Russell Wilson e os rótulos destroçados


Cada pessoa tem o melhor jeito para se motivar e Russell Wilson, quarterback do Seattle Seahawks, usava na época de escola (high school) um método convencional: escrevia num papel o que as pessoas diziam que ele não podia fazer e o colava na parede do seu quarto. O dia despertava e lá estavam várias anotações, lhe dando incentivo para superar as dúvidas que tinham dele. Ao dormir Wilson fazia um resumo do que conseguiu superar e jogava no chão os lembretes que, agora, faziam parte do passado.

Essa prática foi mantida, mesmo longe do lar onde passou toda a vida antes de ingressar na faculdade, na cidade de Richmond, Virginia. Quando buscou um lugar para jogar football e beisebol, pensou primeiro na universidade do estado, Vírginia, mesmo campus que seu pai cursou e também jogou em dois esportes – no football era wide receiver. Mas os olheiros dos Cavaliers optaram por um quarterback mais alto que Wilson. E mais uma anotação, essa mental, era produzida.

Durante toda carreira universitária a questão altura tornava-se tema recorrente quando o jogo do QB era analisado. Atuando pela North Carolina State, Wilson conseguiu graduação em Comunicações, ser QB do time de football, jogar beisebol primorosamente até ser draftado pelo Colorado Rockies... Conquistas que não sobrepunha o tamanho dele, muito aquém do que consideram ideal para jogar na liga que ele queria disputar.

Um metro e oitenta centímetros: a medição da discórdia. Até tentava dizer para os olheiros da NFL que era mais alto do que diziam, mas não dava para forjar o que era visto claramente. Baixinho assim, QB profissional não dá.

A oportunidade de jogar beisebol tinha potencial de ser um bom caminho, porém não era isso que ele queria, mesmo sendo o desejo do pai. Harrison Wilson III tentou a sorte na NFL, cortado do San Diego Charges na última hora da temporada de 1980. O paizão tinha o desejo de ver o filho na MLB. Assistiu Wilson ser selecionado pelos Rockies em 2010, mas no dia seguinte faleceu.

Wilson optou por permanecer na luta que enfrentava desde 2007, quando entrou na NC State. Tudo que ele obteve contou com esforço, dedicação e inteligência. Ficou fora dos esportes no ano de calouro. Em 2008 acordava as 4:30, treinava football, depois participava das aulas e seguia para os treinos de beisebol. Na sua primeira temporada na NCAA foi listado como o quarterback número 5 no elenco; na semana 1 do campeonato era o titular.

Muitas vitórias na Carolina do Norte, muitas dúvidas permaneciam. Além da sua altura, surgiu essa batalha de lidar com a ausência do pai, figura que o acompanhou passo a passo no seu processo esportivo.

Mais uma anotação mental.

Decidido em manter as duas carreiras intactas, em 2010 Wilson participou das ligas de base amadoras (minor leagues) representando os Rockies num time chamado Tri-City Dust Devils. O treinador de NC State, Tom O’Brien, não gostou da ideia e determinou que Wilson escolhesse o beisebol ou football. As duas alternativas foram abraçadas e, assim, Wilson saiu da NC State com o diploma na mão, com uma carreira pela frente no beisebol e com a chance de jogar mais uma temporada pela NCAA na universidade que quisesse!

Wisconsin e Auburn se dispuseram para ficar com o talentoso QB. Wiconsin apresentou a melhor oportunidade e pra lá Wilson partiu. Na única temporada com os Badgers o QB levou o time ao lendário Rose Bowl.


E com um detalhe: juntando todas as equipes da NFL e NCAA de 2011, a linha ofensiva de Wisconsin (foto acima) era a terceira mais alta dos Estados Unidos. Bom teste para mostrar que um QB baixinho pode ser um QB profissional – que pode lançar bolas sendo protegido por cinco gigantes.

Bem, na verdade nem foi tanta garantia assim...

Numa classe dominada por dois QBs rotulados como “o futuro da NFL” (Andrew Luck e Robert Griffin), Wilson nem no debate principal do draft estava. Os jogadores citados foram respectivamente a primeira (Indianapolis Colts) e segunda (Washington Redeskins) escolha do draft de 2012. Três outros QBs foram pegos antes de Wilson: Ryan Tannehill na 8ª escolha do Miami Dolphins; Brandon Weeden na 22ª escolha do Cleveland Browns; Brock Osweiler na 57ª escolha do Denver Broncos. Então, na 75ª escolha, Wilson encontra os Seahawks.

Seattle que não apostou no Wilson em posições anteriores, ficando com Bruce Irvin (defensive end) na 15ª escolha e Bobby Wagner (linebacker) na 47ª escolha.

Melhor que o anunciado. Pete Carroll, treinador dos Seahawks, conseguiu reforçar seu sistema defensivo (melhor da NFL na atual temporada) com dois atletas jovens e, no kit, veio o QB que permanece mais uma rodada nos playoffs 2012-13, que teve as derrotas de Luck e RG III nas partidas wild card.

Wilson liderou seu time numa estupenda vitória fora de casa, situação que o time, geralmente, não se dá bem. Para dificultar, precisou atravessar o país para chegar na fria Landover, Maryland, e enfrentar os Redskins do RG III. Saiu como vitorioso. Antes do duelo, até mesmo durante, muitos fãs duvidavam de Wilson, se seria capaz de reverter um placar extremamente desfavorável – os Seahawks chegaram a ter a desvantagem de 14 a 0 (venceu por 24 a 14).

O desafio a seguir é contra o melhor time (no retrospecto vitórias-derrotas) da Conferência Nacional: Atlanta Falcons. Partida em Atlanta, mais uma longa viagem. Não enfrentará o frio do nordeste americano, encontrará um estádio coberto, que contribui para suas características técnicas. Em contrapartida vai ter de encarar a enorme pressão exercida pela torcida local.

Duvida que Wilson pode liderar os Seahawks à vitória contra os Falcons?

Eu não.


(GL)
Escrito por João da Paz

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