Ingênuo, Porém Com Um Propósito


Pete Carroll acredita.

Crê que pode ser vitorioso na NFL. Crê que seu método de treinar traz resultados positivos – dentro e fora de campo. Crê que ser autêntico faz toda a diferença.

Paul Allen, dono do Seattle Seahawks, acredita em Carroll. Por isso ele não será apenas o treinador do clube nas próximas três temporadas, mas também o Vice-Presidente da franquia. Espera-se, assim, que ele traga uma nova mentalidade para a equipe, um rejuvenescimento de idéias e conceitos.

Os cabelos brancos não representam uma velhice rabugenta. Carroll é um jovem de 58 anos e vive sonhando a cada hora marcada pelo relógio, ciente de que coisas boas sempre aconteceram no amanhã, embora seja necessário confiar no hoje. Após ser demitido do New England Patriots em 1999, o treinador viu com otimismo sua saída da NFL após 15 anos. Sentia que o destino lhe daria algo bom.

Ao final do ano 2000, Carroll acertou com a Universidade do Sul da Califórnia (USC) e completado nove anos de trabalho, uma dinastia foi criada – e vários talentos foram entregues à liga como Mark Sanchez (QB), Troy Polamalu (S), Carson Palmer (QB), Reggie Bush (RB), Brian Cushing (LB) entre outros.

O mesmo motivo que o tirou da NFL o fez ter êxito na NCAA.

Pete trabalha diferente do padrão. Dificilmente grita ou dá bronca. Quando vê alguma coisa errada nos treinos e/ou jogos prefere conversar com o jogador particularmente, explicando porque equívocos não podem ser cometidos e as consequências que erros causam. É uma espécie de motivador, um cara que contagia quem está ao seu redor e trata todos seus subordinados igualmente. Este é seu estilo.

Na NFL ele aprendeu os detalhes técnicos e táticos do esporte enquanto fazia parte da comissão técnica defensiva do Buffalo Bills (1984) e Minnesota Vikings (1985 até 1989). Foi coordenador da defesa do New York Jets de 1990 até 1993 e do San Francisco 49ers de 1995 até 1996. Mas quando assumiu o comando de um time, não deu certo.

Foi treinador dos Jets por uma única temporada: 1994. Com os Patriots foram três campeonatos (1997 até 1999). Seu aproveitamento como técnico é acima dos 50% (33v e 31d), conseguindo levar os Patriots para dois playoffs. Apesar disto, sua passagem pela NFL é considerada um fracasso.

Ele não gosta de ouvir que seu trabalho na liga foi um fracasso – como costumam rotular. Colocando termos justificáveis de lado, os anos como treinador na NFL foram marcados por um relacionamento com os jogadores profissionais não condizente. Quando se trata de adultos milionários, conversas de canto e frases de efeito tendem a não funcionar.


Com os Patriots, os atletas boicotaram instruções de Carroll. Quem testemunha isto é Tedy Bruschi, linebacker do time de 1996 até 2008 – hoje ele é comentarista da ESPN. Assim que Bill Belichick assumiu depois da demissão de Carroll, os mesmos jogadores que faziam corpo mole e desdenhavam ordens de Pete, passaram a ser profissionais dedicados com Bill.

Na entrevista coletiva de apresentação à mídia de Seattle, Carroll fez questão de se posicionar contra esta idéia de que jogadores da NFL têm que ser tratados com rispidez e autoritarismo. Ele afirma não ver diferença entre jogadores profissionais e universitários: “[os primeiros] são mais velhos e tem mais dinheiro. Só isso”.

Exatamente!

São mais maduros e mais experientes, ou seja: o relacionamento precisa ser outro. A margem de erro é extremamente limitada e não há muito espaço para discursos positivistas e papos na lateral de campo como se tivesse conversando com uma criança. Funcionou na NCAA, mas a probabilidade de funcionar no profissional é pequena.

Embora assim seja Carroll – pode chamá-lo de ingênuo. Ele acredita que sua metodologia é eficiente para criar times vencedores. Os Seahawks apostam nele e pediram que nada fosse mudado em relação ao seu estilo, querem a personalidade jovial demonstrada nos últimos nova anos em USC presente em Seattle. Isto é o que chamam de voto de confiança.

Por colocar Carroll como Vice-Presidente, Allen quer mudar a cara da franquia fora de campo. Em uma pesquisa extensiva feita pela ESPN, o clube ficou em 18º na categoria “Relação com os Torcedores”. Pete será encarregado de mudar este cenário e aproximar a equipe dos fãs. Um dos primeiros passos é reestruturar o elenco que nos últimos dois campeonatos venceu 9 jogos e perdeu 23. Desde que assumiu o cargo no dia 11 de Janeiro deste ano, Carroll conduziu 40 transações envolvendo 95 jogadores.

Além de vitórias, ser participativo na comunidade traz os torcedores para mais perto. Em Los Angeles, cidade onde fica o campus da USC, Carroll fazia um trabalho ativo e envolvente com os angelinos. Entre tantas ações, uma testifica acerca da ingenuidade intrínseca em Pete. A calada da madrugada vinha e ele saia às ruas para se encontrar com membros de gangues. O objetivo era conversar com os jovens inseridos no mundo do crime, mostrar-lhes que a grave violência urbana poderia ser cessada e que tudo depende somente deles. Utopia? Sim e não ao mesmo tempo, pois por mais que o pensamento comum indique que esta forma de encarar a violência seja infrutífera, a polícia de Los Angeles está aí para confirmar que a abordagem de Carroll trouxe resultados positivos.


A motivação move Pete para ir de encontro ao problema e resolvê-lo. A motivação move Pete em busca de um convívio mais harmonioso e sem atritos. O objetivo dele é fazer algo para melhorar o ambiente ao seu redor e, por consequência, tornando a si mesmo melhor, tornando o próximo melhor.

Essas idéias e pensamentos de Carroll são registradas em papéis e seu quarto livro está para ser lançado. “Win Forever: Live, Work and Play Like a Champion” (tr. Vença Sempre: Viva, Trabalhe e Jogue como um Campeão) chegará às livrarias dos EUA (inclusive nas virtuais) no próximo dia 13. Será mais uma peça sobre motivação esportiva aplicada no cotidiano de qualquer pessoa que se identifique.

Ele gosta muito de livros e seu preferido é “O Alquimista” do Paulo Coelho. Não poderia ser diferente, já que a personagem central do conto (Santiago) é um ingênuo sonhador, mas com um desejo insaciável de encontrar um tesouro e ele não desiste até achá-lo.



(GL)


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