A mídia e Tim Tebow


O quarterback do Denver Broncos, a cada semana que passa, toma conta do noticiário sobre a NFL. A cada semana que passa, porém, ele ganha destaque na mídia não esportiva dos EUA, algo que alcançou outro nível de cobertura.

Desde sua carreira na Universidade Florida, Tebow foi manchete em diversos veículos de comunicação. A maior ênfase foi dada quando os Gators foram campeões nacionais do BCS e quando o QB ganhou o Trófeu Heisman de Melhor Jogador de football da NCAA. Foi para a NFL em 2010 e a imprensa esportiva começou a destacá-lo mais e mais. Chegou perto de uma overdose.

Em 2011 ultrapassou o limite graças as vitórias espetaculares que os Broncos conseguiram, numa sequência atual de 6 vitórias consecutivas e a liderança na Divisão Oeste da Conferência Americana. Feito alcançado pelo time como um todo, mas liderado por um QB muito criticado por não ter um bom arremesso (fato) que evidentemente é fundamental para um jogador da posição ter sucesso na NFL como titular.

Mas, e por que tantas vitórias?

Eis a questão...

Quem não gosta de Tebow jamais vai creditar a ele estes resultados positivos – ou dirá que o treinador John Fox é o responsável ou que a defesa é a principal virtude do time. Pode ser até as duas últimas coisas juntas, mas Tebow não participa dos méritos por este ponto de vista.

Agora, por que não juntar os três aspectos e dizer que são esses os fatores que estão levando os Broncos a vitórias?

Aí entra outra problemática. Quem não gosta de Tebow quer assistir a queda. Querem que esta “máscara” cristã caia e que ele seja um fracasso, tanto dentro quanto fora de campo. Mesmo assim, com toda pressão, Tebow vence no gridiron e continua dando exemplo de fé sem o uniforme de jogo.

Por ser cristão, Tebow tem a plena ciência de que sua caminhada deve corresponder o que fala. Este tema foi ressaltado aqui no Grandes Ligas em “Fé sem obras é morta e Tim Tebow sabe disto” do dia 11 de Agosto deste ano. Seu êxito com a bola em mãos fortalece o seu discurso e o destrato dos críticos seria maior caso não vencesse.

Então, a mídia não esportiva não irá abordar características técnicas ou táticas do seu jogo, mas justamente o lado crente de Tebow, se isto afeta suas atuações diretamente, por exemplo.

A conceituada revista semanal Time (grupo Time Warner / CNN) traz na edição desta semana, a mais importante de 2011, que homenageia a “Personalidade do Ano” – no caso O Manifestante, lembrando os protestos no mundo árabe, Europa e EUA –, um perfil sobre Tebow. Nele a hipótese levantada é como o jogador lida com toda esta história de religião e football, numa entrevista exclusiva com ele.


Outra revista semanal americana, a The Week, trouxe na sua atual edição um especial dizendo “4 maneiras de olhar Tim Tebow”. Os tópicos em questão foram: o devoto otimista; o atleta diferente de outros atletas; o modelo humanitário; e o separatista.

Nesta linha de listas, a revista People (sobre celebridades), trouxe “5 coisas que você precisa saber sobre Tim Tebow”. Por ser uma revista de fofoca, os temas abordados foram sua vida sexual, sua vida como cristão e etc.

As quatro grandes emissoras televisas dos EUA também entraram na onda. Na segunda dia 12, após mais um “milagre” de Tebow contra os Bears no dia anterior, a rede ABC (do grupo Disney, mesmo administrador da ESPN), transmitiu uma matéria no principal jornal da grade de programação, o ABC News – apresentado por Diane Swayer. O nome da reportagem? O homem miraculoso. Mostrou algo interessante: as vitórias de Tebow, já que ele é tão ruim quanto dizem, fazem até os descrentes afirmarem que só pode ser uma intervenção divina este sucesso do camisa 15...

A CBS, que lutou e não perdeu o duelo Patriots x Broncos do próximo domingo para a NBC – devido a flexibilidade de horários que a NFL permite –, debateu a fé de Tebow no programa matinal The Early Show da sexta dia 09. Discutiu que Tebow não é o único atleta que professa sua crença religiosa, mas por que chama tanto a atenção? Os participantes concluíram que talvez seja porque ele age conforme o que diz, as ações encontram as palavras.

Esta mesma ideia foi a fonte do programa matinal da NBC, o Today Show, por dois dias seguidos: segunda 12 e terça 13. Na terça foram convidados profissionais, como psicólogos e sociólogos, para tentar dissertar sobre o tema colocado no ar: “Será que a fé de Tebow tem lugar dentro de campo?”. Foi uma conversa interessante, pois abordaram a questão do movimento que ele faz e ficou característico, se ajoelhar e orar, considerado desconfortável por muita gente. Mas e as danças estúpidas que os jogadores fazem na endzone após marcarem um touchdown? Um dos participantes disse o seguinte: “Por que sentir desconforto quando alguém agradece a Jesus Cristo pela vitória?


Já a FOX abordou o tema no seu canal de notícias FOX News. Quem mais enfatizou o tema foi Sean Hannity, jornalista ultraconservador e que tem um programa diário com uma das maiores audiências da emissora. Na segunda (12) ele defendeu Tebow e suas atitudes, que contradizem o que se vê com frequência no mundo dos esportes: atletas presos, usando drogas, bebendo, se comportando mal, infidelidade no casamento... Ele argumentou se, querendo ou não, os atletas são modelos para as crianças, qual você quer para seu filho: alguém que fala de Deus e procura ser um bom exemplo ou aquele que não tem respeito por quem quer que seja?

A sinceridade e honestidade de Tebow machucam. Serão elas as qualidades usadas para acabar com o jogador caso ele se comporte como um ser humano, igual a nós, e cometer uma falha qualquer. Foi o que aconteceu com Josh Hamilton, jogador do Texas Rangers (MLB) – saiba a história dele no texto 1 de 101%.

Hoje a mídia exalta esta fé de Tebow que é pessoal, mas por ser uma figura pública ela passa a ser conhecida visto que ele não usa uma dupla personalidade. A Tebowmania terá um fim, assim como toda mania teve e terá. Mas fica a lição de como o público e a mídia cobre este fenômeno, algo sem precedente na história da NFL.

Os Estados Unidos é um país cristão, contudo tem uma diversidade religiosa forte, principalmente o judaísmo e o islamismo. Estes últimos são considerados minoria. Por isso, o tratamento com eles é cauteloso. Esta questão foi discutida em boa parte das mídias citadas anteriormente: e se Tim Tebow fosse judeu ou muçulmano, as pessoas ridicularizariam sua fé? Os jogadores adversários imitariam seu gesto de ajoelhar como forma de provocação?

Assim encerrei o artigo Sentidos e Direções (18 de Agosto de 2010) no qual falei sobre esporte e religião:

Este é um dos preços que pagam aqueles que não escondem sua religião: ser alvo preferido dos maldizentes. Chegar a público e dizer “Eu sou Cristão” ou “Eu sou Muçulmano” ou “Eu sou Judeu” é se colocar numa delicada posição perante os hipócritas, que se armam prontos para arremessar objetos no teto de vidro dos outros sem se preocupar com seus próprios telhados.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Justin Edmonds / Getty Images
© 2 Lisa W. Buser / USA Today
© 3 Rick Wilking / Reuters

Um comentário:

Manu Corinthianu disse...

Cara, eu gosto dos seus textos, não por concordar com as suas opiniões, pois discordo de boa parte delas, mas exatamente por elas sempre estarem expostas no que vc escreve. Discutir com quem fica em cima do muro ou não tem posicionamentos claros é algo inútil.
Eu sou torcedor dos Raiders há quase 20 anos, então as razões pelas quais eu torço contra o Tebow são óbvias. Agora, com esse negócio todo de religião envolvido nessa história, a coisa ganha um tempero a mais para mim.
Não acredito em Deus ou em religiões, mas me esforço bastante para pelo menos tentar respeitar quem acredita. O problema é que nós estamos num mundo que vive de contradições, e as pessoas tentam estabelecer regras sempre a partir do que convem a elas. Desde os tempos de colégio, o que eu mais via era gente falando que era preciso "respeitar a crença dos outros", mas nunca a "descrença". Por várias vezes eu me sentia desrespeitado, e me sinto até hoje, por individuos que se sentem superiores simplesmente por acharem que Deus existe, a ponto de se acharem no direito de apontar o dedo para vc e dizer que "um dia você vai aprender".
Dito isso e voltando à questão do esporte, o que eu acho é que o comportamento do Tebow retrata bem o que é a relação paradoxal das pessoas com a sua própria fé. O cara que faz questão de expor, dentro e fora de campo, toda a devoção ao seu Deus e demonstra a tal coerência entre o discurso e a atitude, é o mesmo que fica de joelhos na lateral do campo e reza para o kicker dos Chargers errar um field goal. Na minha cabeçinha atéia, fica dificil não enxergar isso como um desrespeito, uma maneira fútil e mesquinha de usar a sua crença. Isso sem contar com a lógica que fica implícita, de acordo com a qual Deus gosta mais do Tebow e dos Broncos do que dos seus adversários.
Que um cara como ele representa um exemplo bem melhor para jovens do que o estereótipo do atleta "bad boy", não há dúvida. Mas acho que se as pessoas soubessem raciocinar um pouco mais sem se influenciar pela fé, veriam o risco que correm de cair na mesma hipocrisia que elas enxergam nos outros, assim como o de cair no erro de apenas trocar o "ruim" pelo "menos pior".

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