Usando como base a escola filosófica pós-contemporânea do querido apresentador noturno da televisão brasileira, Ronnie Von, que consegue – como muitos já sabem – ser objetivo e direto numa simples resposta para uma pergunta complexa, a seguinte indagação é claramente decifrável:
"Football: significa bola no pé?"
Significa...
Aí entra outra questão que todo brasileiro admirador do football já fez na vida: "Então porque o futebol americano é jogado, em grande parte, com as mãos?" Bom, nem o galã da jovem guarda conseguiria ser sucinto para explicar esta pergunta, mas pode-se afirmar que os momentos do jogo que a bola está no pé de alguém são os mais decisivos, levando uma equipe ao sucesso ou ao fracasso. O mais recente kicker a sentir esta importância foi Nate Kaeding (San Diego Charges – foto acima)
Na partida semifinal da Conferência Americana, o San Diego Charges foi eliminado pelo New York Jets em casa. Diversos fatores colaboraram para a derrota do time que vinha de 11 vitórias seguidas e Kaeding foi um deles. Especialistas apontaram, antes da partida, o kicker dos Charges como peça fundamental para uma possível vitória de sua equipe. Ele estava numa sequência impressionante de 20 FG´s (field goals) consecutivos, errando apenas 3 durante 16 jogos e considerado, pelos números, o mais preciso kicker de toda a história da NFL.
Mas os Jets estavam pela frente... e o confronto era de playoffs...
Kaeding errou três FG`s na semifinal e os Charges perderam por 3 pontos (17 a 14). Qualquer um dos FG´s, caso convertidos, mudaria o curso da partida. O primeiro (36 jardas), o jogo estava 0 a 0; o segundo (57 jardas) foi no final do segundo tempo e San Diego vencia por 7 a 0; e o terceiro (40 jardas) aconteceu no último período quando os Jets venciam por 17 a 7. Estes FG´s perdidos se somam a outros seis que ele não converteu em playoffs, conseguindo marcar apenas 3 de 9 chutes tentados no total. Nate não precisa ficar tão desapontado porque ele não é o único a falhar na hora H.
Mike Vanderjagt (Colts e Cowboys) era o detentor do recorde de eficiência antes de Kaeding. Na temporada 2003-04 (defendendo o Indianapolis), ele converteu 37 de 37 FG´s e 46 de 46 pontos extras. Porém nos playoffs do campeonato 2005-06, enfrentando o Pittsburgh Steelers, ele entrou para a galeria das decepções, ao perder um FG de 46 jardas restando 18 segundos para acabar a partida – IND estava atrás no placar: 21 a 18. Depois deste jogo todos torcedores esqueceram-se das atuações eficientes de Vanderjagt e só irão se lembrar do FG perdido.
Provavelmente o mesmo acontecerá com Kaeding, que tem mais um agravante: nos playoffs 2003-04 ele perdeu um FG na prorrogação que custou a vitória para SD (20 a 17). A partida foi contra o New Yor Jets...
Baseado nessas situações e performances é possível afirmar que existe o kicker de temporada regular e o kicker dos playoffs? Sim. Como, aliás, acontece com qualquer outro jogador dentre os 53 que compõe o elenco; uns são bons em jogos que não valem nada, enquanto outros aparecem nos momentos decisivos. Se alguém perguntar para o Robert Kraft, dono do New England Patriots, qual o valor e a importância de um kicker para um time de football, ele saberá responder muito bem.
Sua franquia conquistou três títulos nos anos “00´s” e dois deles vieram com a contribuição direta de um kicker: Adam Vinatieri. No Super Bowl XXXVI (36 – foto acima), ele converteu um FG de 48 jardas que colocou os Patriots a frente do Saint Louis Rams – foi o último lance do jogo. Dois anos depois, no Super Bowl XXXVIII (38), ele marcou os três pontos faltando 4 segundos para o término da final contra o Carolina Panthers (NE venceu: 32 a 29).
Ao se transferir para os Colts, ele levou consigo sua performance de alto nível. No Super Bowl XLI (41) ele converteu 3 de 4 FG´s e o Indianapolis venceu o Chicago Bears: 29 a 17.
Nos bastidores se comenta sobre a possível ida de Vinatieri para o Hall da Fama. Mesmo que existam argumentos contrários a sua indicação para o seleto grupo, deve se levar em consideração que em três Super Bowls ele foi responsável direto pela vitória do seu time. Quem sabe este ponto de vista seja forte o suficiente para ele receber esta homenagem e se juntar ao único kicker que faz parte do Hall da Fama.
Em 1991, Jon Stenerud (Chiefs, Packers e Vikings) entrou no Hall. Ele é conhecido por ser o primeiro jogador a se dedicar exclusivamente ao chute, revolucionando assim a posição. Entre tantos feitos conseguidos ao longo da carreira, ser o melhor jogador do Pro Bowl 1972 (Jogo das Estrelas) é o que impressiona.
A classe dos kickers tem um representante no Hall, mas e os punters que não tem ninguém por lá para mostrar que são importantes também? Defender uma eleição de um kicker é fácil, desde que ele seja aquele que marca os três pontos da vitória. Agora, como argumentar a favor de um punter? O senso comum afirma que eles são “apenas” mais um jogador da defesa, responsável por determinar aonde o time adversário irá começar o ataque. Este descrédito faz com que uma temporada histórica passe despercebida.
Shane Lechler (foto acima), punter do Oakland Raiders, terminou a temporada 2009-10 com números recordes e históricos para um atleta da posição; ele é o mais bem pago entre os punters (USS 3 milhões por temporada). O engraçado é que ele não valoriza muito a sua função: “Você vai pro treino – antes dos outros jogadores, é claro – chuta umas bolas... e serviço feito” ironiza. Entretanto não é qualquer um que consegue chutar uma bola oval tão distante e tão alta ao mesmo tempo. Al Davis, dono dos Raiders, viu esta qualidade em Lechler e o escolheu no draft de 2000. O curioso é que anos atrás, Davis faria com um punter algo totalmente fora do comum e inédito.
Ele simplesmente escolheu, na primeira rodada do draft de 1973, um punter (isto mesmo) - o predestinado foi Ray Guy. De tantas incertezas que circundam o mundo dos punters, há algo praticamente definido: o primeiro a entrar no Hall da Fama será um Raider, porque se não for Guy, será Lechler. Guy concorre ano após ano e até alguns jornalistas votam nele, mas não tem sido suficiente. Aqueles que acompanharam a carreira de Guy dizem que ele fazia coisas impressionantes, como manter a bola no ar por 5 segundos (uma eternidade); existe jornais e reportagens da época afirmando que Guy acertou o teto do Superdome (estádio do New Orleans Saints)...
A baixa produtividade dos kickers e punters nesta temporada faz surgir outra pergunta de profunda reflexão: "Quando o time prefere tentar a quarta descida, ao invés de optar por chutar a bola, não importando a posição no campo, significa que tanto os kickers quanto os punters estão sem moral?
Significa...
Interessante é que esta temporada de pouco sucesso para os homens da bola no pé veio depois de um campeonato 2008-09 de bom aproveitamento. O que eles precisam fazer é se concentrar mais, estudar mais, treinar mais e ir a campo focado somente em chutar a bola, sem se preocupar com outras coisas.
Por isso Mason Crosby, kicker do Green Bay Packers, está no caminho certo, chutando bolas em sinos por aí.
"Football: significa bola no pé?"
Significa...
Aí entra outra questão que todo brasileiro admirador do football já fez na vida: "Então porque o futebol americano é jogado, em grande parte, com as mãos?" Bom, nem o galã da jovem guarda conseguiria ser sucinto para explicar esta pergunta, mas pode-se afirmar que os momentos do jogo que a bola está no pé de alguém são os mais decisivos, levando uma equipe ao sucesso ou ao fracasso. O mais recente kicker a sentir esta importância foi Nate Kaeding (San Diego Charges – foto acima)
Na partida semifinal da Conferência Americana, o San Diego Charges foi eliminado pelo New York Jets em casa. Diversos fatores colaboraram para a derrota do time que vinha de 11 vitórias seguidas e Kaeding foi um deles. Especialistas apontaram, antes da partida, o kicker dos Charges como peça fundamental para uma possível vitória de sua equipe. Ele estava numa sequência impressionante de 20 FG´s (field goals) consecutivos, errando apenas 3 durante 16 jogos e considerado, pelos números, o mais preciso kicker de toda a história da NFL.
Mas os Jets estavam pela frente... e o confronto era de playoffs...
Kaeding errou três FG`s na semifinal e os Charges perderam por 3 pontos (17 a 14). Qualquer um dos FG´s, caso convertidos, mudaria o curso da partida. O primeiro (36 jardas), o jogo estava 0 a 0; o segundo (57 jardas) foi no final do segundo tempo e San Diego vencia por 7 a 0; e o terceiro (40 jardas) aconteceu no último período quando os Jets venciam por 17 a 7. Estes FG´s perdidos se somam a outros seis que ele não converteu em playoffs, conseguindo marcar apenas 3 de 9 chutes tentados no total. Nate não precisa ficar tão desapontado porque ele não é o único a falhar na hora H.
Mike Vanderjagt (Colts e Cowboys) era o detentor do recorde de eficiência antes de Kaeding. Na temporada 2003-04 (defendendo o Indianapolis), ele converteu 37 de 37 FG´s e 46 de 46 pontos extras. Porém nos playoffs do campeonato 2005-06, enfrentando o Pittsburgh Steelers, ele entrou para a galeria das decepções, ao perder um FG de 46 jardas restando 18 segundos para acabar a partida – IND estava atrás no placar: 21 a 18. Depois deste jogo todos torcedores esqueceram-se das atuações eficientes de Vanderjagt e só irão se lembrar do FG perdido.
Provavelmente o mesmo acontecerá com Kaeding, que tem mais um agravante: nos playoffs 2003-04 ele perdeu um FG na prorrogação que custou a vitória para SD (20 a 17). A partida foi contra o New Yor Jets...
Baseado nessas situações e performances é possível afirmar que existe o kicker de temporada regular e o kicker dos playoffs? Sim. Como, aliás, acontece com qualquer outro jogador dentre os 53 que compõe o elenco; uns são bons em jogos que não valem nada, enquanto outros aparecem nos momentos decisivos. Se alguém perguntar para o Robert Kraft, dono do New England Patriots, qual o valor e a importância de um kicker para um time de football, ele saberá responder muito bem.
Sua franquia conquistou três títulos nos anos “00´s” e dois deles vieram com a contribuição direta de um kicker: Adam Vinatieri. No Super Bowl XXXVI (36 – foto acima), ele converteu um FG de 48 jardas que colocou os Patriots a frente do Saint Louis Rams – foi o último lance do jogo. Dois anos depois, no Super Bowl XXXVIII (38), ele marcou os três pontos faltando 4 segundos para o término da final contra o Carolina Panthers (NE venceu: 32 a 29).
Ao se transferir para os Colts, ele levou consigo sua performance de alto nível. No Super Bowl XLI (41) ele converteu 3 de 4 FG´s e o Indianapolis venceu o Chicago Bears: 29 a 17.
Nos bastidores se comenta sobre a possível ida de Vinatieri para o Hall da Fama. Mesmo que existam argumentos contrários a sua indicação para o seleto grupo, deve se levar em consideração que em três Super Bowls ele foi responsável direto pela vitória do seu time. Quem sabe este ponto de vista seja forte o suficiente para ele receber esta homenagem e se juntar ao único kicker que faz parte do Hall da Fama.
Em 1991, Jon Stenerud (Chiefs, Packers e Vikings) entrou no Hall. Ele é conhecido por ser o primeiro jogador a se dedicar exclusivamente ao chute, revolucionando assim a posição. Entre tantos feitos conseguidos ao longo da carreira, ser o melhor jogador do Pro Bowl 1972 (Jogo das Estrelas) é o que impressiona.
A classe dos kickers tem um representante no Hall, mas e os punters que não tem ninguém por lá para mostrar que são importantes também? Defender uma eleição de um kicker é fácil, desde que ele seja aquele que marca os três pontos da vitória. Agora, como argumentar a favor de um punter? O senso comum afirma que eles são “apenas” mais um jogador da defesa, responsável por determinar aonde o time adversário irá começar o ataque. Este descrédito faz com que uma temporada histórica passe despercebida.
Shane Lechler (foto acima), punter do Oakland Raiders, terminou a temporada 2009-10 com números recordes e históricos para um atleta da posição; ele é o mais bem pago entre os punters (USS 3 milhões por temporada). O engraçado é que ele não valoriza muito a sua função: “Você vai pro treino – antes dos outros jogadores, é claro – chuta umas bolas... e serviço feito” ironiza. Entretanto não é qualquer um que consegue chutar uma bola oval tão distante e tão alta ao mesmo tempo. Al Davis, dono dos Raiders, viu esta qualidade em Lechler e o escolheu no draft de 2000. O curioso é que anos atrás, Davis faria com um punter algo totalmente fora do comum e inédito.
Ele simplesmente escolheu, na primeira rodada do draft de 1973, um punter (isto mesmo) - o predestinado foi Ray Guy. De tantas incertezas que circundam o mundo dos punters, há algo praticamente definido: o primeiro a entrar no Hall da Fama será um Raider, porque se não for Guy, será Lechler. Guy concorre ano após ano e até alguns jornalistas votam nele, mas não tem sido suficiente. Aqueles que acompanharam a carreira de Guy dizem que ele fazia coisas impressionantes, como manter a bola no ar por 5 segundos (uma eternidade); existe jornais e reportagens da época afirmando que Guy acertou o teto do Superdome (estádio do New Orleans Saints)...
A baixa produtividade dos kickers e punters nesta temporada faz surgir outra pergunta de profunda reflexão: "Quando o time prefere tentar a quarta descida, ao invés de optar por chutar a bola, não importando a posição no campo, significa que tanto os kickers quanto os punters estão sem moral?
Significa...
Interessante é que esta temporada de pouco sucesso para os homens da bola no pé veio depois de um campeonato 2008-09 de bom aproveitamento. O que eles precisam fazer é se concentrar mais, estudar mais, treinar mais e ir a campo focado somente em chutar a bola, sem se preocupar com outras coisas.
Por isso Mason Crosby, kicker do Green Bay Packers, está no caminho certo, chutando bolas em sinos por aí.
(GL)
© 1 Lenny Ignlzi / AP
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