A Bem-Aventurada Entre os Santos


Em um dos menores mercados da NFL - à frente apenas de Green Bay, Wisconsin (pop. 101.203) - , os Saints sobrevive por milagre e Rita Benson LeBlanc (na foto acima entre Drew Brees, esq. e Reggie Bush dir.), Vice-Presidente Executiva da franquia, é a responsável direta por o clube ainda está em New Orleans, Louisana (pop. 336.644) e ainda ser lucrativo e competitivo na maior liga esportiva do mundo. Nem um desastre de proporções catastróficas impediu o progresso dos Saints, na verdade ajudou a franquia a se unir mais à comunidade e deixar claro o seu valor intangível para os habitantes da cidade.

Rita é responsável por vários setores do clube: marketing & propaganda, programas comunitários e operações do estádio (Superdome); ela cuida de todas as finanças da franquia e é a representante oficial dos Saints nos encontros oficias dos executivos da NFL – tem mais de 75 pessoas trabalhando diretamente para ela. Além de ser a segunda no organograma pessoal da franquia, é sócia majoritária do clube e possível sucessora do atual presidente/dono: Tom Benson. A similaridade com o sobrenome não é mera coincidência; Rita é neta de Tom.

Ao saber disto logo surge os tão pré-conceituosos questionamentos: Ela só chegou nesta posição porque é neta do dono e blá, blá, blá... Rita sofreu o mesmo que Jeanie Buss (confira: Ela é o Futuro dos Lakers), mas o trabalho e dedicação (e a simples postura de não estar nem aí) faz com que tais argumentos caem por terra.

Ela começou de baixo e passou por todos os departamentos do clube: assessoria de imprensa, pesquisa de dados, fiscal... Sem contar que nos tempos da faculdade ela passava as férias trabalhando nos escritórios da NFL em Los Angeles, New York e New Jersey. O respeito que ela adquiria dos executivos (leia-se: homens) era devido a sua firmeza e decisão em assuntos delicados e controversos, mostrando uma postura sólida e convicta. Assim ela aprendeu a não se intimidar, rompendo uma barreira importante no mundo corporativo da liga.

Porém um desafio gigantesco apareceria, um sério problema que iria transformar a cara da franquia Saints.


Em 2005 a cidade de New Orleans foi devastada pelo furacão Katrina e as dependências do clube, principalmente o Superdome (foto acima - que acabou virando um refúgio aos desabrigados), foram alvos da destruição. O time teve que jogar em outras cidades e o boato que a franquia sairia de NO (indo provavelmente para San Antonio) surgiu com força. O desastre natural expôs a todos os defeitos dos Saints e a insatisfação que a população tinha com o clube: público nos jogos irrisório, um estádio ultrapassado e pouco apoio dos habitantes. Rita, contudo, se posicionou contra a saída dos Saints de NO e iniciou um processo de reconstrução esplêndido.

Quem viu o Superdome aos cacos em 2005, não imaginaria que um ano depois teria uma partida da NFL por lá. Pois bem, 2006 marcou a volta dos Saints ao seu estádio e um recorde foi alcançado: pela primeira vez na história da franquia que todos os jogos em casa teve a lotação máxima – fato que se repete em toda temporada desde então. De desgosto da cidade, o clube passou a ser orgulho, graças ao trabalho da Rita em ajudar a reconstruir não só o clube, mas New Orleans também.

Logo após o Katrina, Rita criou um fundo de arrecadação para ajudar as vítimas do furacão. Seu trabalho rendeu, só em 2005, 1 milhão de dólares que foram repassados para a comunidade. De 2006 pra cá, são mais 1 milhão e meio de dólares doados para escolas e bairros que ainda se recuperam do Katrina. Estas ações aproximaram o time da população, criando uma oportunidade única para a revitalização da franquia. Aí entrou o departamento de marketing, usando o logo do clube em diversas ações e associando cada vez mais a cidade com o time. O trabalho rendeu um prêmio aos Saints (Rita), recebendo da Associação Americana de Marketing o troféu de “Melhor Ação de Marketing de 2006”.

No último levantamento da Forbes (revista de economia), o New Orleans Saints é o 22º clube mais valioso (de 32) da NFL. Pode parecer pouco, mas é bastante significativo levando em consideração o rendimento do time em campo e um mercado restrito; embora a renda de US$ 232 milhões arrecadada na temporada 2008-09 tenha sido 11% maior do que no biênio 2007-08, deixando a entender que há mais espaço para crescimento.


E é assim que Rita (foto acima) vê. Exemplo: se hoje existem jogos da NFL em Londres, ela é a responsável. Por ser a chefe do Comitê Internacional da NFL, ela que planejou, executou e tornou possível a realização de jogos da temporada regular na capital da Inglaterra. Seu clube jogou contra o San Diego Charges no estádio Wembley em 2008 e até agora ela conta as vantagens ($$$) e a exposição que os Saints e New Orleans tiveram no evento. Ela já esteve em Londres nesta temporada para preparar a cidade que almeja ser sede de um Super Bowl (a final do campeonato). Ao ser questionada se será possível uma franquia se deslocar para o “velho mundo”, Rita diz: “Eu sou extremamente pragmática com números e eles estão a favor de Londres. É importante neste mundo globalizado que vivemos expandir nossa audiência, mas a possibilidade de isso acontecer ainda está sendo estudada”.

Ir jogar na Europa foi uma das melhores coisas que a franquia fez, porém ainda era preciso se estabelecer na cidade natal. O acordo feito com o governo de Louisiana para o clube ficar com o Superdome até 2025 é uma afirmação que há uma harmonia entre estado-time-população. Em uma era de mega-estádios, é estranho ver um clube assinando um contrato de tão longo prazo com um dos estádios mais velhos (desde 1975) dos EUA . Mas há um projeto de renovação da ordem de 320 milhões de dólares que não será gasto somente no estádio, o bairro em volta dele também será reformado e modernizado.

Dos 35 anos de vida, Rita passou boa parte dele se dedicando ao New Orleans Saints. Seja no trabalho com a comunidade (Katrina), seja no marketing (pós-Katrina e NFL em Londres), seja no Superdome, o trabalho dela tem sido eficiente, saudável e lucrativo. Mesmo não precisando provar nada pra ninguém, sua ações deixam claro que ela não está na atual posição perante o clube e a NFL por ser “neta do dono”. Por mais que Tom seja realmente a grande inspiração dela – e a razão de escolher o football ao invés de viver nas fazendas de mais de 1200 hectares do seu pai –, Rita mostra que tem personalidade própria e usa a sua privilegiada posição para ajudar uma cidade que é conhecida pelo jazz, carnaval e, agora, por ter um time competitivo na NFL chamado Saints.


(GL)



© 1 Max Vadukul
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Um comentário:

Juliano Oliveira disse...

Grande matéria, vocês estão de parabéns :)

Torço para o Saints, então essa matéria foi bem interessante para mim. Espero que ela faça a franquia vencedora, se não for esse ano (tomara que seja!) que seja nessa nova década.

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