E se André Rienzo e Yan Gomes não fossem brasileiros?


O patriotismo tupiniquim é esquisito, contudo tem raiz num paternalismo natural de defender o que é seu sem medir consequência – não que isso seja certo. Características que se misturam em manifestações ditas a favor do país, mas que destroem bens públicos ou que pertencem a outrem. Traços aflorados em eventos esportivos no canto do hino à capela. Traços evacuados em tempos de eleição, vencidos pela preguiça de exercitar o pensamento crítico.

Nos eventos esportivos é nítido observar a proteção e exaltação exacerbada pelos brasucas que desfilam habilidades ao redor do mundo, refletindo o proliferado em nossa terra pela cobertura local de times de futebol que priorizam justamente os times locais. Há aí o perigo do ufanismo e da visão distorcida dos fatos em prol de ressaltar o produto oriundo da raiz.

A NBA experimentou o fútil, o medíocre e o complexo de vira-lata às avessas dos brasileiros, exemplificados no tratamento dado aos jogadores Leandrinho e Nenê. A MLB é a próxima liga americana que pode sofre desse mal que vem de baixo da linha do equador. Isso pela dupla André Rienzo (25 anos, Chicago White Sox) e Yan Gomes (26 anos, Cleveland Indians), nascidos no Brasil e hoje membros da liga de beisebol que tem como sede os EUA/Canadá e jogadores de todas as partes do mundo (Itália, Alemanha, Holanda, Austrália, Arábia Saudita...).

A terra brasilis com esses dois representantes marca seu espaço num esporte que tem grande potencial de crescimento no país do futebol. As franquias da MLB há anos estão de olho nos talentos daqui não por caridade, e sim pela qualidade que os jogadores têm e pelo lucro/sucesso que podem trazer aos clubes da liga.

O pensamento nacionalista radical cega aqueles que bebem dessa água, impedindo de enxergar o que de fato acontece e abraçam ideia utópicas, colocando Rienzo e Gomes como os semideuses do esporte. Dessa forma não são feitas as análises corretas e precisas.

E se Rienzo e Gomes não fossem brasileiros?

Ajudaria a entendê-los melhor, sem dúvida – e sem a vigente patriotada infundada.

Rienzo é o melhor exemplo. O pitcher é fruto de um trabalho extenso dos White Sox depois do garimpo em toda a América Latina. O clube deixou de lado esse método de recrutamento no começo dos anos 00’s e retomou em 2004 com a contratação do olheiro Dave Wilder (diretor de desenvolvimento de jogadores), responsável por avaliar adolescentes de 16-15 anos nos países latinos. Apesar da pouca tradição, o Brasil entrou na rota, mesmo a prioridade sendo Venezuela e República Dominicana. O beisebol na República Dominicana é igual ao futebol no Brasil.

Esse tipo de recrutamento não é uma tarefa fácil, pois são vários olheiros ligados nos mais jovens craques do beisebol e muitos empresários querendo tirar proveito (dinheiro). Então Wilder entrou na onda da corrupção e supervalorizou a compra dos jogadores que os White Sox contratavam, ficando com o excedente para repartir com os atravessadores no esquema. Em Março de 2008 Wlider foi preso na alfândega americana no Aeroporto Internacional de Miami por tentar entrar nos EUA com cerca de 40 mil dólares em dinheiro vivo não declarado. O Departamento de Justiça passou a investigar o caso e Wilder deixou a organização.

A contratação de Rienzo (e Anderson Gomes e Murilo Gouvea) está nesse rolo de Wilder. Rienzo foi contratado em 17 de Novembro de 2006. Apesar da confusão toda, o jogador não tem nada a ver com isso e dos três, Wilder acertou pelo menos um.

Rienzo chegou aos White Sox com 18 anos e o planejamento da franquia deu certo. Sete anos depois ele estreou na MLB, preparado para permanecer em Chicago por um longo tempo. Rienzo não é um cara que surgiu “do nada” – ou está na MLB por ser brasileiro. Os White Sox trabalharam duro para preparar um pitcher de alto nível. Nem mesmo o doping no ano passado (punição de 50 jogos nas ligas de base) foi empecilho. Acreditaram em Rienzo, afinal sabiam do que ele podia entregar para o time.

Agora o futuro só depende de Rienzo. Os White Sox fizeram de tudo para dar condições de se concentrar somente em arremessar. De Rienzo depende se será um titular ou um reliever. A situação atual o favorece, visto que Rienzo está na rotação dos pitchers titulares (na quinta posição), atrás de José Quintana, John Danks, Hector Santiago e Chris Sale. Seu desempenho neste final de temporada vai ser a mediação da capacidade de Rienzo de ser um pitcher dentro da rotação no começo do campeonato de 2014 ou um reliever de 7ª ou 8ª entrada.

Anos e anos passaram até Rienzo ter a oportunidade de atuar na MLB. O acaso não é o responsável por Rienzo, tampouco por Yan Gomes. Ambos atingiram o atual patamar que desfrutam por méritos. Ambos são jogadores da MLB. Nada mais, nada menos.

Yan Gomes foi duas vezes All-American (nomeado entre os melhores jogadores universitários) por dois anos: um defendendo a Universidade de Tennessee e outro pela Universidade Bradley. Atleta extremamente voluntarioso e disposto, com habilidade para jogar bem como catcher ou 1B. No ano passado, em Toronto, ele apareceu para a MLB e foi trocado para o Cleveland Indians. Hoje Gomes é um dos nomes mais sólidos na equipe e a franquia quer mantê-lo por muito tempo – não por ser brasileiro, mas pelo seu trabalho e dedicação.

Com a estreia de Rienzo frases simples passaram a ser ridículas pela desnecessária ênfase dada na entonação, similar com o que aconteceu no primeiro jogo de Gomes. “O primeiro strikeout de um brasileiro na MLB”, “o primeiro cuspe de um brasileiro no montinho da MLB”, “o primeiro ... de um brasileiro na MLB”; e outras baboseiras.

O efeito pernicioso da patriotada tem poder de embriagar, fazendo com que se enxerguem coisas que não são reais. Rienzo e Gomes são jogadores utilitários na MLB, assim como tantos outros entre 120 poucos jogadores (Mike Moustakas, Darwin Barney, Bud Norris, Felix Doubront...).

Quem quiser beber o drink ufanista fique à vontade. Mas tomar um gole de realidade é mais saboroso e faz bem.


(GL)
Escrito por João da Paz

2 comentários:

pedro disse...

joão qual dos 2 tem mais futuro na liga?

João da Paz disse...

Pedro,

Ambos terão sucesso relativo na MLB, mas acredito que o Yan Gomes tem mais chances de ser titular - Rienzo deve ser um reliever.

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