Sobre graduação e futebol americano

Rice, Vanderbilt, Stanford e Northwestern. Universidades americanas reconhecidas pela excelência acadêmica e que venceram bowls de futebol americano na atual temporada - reforçando que Notre Dame está na grande final do BCS (Bowl Championship Series). Todas as instituições relacionadas estão entre as 20 melhores dos Estados Unidos segundo o Ranking Nacional de Universidades da agência US News:

1- Harvard (Cambridge, Massachusetts)
2- Princeton (Princeton, New Jersey)
3- Yale (New Haven, Connecticut)
7- Stanford (Stanford, California)
11- Northwestern (Evanston, Illinois)
17- Rice (Houston, Texas)
18- Notre Dame (Notre Dame, Indiana)
19- Vanderbilt (Nashville, Tennessee)

É um bom sinal pra NCAA ter essa conexão entre times de futebol americano vencedores e bem sucedidos em campo com a alta qualidade nos estudos. Mas há espaço para uma pergunta fundamental: os atletas estudantes conseguem ingressar no profissional (NFL) com um diploma na mão?

Eis o grande desafio da NCAA.

O presidente da sigla amadora, Mark Emmert, tem como um dos principais objetivos, desde que assumiu o cargo em 1º de Novembro de 2010, melhorar a taxa de atletas formados, com ênfase nos esportes de alto rendimento, especificamente no futebol americano e basquete. Para o futebol americano a tarefa é menos árdua já que o jogador para entrar na NFL precisa ter, no mínimo, três anos de NCAA. Entretanto tem os que não terminam a graduação ou adiam a conclusão do curso.

Em Outubro do ano passado Emmert divulgou dados que mostraram crescimento no número de atletas graduados oriundos das universidades que integram a elite do futebol americano da NCAA (equipes da FBS-Football Bowl Subdivison). Os números abrangem um período de seis anos, entre 2005 e 2010, entendendo ser esse o tempo ideal para o atleta conseguir um diploma, seja nos quatro anos tradicionais ou em semestres posteriores. A estatística de maior destaque usada por Emmert é a de que dos atletas da FBS que entraram em 2005, 70% se formaram até 2010. Embora a porcentagem seja satisfatória, está longe do ideal, pois o futebol americano figura entre os que menos conseguem formar seus atletas entre os esportes da primeira divisão da NCAA.

Detalhe é que há uma camuflagem nos números divulgados, visto que não são oficiais, conforme os catalogados pelo Departamento Americano de Educação. A NCAA, diferente do órgão federal, não pune as universidades que recebem atletas de outras instituições; basta mostrar bom desempenho escolar que não é excluído do cálculo.

Usando o método da NCAA, chamado de GSR (Graduation Sucess Rate), é possível observar que as universidades mencionadas no começo do texto apresentam alto índice de graduação - agora analisando o período entre 2006 e 2011.

Stanford foi a universidade da Conferência Pac-12 que mais entregou alunos formados: 87%. Northwestern foi a primeira na Conferência Big Ten com 94%. Vanderbilt, que divide atenção com as super potências da Conferência SEC (LSU, Alabama, Florida, Geogia...) ficou no topo com 86%.

Juntando todas as conferências da FBS, assim fica o ranking:

1-Notre Dame – 97% (disputa a decisão do BCS na segunda, 7/01)
2-Northwestern – 94% (venceu o Gator Bowl)
3-Rice – 93% (venceu o Armed Forces Bowl)
(...)
9-Stanford – 87% (venceu o Rose Bowl)

Como são números que favorecem a NCAA para propagar que há preocupação com o atleta estudante, usá-los para benefício próprio é salutar, estabelecendo no pilar “é-possível-ganhar-partidas-de-futebol-americano-e-cuidar-dos-estudos-ao-mesmo-tempo”. Entretanto a mesma fonte de dados revela um problema antigo que caminha lentamente para uma solução: a diferença de atletas graduados entre brancos e afro-americanos.

A discrepância é grande nas universidades conhecidas por investir pesado/muito no recrutamento de garotos no ensino médio oferecendo bolsas de estudos para jogar futebol americano. Em Florida State, 44% dos jogadores de futebol americano conseguem a graduação, enquanto 93% dos brancos recebem o diploma (diferença de 49%); em Auburn a diferença é 43% (52% de afro-americanos contra 95% dos brancos).

Outra comparação que preocupa é a taxa de graduação entre os jogadores de futebol americano contra o estudante comum. As 15 maiores diferenças acontecem em universidades que tem um programa de futebol americano popular – entre essas estão Oklahoma, Michigan, e Wisconsin. Abaixo as 5 com a maior variação:

1- Cal (54% de jogadores de futebol americano – 90% dos estudantes comum = -36%)
2- UCLA (59% - 90% = -31%)
3- USC (61% - 87% = -26%)
4- Virginia (68% - 93% = -25%)
5- Georgia Tech (55% - 79% = -24%)

Ter universidades com atletas “mais inteligentes” vencendo bowls é positivo, o que deixa o pessoal da NFL contente. As franquias mais inteligentes buscam jogadores com igual característica. New England Patriots e Indianapolis Colts, rotuladas como clubes bem administrados, que escolhem bem no draft e que permanecem competitivos, são as equipes da liga com mais jogadores graduados no elenco.

E a briga para saber quem é o novato do ano na NFL envolve atletas com diploma em mãos: um arquiteto por Stanford (Andrew Luck, QB do Indianapolis Colts) e um cientista político por Baylor (Robert Griffin III, QB do Washington Redskins).


(GL)
Escrito por João da Paz

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