A coisa mais importante entre as coisas menos importantes

11 de Setembro de 2001.

Neste dia faltei na escola, um direcionamento do destino para que pudesse acompanhar uma fatalidade que marcou minha vida até hoje; e marcará sempre. A visão da CNN me transportou até New York e mesmo de longe senti a dor, o baque de um inescrupuloso ataque. Assistir aquela tragédia se desenrolar, as Torres Gêmeas caindo... Agora são tristes lembranças.

No dia seguinte fui à escola, as duas primeiras aulas foram de inglês. Lógico, nada de verbo “to be” na lousa e sim um debate sobre a representatividade de tamanha atrocidade e impacto que iria desencadear. Lembro com clareza das manchetes dos principais jornais paulistanos, das fotos estampadas na capa... Agora são lúgubres memórias.

Entre as notícias sobre o ataque terrorista, me interessava uma óbvia coisa: e os esportes americanos? Os jogos serão interrompidos ou não? Conforme o desenrolar das informações, o inevitável aconteceu: um final de semana completo sem jogos profissionais.

Cada liga principal dos EUA tomou uma atitude, eis as mais notórias:

NBA: Eventos que seriam organizados no domingo (16) foram cancelados – ente eles o encontro anual dos novatos. As reuniões da liga que começariam naquela semana foram adiadas para o dia 20/09. O dono do Dallas Mavericks, Mark Cuban, doou US$ 1 milhão para as famílias vitimadas.

MLB: 6 dias sem jogos (de 11 a 16 de Setembro). Durante o restante da temporada todos jogadores usaram uma bandeira americana no boné e nas costas do uniforme. O New York Mets doou US$ 1 milhão de dólares às vitimas, mesma quantia doada pelo New York Yankees.

NFL: Cancelou todos os jogos da semana 2.


Ficar sem esportes é uma ocasião rara nos EUA, só ocorrendo em casos graves. Em 1918 a temporada da MLB foi resumida devido a Primeira Guerra Mundial. Alguns jogos foram cancelados por luto à morte do presidente Franklin Delano Roosevelt em 1945. Porem quando John Kennedy morreu, em 1963, o esporte não parou. Impedir a disputa de partidas esportivas pós 11 de Setembro foi uma atitude correta?

Há o argumento válido de que o esporte é um escape, um lazer que tira da rotina, causa entretenimento. Então os jogos poderiam aliviar a dor que os americanos sentiam naquele momento? Caso sim, como fica o respeito às vitimas e ao país, alvo de um furioso ataque? Suspender os eventos acabou sendo a atitude mais viável e admirada.

Ao retomar às atividades, foi possível atentar para a importância do esporte no cotidiano de algumas pessoas. Claro que há prioridades mais essenciais, contudo ir à um estádio e torcer para seu time de coração tem uma emoção complicada de mensurar; quem gosta sabe. O curioso é que com os times de New York participantes da MLB (Yankees e Mets), houve uma recepção inédita e carregada de comoção.

O primeiro jogo realizado em New York pós-ataque foi numa sexta, dia 21 de Setembro. Quem recebeu a partida foram os Mets, atuando contra o rival Atlanta Braves. Ver este confronto pela televisão foi especial, pois algo fantástico aconteceu naquela noite.

A atmosfera no antigo Shea Stadium era peculiar. Os que não torciam para os Braves olhavam para o time azul e laranja e não gritavam por “Mets” e sim pelo que estava escrito antes do apelido: New York. O espírito forte de união sondava o time local, mas perdia por 2 a 1 até a oitava entrada. Aí a mágica surgiu e um dos momentos mais emocionantes da história do esporte mundial estava sendo escrito:



Mike Piazza, catcher, anotou um HR de duas corridas colocando os Mets à frente (3 a 2), resultado final da partida. A comemoração dos torcedores é chamativa pela explosão de alegria misturada com uma ponta de indignação guardada no peito, ambas expulsas de dentro através de um uníssono grito.

Os Yankees, uma das franquias mais valiosas dos EUA e de enorme torcida, odiada pelos rivais em proporção similar ao sucesso que tem, foram recebidos em estádios fora de casa com um calor incomparável. A primeira série dos Yankees pós-ataque foi contra os White Sox em Chicago e lá se viu um emblemático cartaz: “We are all Yankees” (tr. “Somos todos Yankees”).

O esporte cura; tem este poder. Apesar do descaso que há, de pobres atitudes comportamentais daqueles que estão no meio, essa mística não será perdida. Dez anos após a queda das torres, os mesmos esportes que pararam vão prestar homenagens e recordarão a horrorosa tragédia. Gesto que diretamente pode não ter valor, mas carrega consigo um incalculável preço de honra e respeito.

O esporte não é tudo, mas também não é nada. Não é fundamental, mas é necessário. Não é caso de vida ou morte, mas a vida e morte são representadas nele. 11 de Setembro traz em si pavor, perturbação, espanto. Não importam quantos anos se passaram. Neste final de semana as ligas vão buscar venerar os heróis daquele dia e mencionar os que partiram de forma tão calamitosa.

Por mais que seja tão distante de mim e de alcance tão longínquo, as lembranças ainda são tristes e as memórias ainda são lúgubres.


(GL)
Escrito por João da Paz


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Um comentário:

Nathan Henrique disse...

Bela matéria. RIP 11 de Setembro, eu tava vendo Dragon Ball Z quando aconteceu aquela chamadinha do plantão da globo.

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