Ponto Verde na Floresta de Concreto

Um garoto californiano, acostumado com um clima maravilhoso e com uma praia sempre a disposição, cruzou os EUA e aterrissou em New York, cidade cosmopolita, megalópole e assustadora. Ser jogador de um dos times locais não é tarefa fácil; ser quarterback de um dos dois times locais que disputam a NFL, menos ainda. Para Mark Sanchez, QB do New York Jets, a dificuldade foi ainda maior, pois em seu primeiro ano na liga ele estava armando as jogadas de ataque do alviverde.

Em 2009 os Jets chegaram longe, não desperdiçaram chances e foram à decisão da Conferência Americana – vitória do Indianapolis Colts. Sanchez já estava com uma imagem consolidada e experiente no relacionamento com a mídia nova-iorquina. Em alguns instantes ele demonstrava insegurança, típico de um atleta novato. Junto no pacote, porém, sobrevinham traços de maturidade e ações responsáveis.

Jogo após jogo o QB foi adquirindo mais conhecimento e extirpou o mau para manter o agradável. Quando mais a temporada se aproximava do final, mais Sanchez desempenhava seu papel com desenvoltura. Muitos acham exagero todo esse alvoroço em cima do QB e, por mais que eu não concorde, alguns acham ele supervalorizado.

Numa recente pesquisa feita pela revista Sports Illustraded, com 299 jogadores em atividade na NFL, 5% deles votaram em Sanchez como o jogador da liga mais supervalorizado (aquele que é avaliado acima do que realmente é capaz) – na frente dele ficou o QB do Dallas Cowboys, Tony Romo, com 7% dos votos e Terrell Owens, WR do Cincinnati Bengals, com 14% dos votos.

O desdém vem com uma ponta de inveja. O descendente de mexicano tem apenas 24 anos de idade e comanda uma tradicional franquia que está ávida por um título – o último veio em 1968-69 no Super Bowl III. Fora os atributos dentro de campo com os pads no corpo, ele construiu uma imagem alternativa que começou numa atitude arriscada, entretanto a proposta era irrecusável.

Sempre quando comenta sobre o ensaio fotográfico para a revista GQ, Sanchez não menciona os honorários, mas sim a chance de ser fotografado ao lado da modelo Hilary Rhoda. Ele não se preocupou com as roupas que iria usar, só queria fazer o trabalho proposto e pronto!


As fotos trouxeram, naturalmente, dois resultados: o positivo e o negativo. Ruim para o QB foi chegar no vestiário e ouvir seus companheiros de time começarem a contar piada pelas poses, caras e feições que Sanchez fez para tirar as fotos – a zuação foi grande. Bom para o QB foi a aceitação do público e a atenção adquirida por empresas publicitárias, interessadas no perfil jovem, carismático e atraente do jogador.

Logo apareceram muitas ofertas. Algumas foram recusadas porque os trabalhos paralelos iriam afetar seu objetivo principal: jogar football. Os que permitiam uma harmonização saudável foram aceitos. Hoje Sanchez é garoto propaganda de grandes marcas como Verizon (telecomunicações), Toyota, Nike e Pepsi – sua projeção de ganho em 2010 somente com comerciais gira em torno dos 600 mil dólares; Peyton Manning, QB dos Colts, por exemplo, deve arrecadar cerca de 15 milhões de dólares neste ano só com marketing.

A imagem do camisa 6 dos Jets está cada vez mais bem quista. Suas aparições na TV não se resumem a comerciais. Nos programas esportivos ele é destaque, sendo entrevistado e pauta principal de reportagens especiais. Além disso, ele fez no mês de abril deste ano uma pequena aparição ao lado da atriz Tina Fey ("30 Rock") no Saturday Night Live. Sempre é convidado para participar de outros programas que não sejam sobre football e há três semanas atrás foi convidado do tradicional show matinal da TV ABC “Live! With Regis and Kelly”

Sem contar que na pré-temporada os Jets foram os protagonistas da série “Hard Knocks” do canal HBO, que filma os bastidores de equipes da NFL. Após a primeira rodada de 2010, o título do seriado “atacou” o time. Os Jets perderam em casa para o Baltimore Ravens (10 a 9) e Sanchez passou apenas para 74 jardas.

Uma enxurrada de críticas se direcionou ao elenco, porém focadas em Sanchez. No jogo da semana 2, contra o New England Patriots, a resposta veio: 21 passes completos de 30 (70%) para 220 jardas e 3 touchdowns. Aqui Sanchez mostra um poder de recuperação excelente que o ajudaria mais pra frente.


Após uma vexatória derrota em casa (9 a 0) para o Green Bay Packers na semana 8, NYJ viajou para Detroit e os Lions complicaram bastante o jogo. 3 minutos restavam para o fim e os Lions venciam por 20 a 10. Então Sanchez marca um TD num sneak e lidera o time num drive de 9 jogadas para um FG de 36 jardas de Nick Folk. O jogo vai para a prorrogação e nela os Jets começam no ataque em sua própria jarda 32. Mark avança sua equipe até a jarda 12 de Detroit e Nick Folk converte o FG da vitória de 30 jardas. Essa foi a partida na qual Sanchez conseguiu o maior número de jardas pelo passe em sua careira: 336.

No jogo da semana seguinte o adversário era o Cleveland Browns, também fora de casa. Os Browns estavam motivados por vitórias seguidas em cima do New Orleans Saints e dos Patriots. Esse foi mais um jogo que foi para a prorrogação e resultou em mais uma vitória dos Jets. Sanchez terminou o jogo com 299 jardas e 2 TD´s. Se a defesa dos Browns conseguiu frear Drew Brees (Saints) e Tom Brady (Patriots), não teve o mesmo sucesso contra Sanchez.

De desafio em desafio os Jets caminham rumo ao Super Bowl. O próximo é novamente os Patriots e o jogo é em New England na próxima segunda (6). Depois a tabela aponta para outros dois jogos fora de casa: contra Pittsburgh e contra Chicago. Tudo serve como um teste de amadurecimento. Vencer de virada times em seus domínios merece elogios e elevam a moral do elenco. Agora a tarefa é superar o arqui-rival, empatado com NY na primeira colocação da Divisão Leste da Conferência Americana (9v-2d). Em três duelos contra Brady, Sanchez venceu 2.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Carter Smith / GQ
© 2 Andrew Burton / Getty Images

Um comentário:

Paulo Pereira disse...

João,

Como sempre, um óptimo artigo. Excelente o trabalho de análise sobre a trajectória de Mark Sanchez.

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