A bola está em jogo e os donos controlam a partida.
Entre os players, a NBA tem no seu time homens de alta qualidade: Adam Silver, Chefe Operacional da associação e Michael Jordan, dono do Charlotte Bobcats. Comandado por David Stern, comissário, arquitetaram uma grande vitória para as franquias e para a NBA, pondo fim a 149 dias de paralisação da melhor liga de basquete do mundo.
Os jogadores, mimados, queriam manter o mesmo acordo outrora em vigor, ficando com 57% dos lucros relacionados ao basquete produzidos pela associação; e para os donos os 43% restantes. Nada disto. Estes últimos firmaram forte nas negociações, se impuseram como lideres e os jogadores não sabiam o que fazer. Mais perdidos ainda por serem liderados pelo advogado David Boies, que no lockout da NFL defendeu os donos e agora estar do outro lado.
Boies aconselhou erroneamente a dissolução do sindicato, com os membros entrando em grupos na justiça contra a NBA reclamando por negociações injustas. Ele, do lado da NFL, não viu o que acontecera? Neste caso, os jogadores também processaram a liga, num tribunal no estado de Minnesota, e ganharam. Mas na seguinte instância, e em outros tribunais, os juízes favoreceram a NFL. Assim o publico se posicionou contra os jogadores, forçados a ceder e entrar num acordo com o comissário Roger Goodell e os donos dos clubes.
O mesmo ocorreria com a NBA: os jogadores poderiam até ganhar uma instância, porém no final das contas a razão estaria com os donos. Melhor então acertar o impasse antes de isto acontecer.
O que colaborou para o enfraquecimento dos jogadores a ter pouco poder nas discussões do novo acordo trabalhista foi a tímida participação dos membros. Alguns estiveram presentes todos os dias? Sim. Havia jogadores que sabiam de tudo que se passava? Sim. Grandes nomes da liga sentaram-se na mesa de negociações (LeBron James, Dwyane Wade e Carmelo Anthony)? Sim. Contudo muitos não estavam nem aí e outros tantos estavam se preocupando em acertar contratos com times europeus; inclusive Kobe Bryant, que só entrou no debate nos últimos instantes.
Eles, os jogadores, tentaram colocar na mídia que os donos estavam sendo gananciosos por quererem ganhar mais, ter maior parte nos lucros. Mas quem começou a negociação querendo 57% da fatia foram os jogadores... A estratégia não deu certo. A conclusão distribui os lucros de forma igual, 50-50, porém a favor dos donos. É, mesmo que os jogadores possam, hipoteticamente, ficar uma temporada com 1% a mais, o que só vai acontecer se o crescimento anual da liga exceder a meta, ou seja, se os donos conseguirem arrecadar o que pretendem - caso não, os donos ficam com 1% a mais.
Neste novo acordo os donos vão economizar anualmente US$ 300 milhões ao reduzir os salários dos jogadores. As franquias que mais fazem dinheiro terão que dividir uma parcela maior dos lucros com as franquias de médio/pequeno porte. Uma forma de tentar igualar a competição, o que não vai funcionar.
A NBA quer valorizar os times médios/pequenos, dá força a eles. De certa forma isto foi conseguido com esta divisão de lucros, mas a atenção ainda ficará com as franquias mais potentes e tradicionais. Este novo acordo de 10 anos, com os donos ou jogadores podendo rescindir após 6, cria uma tranquilidade nas redes de TV e patrocinadores ao saber que podem fazer um longo contrato por este determinado tempo. Não querem, entretanto, times de médio/pequeno porte nas finais, pois não atrai público, não atrai audiência.
Para a NBA a temporada passada foi um esplendor, com o trio de super amigos do Miami Heat (LeBron, Wade e Chris Bosh) chegando até à decisão. Isto trouxe para os ginásios e para os televisores torcedores que apoiavam as estrelas (muitos), assim como os que queriam que eles fracassassem (muitos também). Gerou na mídia uma grande cobertura que excedeu o âmbito esportivo – que para os patrocinadores significa mais exposição, mais grana.
Quem gosta de basquete admira o estilo de jogo do San Antonio Spurs e curtiu a dinastia texana na década passada – e os títulos em anos ímpares. Basquete bem jogado, tática perfeita... Porém sem atrativo algum ao grande público, com duas finais com a participação dos Spurs tendo as piores médias de audiência das finais na história da NBA: 2007 contra o Cleveland Cavaliers (6.2) e 2003 contra o New Jersey Nets (6.5) – como efeito comparativo, a média de audiência da decisão da temporada passada entre Dallas Mavericks versus Heat foi de 10.2.
O sucesso da NBA está atrelado ao bom desempenho das estrelas e das grandes equipes. Toda brincadeira tem um fundo de verdade, notório, e David Stern disse certa vez que a final ideal da NBA é o Los Angeles Lakers contra qualquer outro time... O que é verdade, apesar de que os Lakers podem ser substituídos por um clube grande e de tradição. Uma das alegrias do comissário é ver os Knicks com Amare Stoudemire, Carmelo Anthony e com o desejo de trazer Chris Paul. É imprescindível que o time de New York esteja bem para a NBA também estar bem. Isto vale para o pulo que os Bulls deram com o talento e fama de Derrick Rose; a NBA também precisa de um time competitivo em Chicago.
As franquias estão com uma meta: gerar lucro. Esta pressão vem com a assinatura deste novo acordo. Tudo foi moldado para isto ocorrer. Se for diferente, o plano B pode ser acionado.
As grandes franquias não vão ficar simplesmente "doando dinheiro" para os médios/pequenos e estes não fazerem nada, não colocarem em quadra um time forte e não conseguirem levar público ao ginásio para consumir produtos. O temido assunto da contração, que vem a ser a eliminação de franquias da NBA, surgirá com força. Por isso a responsabilidade dos times menores é considerável, sabem que estão lutando pele sobrevivência – lembrando que uma franquia está sob o controle da NBA por motivos de má gerência: o New Orleans Hornets.
A volta da NBA trouxe júbilo aos jogadores que pensaram que corresponderiam o amor ao basquete jogando em outras partes do mundo, mas só encontraram longas viagens de ônibus, hoteis paupérrimos, nível baixo de competição e goteiras em ginásios. O esporte era o mesmo. Basquete. Só que não era o basquete da NBA. Salário semelhante. Só que não era dinheiro da NBA.
Após esta parada na relação, um tempo para reavaliar a vida e para onde ela guia, os donos receberam a confirmação que os jogadores irão se sentir melhor em franquias como Toronto Raptors e New Jersey Nets do que em clubes como Flamengo e Besiktas.
Entre os players, a NBA tem no seu time homens de alta qualidade: Adam Silver, Chefe Operacional da associação e Michael Jordan, dono do Charlotte Bobcats. Comandado por David Stern, comissário, arquitetaram uma grande vitória para as franquias e para a NBA, pondo fim a 149 dias de paralisação da melhor liga de basquete do mundo.
Os jogadores, mimados, queriam manter o mesmo acordo outrora em vigor, ficando com 57% dos lucros relacionados ao basquete produzidos pela associação; e para os donos os 43% restantes. Nada disto. Estes últimos firmaram forte nas negociações, se impuseram como lideres e os jogadores não sabiam o que fazer. Mais perdidos ainda por serem liderados pelo advogado David Boies, que no lockout da NFL defendeu os donos e agora estar do outro lado.
Boies aconselhou erroneamente a dissolução do sindicato, com os membros entrando em grupos na justiça contra a NBA reclamando por negociações injustas. Ele, do lado da NFL, não viu o que acontecera? Neste caso, os jogadores também processaram a liga, num tribunal no estado de Minnesota, e ganharam. Mas na seguinte instância, e em outros tribunais, os juízes favoreceram a NFL. Assim o publico se posicionou contra os jogadores, forçados a ceder e entrar num acordo com o comissário Roger Goodell e os donos dos clubes.
O mesmo ocorreria com a NBA: os jogadores poderiam até ganhar uma instância, porém no final das contas a razão estaria com os donos. Melhor então acertar o impasse antes de isto acontecer.
O que colaborou para o enfraquecimento dos jogadores a ter pouco poder nas discussões do novo acordo trabalhista foi a tímida participação dos membros. Alguns estiveram presentes todos os dias? Sim. Havia jogadores que sabiam de tudo que se passava? Sim. Grandes nomes da liga sentaram-se na mesa de negociações (LeBron James, Dwyane Wade e Carmelo Anthony)? Sim. Contudo muitos não estavam nem aí e outros tantos estavam se preocupando em acertar contratos com times europeus; inclusive Kobe Bryant, que só entrou no debate nos últimos instantes.
Eles, os jogadores, tentaram colocar na mídia que os donos estavam sendo gananciosos por quererem ganhar mais, ter maior parte nos lucros. Mas quem começou a negociação querendo 57% da fatia foram os jogadores... A estratégia não deu certo. A conclusão distribui os lucros de forma igual, 50-50, porém a favor dos donos. É, mesmo que os jogadores possam, hipoteticamente, ficar uma temporada com 1% a mais, o que só vai acontecer se o crescimento anual da liga exceder a meta, ou seja, se os donos conseguirem arrecadar o que pretendem - caso não, os donos ficam com 1% a mais.
Neste novo acordo os donos vão economizar anualmente US$ 300 milhões ao reduzir os salários dos jogadores. As franquias que mais fazem dinheiro terão que dividir uma parcela maior dos lucros com as franquias de médio/pequeno porte. Uma forma de tentar igualar a competição, o que não vai funcionar.
A NBA quer valorizar os times médios/pequenos, dá força a eles. De certa forma isto foi conseguido com esta divisão de lucros, mas a atenção ainda ficará com as franquias mais potentes e tradicionais. Este novo acordo de 10 anos, com os donos ou jogadores podendo rescindir após 6, cria uma tranquilidade nas redes de TV e patrocinadores ao saber que podem fazer um longo contrato por este determinado tempo. Não querem, entretanto, times de médio/pequeno porte nas finais, pois não atrai público, não atrai audiência.
Para a NBA a temporada passada foi um esplendor, com o trio de super amigos do Miami Heat (LeBron, Wade e Chris Bosh) chegando até à decisão. Isto trouxe para os ginásios e para os televisores torcedores que apoiavam as estrelas (muitos), assim como os que queriam que eles fracassassem (muitos também). Gerou na mídia uma grande cobertura que excedeu o âmbito esportivo – que para os patrocinadores significa mais exposição, mais grana.
Quem gosta de basquete admira o estilo de jogo do San Antonio Spurs e curtiu a dinastia texana na década passada – e os títulos em anos ímpares. Basquete bem jogado, tática perfeita... Porém sem atrativo algum ao grande público, com duas finais com a participação dos Spurs tendo as piores médias de audiência das finais na história da NBA: 2007 contra o Cleveland Cavaliers (6.2) e 2003 contra o New Jersey Nets (6.5) – como efeito comparativo, a média de audiência da decisão da temporada passada entre Dallas Mavericks versus Heat foi de 10.2.
O sucesso da NBA está atrelado ao bom desempenho das estrelas e das grandes equipes. Toda brincadeira tem um fundo de verdade, notório, e David Stern disse certa vez que a final ideal da NBA é o Los Angeles Lakers contra qualquer outro time... O que é verdade, apesar de que os Lakers podem ser substituídos por um clube grande e de tradição. Uma das alegrias do comissário é ver os Knicks com Amare Stoudemire, Carmelo Anthony e com o desejo de trazer Chris Paul. É imprescindível que o time de New York esteja bem para a NBA também estar bem. Isto vale para o pulo que os Bulls deram com o talento e fama de Derrick Rose; a NBA também precisa de um time competitivo em Chicago.
As franquias estão com uma meta: gerar lucro. Esta pressão vem com a assinatura deste novo acordo. Tudo foi moldado para isto ocorrer. Se for diferente, o plano B pode ser acionado.
As grandes franquias não vão ficar simplesmente "doando dinheiro" para os médios/pequenos e estes não fazerem nada, não colocarem em quadra um time forte e não conseguirem levar público ao ginásio para consumir produtos. O temido assunto da contração, que vem a ser a eliminação de franquias da NBA, surgirá com força. Por isso a responsabilidade dos times menores é considerável, sabem que estão lutando pele sobrevivência – lembrando que uma franquia está sob o controle da NBA por motivos de má gerência: o New Orleans Hornets.
A volta da NBA trouxe júbilo aos jogadores que pensaram que corresponderiam o amor ao basquete jogando em outras partes do mundo, mas só encontraram longas viagens de ônibus, hoteis paupérrimos, nível baixo de competição e goteiras em ginásios. O esporte era o mesmo. Basquete. Só que não era o basquete da NBA. Salário semelhante. Só que não era dinheiro da NBA.
Após esta parada na relação, um tempo para reavaliar a vida e para onde ela guia, os donos receberam a confirmação que os jogadores irão se sentir melhor em franquias como Toronto Raptors e New Jersey Nets do que em clubes como Flamengo e Besiktas.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
© 1 Streeter Lecka / Getty Images
Um comentário:
Excelente matéria!
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