O Cheiro da Bonança ao Abrir da Janela

A caminhada do Texas Rangers rumo à World Series 2010 teve um trajeto totalmente fora do padrão, com acontecimentos que normalmente levariam ao fracasso e a dias turbulentos. Porém jogadores, treinador e diretoria superaram as dificuldades apresentadas, chegam a grande decisão da MLB após 49 anos da fundação do clube (1ª vez na história) e estão preparados para repetir a façanha conseguida nesta temporada.

Se isto vier acontecer sem tantas adversidades, melhor.

Duas situações delicadas precisaram de muita serenidade para serem contornadas; atitudes que somente poderiam partir de membros tão chegados como se fossem família. Primeiro houve as divulgações de fotos desalentadoras do OF Josh Hamilton (saiba mais lendo o artigo “O 1 de 101%”). O jogador estava se recuperando de uma grave dependência química e um site divulga imagens dele num bar com outras garotas se divertindo além da conta... Hamilton prontamente se desculpou e o clube ficou do seu lado, lhe dando apoio e agindo de maneira correta, pois tal decisão só contribuiu para a recuperação do outfielder.

Durante todo campeonato Hamilton recebeu força e encorajamento dos seus companheiros para seguir firme na sua reabilitação. Entre tantas ações do tipo, uma ficou registrada em vídeo num gesto bem carinhoso e inteligente. Sempre que um time consegue uma classificação para os playoffs, ou decisão de Liga, ou World Series, os jogadores celebram a conquista estourando champagne. Os Rangers fizeram diferente só para incluir Hamilton na festa, já que ele é aconselhado a ficar longe de qualquer bebida alcoólica. Assim que o time conseguir passar pelo Tampa Bay Rays e avançar para a final da Liga Americana, Hamilton arrumou as suas coisas e se preparava para ir embora. Alguns jogadores o chamaram ao vestiário e o cercaram, dando um banho nele de... refrigerante! – a bebida utilizada foi a ginger ale (marca Canada Dry), que tem uma aparência similar com a do champagne.

Outro caso que foi preciso uma boa intervenção foi o doping por cocaína do treinador Ron Washington. Ele falhou num teste feito durante o recesso do Jogo das Estrelas de 2009, mas o resultado se manteve no sigilo até o site da revista Sports Illustraded publicar o resultado em Março deste ano. Prontamente Washington se dirigiu à imprensa e deixou bem claro o que realmente aconteceu, assumindo o uso da droga e reportando que estava cumprindo o programa de tratamento obrigatório pela MLB. Quando acabou suas horas de participação no programa, ele se apresentou voluntariamente até o final do campeonato; além de fazer vários testes durante este período.


Por a notícia ter sido divulgada antes do começo desta temporada, muitos ventilaram a possibilidade dele ser demitido, entretanto seus atletas não deixaram. Washington (foto acima), ainda na pré-temporada, reuniu todos do elenco e contou a história do doping. Cerca de 10 jogadores, liderados por Michael Young, mostraram apoio ao técnico. Um por um dos que se dispuseram a falar ficaram de pé entoando uma só mentalidade: união e comprometimento em prol do treinador. Assim foi durante a temporada, assim tem sido.

Fora esta força dada pelos atletas, o diretor de beisebol (GM) Jon Daniels foi o que mais energizou Washington, que em nenhum momento recebeu críticas ou julgamentos do gerente, pelo contrário, ganhou um amigo incondicional. Daniels mostrou ser um homem maduro e bem ciente de sua posição apesar da sua pouca idade (33 anos) para um cargo de enorme responsabilidade.

E olha que faz cinco anos que Daniels é GM dos Rangers. Com 28 ele assumiu o cargo e se dedicou a cumprir o plano que tinha em mente: construir um time forte com base no draft e em jogadores baratos via trocas. Esta não é uma filosofia de trabalho nova, mas é necessário ter competência para realizá-la com eficiência. Antes de tudo, ele montou uma forte equipe de olheiros e avaliadores para analisar com cuidado os jovens talentos dos times de base da franquia, os jogadores que poderiam chegar via draft e atletas adversários com potencial de se juntar ao clube.

Grandes nomes saíram da equipe como o 1B Adrian Gonzalez (Padres), OF Alfonso Soriano (Cubs), P John Danks (White Sox), 1B Mark Teixeira (Braves-Angels-Yankees) e P Edinson Volquez (Reds). Destas transações, só as duas últimas trouxeram bons resultados aos Rangers: os Braves (2007) cederam duas promessas (SS Elvis Andrus e C Neftali Feliz); e os Reds (2008) cederam o OF Josh Hamilton.

Conforme os anos passavam Daniels aprendia mais e, consequentemente, o time ficava mais forte. A base se moldava com uma juventude empolgante e a ela se juntavam veteranos adquiridos em posições chaves. Para o campeonato 2010 Daniels contratou o DH Vladimir Guerreiro, 35; no meio da temporada chegaram o catcher Bengie Molina, 36, e o P Cliff Lee, 32. Estes, junto com outros 5 jogadores, são os únicos do elenco acima dos 30 anos – são 25 atletas no total; média de idade de 28.6.


Os Rangers têm talento suficiente para ficar por muito tempo na elite da Liga Americana; e este é o plano de Daniels (foto acima). O elenco que ele criou é coeso, pronto para manter o alto nível de beisebol dentro do diamond e manter o alto astral longe dos uniformes, comportamento tão importante que aproxima mais todos os membros da organização. Mesmo rotulado de “pai da criança”, uma brincadeira com Andrus rendeu a Daniels um dia desagradável por "duvidar" da capacidade do seu time em vencer jogos.

Texas estava iniciando uma série contra o Milwaukee Brewers (11 de Junho). O primeiro jogo foi uma derrota e para a segunda partida Andrus aparece com um cabelo tingido de loiro, logo causando uma grande resenha por parte de Daniels. Andrus então pergunta ao seu chefe ”Quantos jogos precisamos vencer para você tingir seu cabelo de loiro?” Daniels, sem acreditar muito que tal sequencia fosse possível de ser atingida, responde “10 jogos”.

Pois bem. Do dia 12 de Junho ao dia 23 do mesmo mês os Rangers venceram 10 partidas seguidas – maior sequencia de vitórias desde 1991. Aí no dia 24 lá estava Daniels de cabelo loiro assistindo seu time vencer a 11ª partida em 11 jogos. Lá estava o diretor com um look de gosto duvidoso sendo alvo de gozação do elenco. Lá estava um time alegre e feliz por ter um ambiente bom e agradável todos os dias, sejam eles maus ou bons.

Porém tudo é mais gratificante quando o clima ameno paira no ar.




(GL)
Escrito por João da Paz


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Um comentário:

Carlos Claro disse...

Excelente texto.

Quase faz a gente sentir culpado por torcer pelos Giants nessa World Series, hehe.

Mas só de terem chegado lá, isso dará força e motivação para tentarem retornar com mais qualidade nos próximos anos.

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