocorreu num curto espaço de tempo, mas não foi concretizado por uma mágica. As provações destrinchadas ocorreram como aprendizado e foram resolvidas por haver alguém preparado para encará-las. Os resultados positivos dentro de campo e a tranquilidade vivenciada fora dele são frutos da concentração no que é importante: paz de espírito, paz consigo mesmo.

Ao curvar seu corpo em reverência, Arian Foster agradece. Ao curvar seu corpo em reverência, Arian Foster simboliza. Representa uma saudação de respeito para com os ensinamentos que o auxiliaram a chegar ao seu estado atual; além de aconselhar. O ato pode parece um simples cumprimento, porém expressa muito mais que isto. Transmite a mensagem de que “o Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em ti”. E deixa uma dica aos que sabem o que o gesto significa e conhecem o porquê Foster o faz após cada touchdown.

Namastê!



(GL)
Escrito por João da Paz



© 1 Bob Levey / Getty Images
© 2 Ronald Martinez / Getty Images

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