Fascinante


Um evento capaz de reunir o mundo todo em apenas um país, a Copa do Mundo mostra o poder que há na união dos povos gerada por um simples objeto: a bola. Ela que é o fundamento primário de um simples esporte: futebol. Este que é o responsável por fazer que pessoas com trajetórias de vidas tão diferentes, de locais tão distintos se duelem numa disputa que tem como objetivo levar um troféu para a casa dado ao time vencedor, mas que agrega um valor imensurável do ponto de vista social... um fascínio que aproxima.

Em 1998, na França, dois países politicamente e culturalmente rivais se enfrentaram em campo. Antes de a partida começar, válida pelo grupo F da competição, jogadores das seleções dos EUA e do Irã trocaram flores entre si, posaram para fotos juntos e deixaram registrado um momento único. Na bola o Irã venceu (2 a 1) e este resultado pode ser mais significativo aos iranianos que os três pontos computados na tabela, porém nada mais foi do que um simples jogo... um fascínio irrelevante.

A tese de que no campo estão vinte e dois homens correndo atrás de uma bola é proferida pelos “não-admiradores” do futebol. Mesmo esta pessoa que não assiste e nem acompanha o esporte vai dar uma olhada. Nem que seja somente no jogo do Brasil, mas ela não irá resistir e dará uma espiada na tevê para ver quem está ganhando e se a Seleção está jogando bem. Não vai ter muitas alternativas, pois o seu chefe o dispensou do serviço para assistir a partida (ou um aparelho de televisão de 42 polegadas estará ligado no local de trabalho). Se for para a casa, encontrará parentes que não via a muito tempo e uma partida se torna motivo para reunião familiar... um fascínio que contagia.

Ao terminar o primeiro tempo, todos vão para a cozinha atrás de um lanchinho. Outros vão para janelas ou varandas e observam o movimento das ruas. Logo percebem que muitas delas estão enfeitadas de verde e amarelo, com o asfalto pintado com a bandeira do Brasil e desenhos da Copa. É um movimento involuntário, sem vínculo algum com nada a não ser com o orgulho de expressar o amor pela pátria. Tudo bem que isto só acontece de quatro em quatro anos, mas pelo menos o brasileiro acha um motivo para extravasar seu amor pelo país, amor este que fica enrustido e quando é liberto explode de emoção, vibração e entusiasmo... um fascínio empolgante.

Na volta para a etapa final, todos sentam em frente da mais moderna TV disponível no mercado que foi adquirida numa mega loja de eletrodoméstico como parte de uma promoção especial. Várias casas renovam o retângulo mágico em época de Copa, atraídos pelas ofertas tentadoras que lojas do ramo oferecem. E não são só elas que utilizam a Copa como ferramenta para aumentar o fluxo de caixa. Diversas empresas dos mais diferentes nichos usam e abusam do futebol e da marca “Brasil” para movimentar a economia. Como possuem muita sabedoria, os empresários põem em seus produtos detalhes em verde e amarelo e logo assim, num passe de mágica, tem seus produtos ligados à Copa... um fascínio que vende.

O jogo rola e se percebe um barulho forte: o som das vuvuzelas. No estádio dá para perceber que o torcedor sopra com vontade a poderosa corneta, capaz de criar uma sinfonia personalizada nunca antes ouvida – e será a marca desta Copa na África do Sul. Todos no estádio estarão com uma vuvuzela , até aquele garoto africano com a camisa canário do Ronaldinho, que pode nem torcer para o Brasil em detrimento do seu país de origem, mas deixa claro que o menino gosta é do futebol arte. O camisa 10 do álbum de figurinhas não estará defendendo as cores da Seleção e o garoto corneta do seu jeito: soprando a vuvuzela. O único momento que elas param de soar é na hora do hino nacional de cada nação... um fascínio que silencia.

Duas horas se passaram e a partida termina. Um time saiu vencedor, o outro perdeu ou aconteceu o ingrato empate. Não importa, foram minutos envolventes com toda a magia da Copa e quem sofreu neste percurso foi a camisa do Brasil de R$ 20 (ou a de R$ 180), surrada, mordida, esticada de todas as formas como se fosse um objeto feito para aliviar o estresse e o nervosismo. A qualidade do produto tem que ser boa, porque a expectativa é que dure por 7 jogos, suficientes para chegar à grande decisão no dia 11 de Julho. Pode ser conquistada mais uma estrela a ser colocada em cima do símbolo da Confederação Brasileira de Futebol, ou um vice amargo que causará tristeza e decepção. Enfim, o importante é que grandes lições podem ser aprendidas ao acompanhar um “mero” evento esportivo que possibilita o encontro de um país que ama o futebol (Brasil) contra um país que vive um austero regime político (Coréia do Norte), contra um país que traz em seu nome a principal riqueza de outrora (Costa do Marfim) e contra aquele que é o grande descobridor (Portugal)... um fascínio que ensina.


(GL)



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